Olá FlatOuters! Depois de um tempinho sumido, retorno neste espaço gearhead para dar continuidade aos detalhes da minha história com o VW SP2. Para quem está chegando agora e ainda não conhece esse ProjectCar que envolve dois carros, fica o convite para ler as 3 (três) partes anteriores clicando aqui.
Na terceira postagem tentei trazer, com riqueza de detalhes, o início da restauração do Robert (VW SP2 – 1974), contando sobre a sua desmontagem e o processo de recuperação de sua lataria. Chegou a hora de avançar a história e contar o resto desta epopeia, estão preparados?
Preparação e pintura do VW SP2 1974, o Robert
Finalizada a funilaria completa (exterior, interior e chassi), chegou a hora de preparar o carro para a pintura.
As etapas de preparação para a pintura devem ser realizadas com muita atenção, pois representa mais um divisor de águas para o sucesso da restauração.
Digo isso pelo seguinte, encerrada a funilaria, para alcançar a perfeição do alinhamento, sobre a lataria deverá ser passada uma finíssima massa de poliéster com a finalidade de acertar o alinhamento do carro.
É aqui que mora o perigo!!! Sim, todos os carros exigem a aplicação de massa poliéster. Todavia, nessa etapa da restauração você identificará o verdadeiro restaurador que faz um uso milimétrico, representando uma verdadeira linha reparadora (conforme a foto abaixo), dos pseudorestauradores que parecem mais com “pizzaiolos” que enxertam criminosamente quilos de massa no carro (como fizeram no Dionísio – VW SP2 1975).
O uso em excesso de massa é algo que, lamentavelmente, é utilizado por oficinas despreocupadas com a ética. Finalizada a pintura, é quase imperceptível a identificação de tal crime, mas em pouquíssimo tempo surgirá trincas por todo o carro. Exigindo o proprietário realizar todo o serviço novamente…
Na figura de alguém que passou com isso (no início da restauração do Dionísio), fica minha recomendação para que tomem muito cuidado com os profissionais que vocês elegem para mexer em suas preciosidades.
Feita a aplicação correta e moderada de massa poliéster, o carro deve passar pelo lixamento, retirando eventual excesso e acertando o máximo possível o seu alinhamento. Com o primer seco, deve ser feita uma nova matarona de lixamento, proporcionando o máximo de alinhamento e lisura ao carro… Finalizado esse processo o carro será preparado para a pintura!
Lixando mais uma vez o carro e corrigindo as imperfeições encontradas, o resultado foi esse:
Considerando a cor branca do carro, após a preparação para a pintura, ele passou por um novo processo de lixamento e recebeu uma base branca antes de receber a pintura original.
A participação neste espaço do Flatout também ficou registrado no carro!
Ah… Estava me esquecendo de citar um fato, essas fotos foram tiradas faltando 30 dias para o “III Encontro Mundial do VW SP2”, havia a compromisso de todos os envolvidos de que meu carro iria nesse evento de qualquer jeito.
Para fazer aquela pressão, coloquei o banner do evento ao lado do carro:
Aqui um detalhe importante, um dos motivos que me levaram escolher a oficina “autopadrão”, além da competência dos profissionais, foi a infraestrutura que encontrei. Para a pintura do carro, eles possuem uma estufa de primeiro mundo… refletindo diretamente na qualidade e no resultado do serviço.
Para a pintura completa de qualquer veículo, a qualidade da estufa refletirá no serviço, pois a pintura deve ser realizada em ambiente fechado, longe de umidade, baixa temperatura e principalmente poeira. Ah… jamais utilize tinta sintética, dê preferência sempre a base de tinta de poliuretano (“PU”).
A cor eleita para o Robert foi o “branco lótus”, sua cor original. Uma curiosidade sobre essa cor é que se trata da única coloração adotada ao longo de todos os anos de produção do VW SP2. O resultado ficou muito bom!
Um ponto bacana também é que essa cor está na moda novamente!! No mundo automobilista diversas empresas voltaram a incluir o branco lótus em seus catálogos, chamando-o agora de “off-white”.
No caso Robert, foram aplicadas 5 (cinco) demãos de tinta, criando uma camada bem consistente da pintura. Entre cada demão é necessário esperar a secagem da camada anterior.
Finalizada a pintura, o carro passou por mais um processo rigoroso de lixamento, retirando, praticamente, uma camada da tinta. Contudo, esse processo se deu com o intuito de alcançar o máximo de perfeição da lisura e reflexo da pintura.
O resultado, caros leitores, foi extremamente positivo, conforme vocês podem acompanhar pelas fotos a seguir.
Procedimento idêntico foi adotado para as portas, tampa do porta malas e capô
Com isso mais uma etapa foi concluída com sucesso!
Explorando a personalidade do Robert: tornando meu SP2 único
Na postagem anterior foi apresentado meu projeto para o Robert: Um carro inteiramente original, mas que ao mesmo tempo tivesse personalidade própria, se destacando e diferenciando entre seus pares.
Eis que surge a pergunta mágica: Como modificar o carro sem tirar a sua originalidade???
A resposta para alcançar esse objetivo foi muito simples: A necessidade de localizar itens de série raros que equipavam o carro na época de sua produção.
Se eu conseguisse acumular alguns desses itens, eu tornaria o Robert em um carro único e diferenciado.
Contudo, em que pese a simplicidade da teoria, colocar essa ideia na prática não foi nada fácil. Mas acredito que os deuses da ferrugem me deram uma ajudinha para conseguir concluir essa etapa.
Nesse sentido, posso destacar 3 (três) itens que certamente tornam o meu VW SP2 1974 único e diferenciado: As rodas de liga leve, os vidros verdes “Santa Marina” e as assinaturas dos projetistas.
As rodas de liga leve do VW SP2
Esse item é o causador das maiores lendas deste simpático carrinho: As rodas de liga leve do VW SP2.
No meio antigomobilista muito se falam dessas rodas… Os entusiastas questionam principalmente se é um item de série ou um opcional de época???
Por meio de muitas pesquisas e estudos (prática corriqueira para quem tem interesse em uma restauração original!) descobri o seguinte:
As rodas em referência estavam presente no modelo de apresentação do VW SP2:
Outra curiosidade é que o veículo utilizado no manual do carro de 1973 em diversas páginas mostram a mesma roda de liga leve. Por fim, a roda de liga leve está presente no catálogo de peças do VW SP2, indicando a sua numeração.
Além disso, o carro do manual também possui essa mesma roda em diversas páginas:
Por fim, essa roda consta no catálogo de peças do VW SP2, inclusive indicando a sua numeração de FÁBRICA:
Portanto, trata-se de uma peça exclusiva do VW SP2 que lhe acompanha desde a sua montagem. Logo, essas rodas encaixam-se perfeitamente no conceito de algo “diferenciado”.
E agora, como conseguir essas rodas?? Verdadeira mosca branca de olhos azuis??
Com a ajuda do VW SP2 Club, especialmente do Amadeu Tobias, consegui realizar esse sonho e adquiri um jogo delas para o Robert.
Spoilers da próxima postagem!
Ainda sobre as rodas, elas foram objeto de uma excelente matéria da revista VW KLASSIK.
Os vidros verdes do SP2
Nos anos 70 um verdadeiro charme era equipar o veículo com vidros verdes. No caso do VW SP2 duas empresas eram responsáveis em produzir os vidros verdes, as empresas “vitroplex” e a “santamarina”.
A segunda empresa também era responsável em produzir os vidros transparentes (“normais”) e confeccionou em menor escala os vidros verdes. Ou seja, para tornar meu carro mais raro a ideia era conseguir as peças com logo marca da Santa Marina.
Como conseguir esse feito? Mais uma corrida homérica que terminou com a ajuda do Robert Harrison, outro sócio do VW SP2 Club.
O Bob é um típico inglês que veio para o Brasil na década de 70, se apaixonou pelo nosso País e por aqui ficou. Ele possui dois exemplares do VW SP2 em sua casa e muitas peças em sua garagem. Durante uma visita, eis que encontro um jogo zerado dos vidros verdes que procurava no meio de suas coisas. Depois de muita conversa, acabou que o Bob fez um negócio de “pai para filho” para eu fechar o negócio.
F-E-L-I-C-I-D-A-D-E resumida em uma foto:
Assinaturas dos projetistas do VW SP2
Lembram-se que os projetistas Marcio Piancastelli e Jotta estiveram presente no 1º Encontro Mundial do VW SP2 (não lembram? Clique aqui). Naquela oportunidade, eles assinaram aproximadamente 30 exemplares, dentre eles os meus dois carros.
Uma das principais complicações da restauração do Robert foi justamente preservar o local da assinatura ao longo do processo de restauração. Ao final deu tudo certo e eu consegui manter a assinatura íntegra e original.
Com isso, me sinto emocionado e ao mesmo tempo honrado em possuir um dos pouquíssimos modelos que tiveram o privilégio de ser assinado pelos seus projetistas.
Logo, ao conseguir as rodas de liga leve, os vidros verdes “Santa Marina” e as assinaturas dos projetistas, meu carro tornou-se único e diferente dentre os seus pares.
Próximo passo, dar prosseguimento no projeto com a realização da elétrica, mecânica, tapeçaria e montagem, mas isso será assunto para um próximo post não é mesmo? Afinal, tudo pode acontecer…
Peraí! Vai acabar assim essa postagem? Esse ProjectCar não envolve dois carros?
Então galera…
A situação do Dionísio (SP2 – 1975) é bem mais complicada!
Os enxertos de massas que foram feitos nele, condenaram mais ainda a sua estrutura e o processo de restauração ficou extremamente complexo.
Basicamente, a restauração do carro vai exigir a troca de pelo menos 85% da lataria. Algo difícil e moroso. Contudo, tenho fé que voltarei a andar no meu “primeiro carro” um dia.
Para essa difícil missão o carro foi enviado para Guarulhos/SP em uma oficina especializada em VW SP2.
Profissional novo apresentado ao Dionísio, o primeiro passo foi lixar toda a massa existente… haja lixa!!!
A parte eleita para iniciar os trabalhos de recuperação da lata foi a traseira, para isso foram retiradas as estampas externas para a sua devida recuperação e também para o tratamento da parte interna.
Na parte interna foi feita uma limpeza profunda na peça retirando todos os podres e imperfeições.
Feito isso, a peça foi tratada com produto antiferrugem, garantindo a durabilidade do serviço realizado e proteção da lataria.
A estampa externa também passou por um rigoroso processo de recuperação
Importante observar a troca de todos os pedaços de metal que apresentavam ferrugem, inclusive em alguns trechos foi refeita a peça em sua integralidade, como caso da região do facão:
Após os devidos reparos na lataria, todas as peças passaram por um banho de antiferrugem com o fim de proteger o metal.
Por fim, as estampas externas foram novamente soldadas no carro, executando o mesmo serviço que era realizado na montagem original do carro.
A próxima etapa foi a frente do carro, acredito que o ponto mais crítico desta restauração, pois exigiu a troca completa da lataria. Considerando o estado crítico em que se encontrava, a lataria foi completamente removida.
Assim sendo, coube ao funileiro, artesanalmente (vida a old school!!!), fazer uma nova frente para o Dionísio.
E assim, chegamos ao fim de mais uma postagem e com a promessa de que o próximo capítulo ainda será publicado este ano. Um grande abraço galera!
Por Fred Martos, Project Cars #151