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Car Culture

SCG003: todos os detalhes do novo supercarro à moda antiga de Jim Glickenhaus

Para a maioria dos petrolheads, o clímax de toda uma vida poderia ser a chance de dirigir um supercarro exclusivo baseado na Ferrari Enzo. Para uns poucos, seria ter a oportunidade de criar este carro, encomendando-o à Pininfarina, como fez James Glickenhaus (Jim, para os amigos) com o P4/5.

Mas quem acha que um cara tão inquieto quanto o sr. Glickenhaus se daria por satisfeito com isso pode esquecer. Fora outras estripulias das mais divertidas, como livrar a cara de um Milles Davis acidentado quase branco de tanta cocaína, ele resolveu há 18 meses que nenhum dos supercarros atuais era bom o suficiente. Ou eles são para a rua ou são para as pistas — já não há mais carros como os protótipos dos anos 1950 e 1960, que podiam sair da pista e ir para as ruas com pouquíssimas modificações.

Foi o que o motivou a desenvolver o SCG003, um supercarro inspirado nos protótipos das séries LMP1/LMP2, mas que pode ser dirigido nas ruas. Mais do que isso, ele não será exclusivo como o P4/5: ele será fabricado e vendido em pequena escala.

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SCG quer dizer Scuderia Cameron Glickenhaus. O número 003 faz referência ao terceiro projeto da equipe de competição, que conta com a ajuda de Paolo Garella em sua execução. Em 18 de dezembro de 2013, Glickenhaus, que é investidor financeiro e também já foi diretor de cinema, anunciou oficialmente o projeto. O carro, segundo ele, deveria ser um GT, do tipo que leva o piloto de casa ao autódromo, participa da corrida e volta para casa. Mas a máquina também não poderia matar o dono de vergonha.

Para ajudar neste ponto, Jim contratou os designers Lowie Vermeersch e Goran Popovic, do Granstudio, para dar ao supercarro uma aparência condizente. Não sem a aprovação dos engenheiros da Podium Engineering, que contaram com a assistência de Paolo Catone, pai dos Peugeot 905 e 908 HDi FAP. Dá pra dizer que os caras abusaram de seu direito de acertar a mão.

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O chassi, feito todo de plástico reforçado por fibra de carbono, teve sua configuração final divulgada em julho de 2014. É como um esqueleto, cujas costelas sustentam a carroceria, um estilo típico dos carrozzieri italianos. Considerando o material empregado no chassi, foi a junção de soluções modernas e tradicionais da qual o SCG003 se orgulha. As suspensões dianteira e traseira são por braços duplos em A com pushrod e barra estabilizadora ajustável. Melhor do que a descrição do sistema é vê-lo em ação, como nestes vídeos que a SCG preparou:


Além da fibra de carbono, o modelo tem algumas outras coisas especiais, como o para-brisa de 3,5 mm de espessura feito de Gorilla Glass estratificado, o mesmo material teoricamente inquebrável das telas de celular. Nas portas, policarbonato de 3 mm faz as vezes de janelas. Existe apenas um limpador de para-brisa, e os faróis são quatro, de xenônio, fabricados pela Hella. Veja como as portas se abrem no vídeo abaixo:

Uma curiosidade: o modelo tem retrovisores externos, mas também conta com câmeras e monitores no interior do veículo para compensar a falta de um vidro traseiro.

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Como um carro de corrida teria direção extremamente pesada para uso no trânsito comum, o sistema de direção Woodward conta com assistência eletro-hidráulica. O banco concha, sem revestimento, tem cintos de seis pontos. E esse é o menor dos problemas de quem quiser entrar e sair do SCG003, pois ele tem apenas 1,11 m de altura.

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O motor do SCG003 é um V6 3.5 Honda de competição, originalmente criado para pilotos das 24 Horas de Daytona, com dois turbos e dois intercoolers, e modificado pela Autotecnica Motori para render 530 cv a 6.800 rpm e 71,4 mkgf a 4.500 rpm. O câmbio é Hewland, o LWS sequencial de seis marchas, com sistema pneumático de trocas e paddleshifts. A transmissão pesa apenas 69 kg, se for a de carcaça de alumínio, ou 63 kg, se ela for de magnésio. Como prova de que o SCG003 pode ser usado nas ruas, ele tem marcha à ré.

Os discos de freio, de ferro, são de 378 x 35 mm na dianteira, com seis pistões, e de 355 x 32 mm na traseira, com quatro pistões. Com 4,81 m de comprimento e 2 m de largura, o peso bruto do SCG003 é de 1.350 kg, quase o mesmo de um Chevrolet Cruze. A distribuição de peso é de 49% na dianteira e de 51% na traseira, com uma carga aerodinâmica de 52% na frente e de 48% atrás. As rodas, de aro 18, usam pneus 300/680-18 no eixo dianteiro e 310/719-18 no eixo traseiro. Isso quando o carro for usado em competições. Para o dia a dia, a SCG ainda não divulgou especificações.

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Em março deste ano, no Salão de Genebra, foram revelados os dois modelos que serão vendidos, chamados agora de SCG003C (de Competizione) e SCG003S (de Stradale, o de rua), mas, teoricamente, tanto o C pode ser legalizado quanto o S pode ser usado em corridas. É mais questão de conveniência do comprador, e para que ele pretende usar mais o carro inicialmente. Basta desmontar ou montar a gaiola de proteção e trocar os pneus para os mais adequados a cada caso. E esse é um processo simples, como mostra o vídeo abaixo.

Glickenhaus disse que queria que seu carro pudesse ser consertado por seres humanos, sem a ajuda de scanners e outros subterfúgios modernos. E ele já definiu que vai dirigir seu SCG003S em Nova York no final de 2015, quando as entregas do modelo para seus compradores tiverem início, e também que vai correr com o SCG003C nas 24 Horas de Nürburgring, de 14 a 17 de maio.

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Os clientes do carro podem personalizá-lo à vontade, incluindo o que a imaginação mandar e o projeto e o orçamento permitirem. O que se sabe é que, como ele está, com ar-condicionado, mas sem airbags e outros auxiliares eletrônicos de segurança, será vendido por US$ 2,4 milhões. Em outras palavras, só pra começar a brincadeira…

Nos EUA, ele poderá ser vendido como modelo artesanal, o que o SCG003 não deixa de ser. Quem o comprar levará de brinde os projetos das peças, caso alguma se quebre e seja preciso reconstruí-la quando a SCG não estiver mais por aí para dar assistência. Em teoria, será possível até reconstruir o modelo com os projetos, se o comprador assim o desejar. Não sabemos se Glickenhaus teria algum problema com isso. Para um cara que já realizou os sonhos mais legais do mundo sobre rodas, proteger este projeto da pirataria talvez não seja algo que realmente importe.

Veja abaixo uma galeria com fotos do que promete ser um dos melhores supercarros do mundo. Gordon Murray, pai do que pode ser chamado de o maior de todos os tempos, o McLaren F1, já falou que os novos esportivos são “monstros híbridos”, o que inclui o McLaren P1. Sobre o modelo de Glickenhaus, suas palavras foram essas: “Eu adoro o SCG003. Ele é realmente interessante, um carro baseado numa arquitetura de protótipo que pode ser pilotado em um circuito. É uma abordagem completamente contemporânea de como os carros de corrida e as provas em si costumavam ser”. De olho nas imagens, dá para entender de onde vem esta paixão.