Que o Dodge Viper é old school até as junções de seu chassi não restam dúvidas. Mas sua versão ACR poderia ter cedido aos apelos da modernidade, ganhando um câmbio automático de dupla embreagem para ser ainda mais rápido. Não foi o que aconteceu, felizmente (Save the manuals!), e o modelo conservou sua transmissão manual de seis marchas Tremec TR6060. Ao contrário de uma série de marcas e modelos.
Já tratamos do assunto numa reportagem em que Porsche, Ferrari, Aston Martin e Mercedes-Benz justificavam por que resolveram aposentar o câmbio manual em determinados casos. Nossa conclusão? O pedal de embreagem é o disco de vinil automotivo — algo reservado aos entusiastas que desejam uma experiência mais imersiva e envolvente.
Um papo recente com o pessoal da Porsche no Brasil dá bem a medida disso. Todos os Porsche 911 Carrera S, a versão mais em conta vendida oficialmente por aqui, vêm com o PDK, o Porsche Doppelkupplungsgetriebe, um automático de dupla embreagem. Mas poderiam vir com câmbio manual, se os clientes pedissem. O negócio é que pouquíssimos compradores fazem isso.
Voltando ao Viper ACR, não sabemos se ele não sucumbiu à tentação por alguma dificuldade técnica (encontrar um automatizado/automático que suportasse 83 mkgf de torque) ou por convicção. O caso é que muitos esportivos resistem à tendência atual em prol dos câmbios de dupla embreagem e mantém o “disco de vinil automotivo” à venda. Mas quem mais, além do Viper ACR, mantém a tradição? Veja abaixo alguns bons exemplos:
Aston Martin V8 Vantage
Bastião da resistência dentro da marca britânica, o V8 Vantage é o único oferecido apenas com transmissão manual. O V8 Vantage Roadster já oferece a opção de um automático e, daí em diante, todos usam o câmbio Sportshift, como a Aston batizou seu sistema de dupla embreagem.
Porsche 911 Carrera
Lançado em 2011, o 991, como é chamada a sétima geração do esportivo, se manteve fiel às tradições. Motor traseiro e câmbio manual, mas, agora, de sete marchas. E nem precisava de tantas, já que a velocidade máxima é atingida em sexta. A sétima serve apenas como um overdrive.
Até existe a opção do PDK (Porsche Doppelkupplung, a transmissão de dupla embreagem da marca) e, com ela, o Carrera é 0,2 segundo mais rápido, mas 2 km/h menos veloz.
Chevrolet Corvette C7
Outro manual de sete marchas, o Corvette C7 tem dois modelos de transmissão, uma para a versão de entrada, a Stingray, e uma para a Z06, de alta performance. Mas tem câmbio automático para quem só quiser saber de desfilar com o esportivo. Opcional. E é de oito marchas.
Porsche Cayman/Boxster
A versão GT4 do cupê só é vendida com câmbio manual. Todas as demais dos dois irmãos (comum, S e GTS) trazem câmbio manual ou PDK, ambos de seis marchas.
Lotus
Na marca de Colin Chapman, câmbio automático não entra. No máximo um sequencial, para o Evora GT4 — que é opcional, também no Evora. Elise e Exige passam longe de não ter pedal de embreagem.
BMW M3 e M4
Tanto o sedã quanto o cupê têm transmissão manual de seis marchas, além da DKG, de dupla embreagem. Daí para cima, pode esquecer o terceiro pedal. M5, M6 e o futuro M7 ficam apenas com as opções sem embreagem. M5 e M6, como bem lembrado por Lucas França, têm a opção de manual só nos EUA. Fica pra registro. Aqui, que é bom, nada.
Ford Mustang
O pony car da Ford pode até ter perdido o eixo traseiro rígido, algo que muitos apaixonados pelo carro lamentaram (acredite), mas não o câmbio manual. A transmissão de seis marchas continua em oferta do modelo mais em conta até a GT Premium.
Dodge Challenger
Na Dodge, a história é diferente. Para os modelos de entrada, o único câmbio oferecido é um automático de oito marchas. Da versão R/T até a SRT Hellcat, porém, todos vêm com a transmissão Tremec de seis marchas. O automático vira opcional.
Chevrolet Camaro
Todo mundo costuma dizer que americano é fã de automático e que alguns não sabem nem sequer usar um manual, não é? Mas é no Brasil que o Camaro só é oferecido com câmbio automático. Nos EUA, todos vêm com câmbio manual de seis marchas. Opcional é o automático, também de seis.
Toyobaru
Vendido como Subaru BRZ, Scion FR-Z e Toyota GT86, o Toyobaru nasceu para resgatar uma tradição abandonada pela Nissan, a dos Z. Ele é leve, tem tração traseira e é divertido de dirigir. Também deveria ser barato, mas parte de US$ 25 mil (mais caro que Mustang e Camaro), o que o torna menos acessível, nos EUA, do que ele foi pensado para ser. O GT86 não é vendido por lá, apenas na Europa, onde a marca Scion não existe.
O fato é que todos os três modelos vêm, de série, com transmissão manual de seis marchas. E com a opção de um automático tradicional.
Nissan 370Z
A marca japonesa pode até ter perdido a receita do bolo que a fez popular nos EUA nos anos 1970, mas não dá para dizer que ela não tenta se manter atenta a quem gosta de dirigir. A versão de entrada do 370Z vem de série com câmbio manual de seis marchas e a opção de um automático. A transmissão, chamada de SynchroRev Match, faz punta-tacco para o motorista, acelerando sozinho nas reduções.
Que outro modelo merecia estar nessa lista? Quem ainda resiste a tirar do motorista mais essa forma de integração com o carro que é o câmbio manual?