Nos últimos anos foram raras as vezes em que algum texto falou do Brasinca 4200GT sem mencionar a coincidência estilística com o britânico Jensen Interceptor. Até mesmo a busca do Google sugere uma relação entre os dois modelos.
Há algumas semanas escrevi sobre o grã-turismo britânico no Jalopnik, mas omiti propositalmente a suposta relação com o Brasinca, e não foi apenas porque acho o assunto saturado. Na verdade, foi porque há um terceiro carro muito parecido com o Jensen e com o Brasinca, que é ignorado por praticamente todos os textos que encontrei, ainda que esse terceiro modelo tenha surgido antes da dupla quase gêmea. Você faz ideia de qual carro estou falando?
Veja só: o Brasinca 4200GT foi lançado em 1964, e tinha para-brisa traseiro envolvente, capô alongado, respiros atrás dos arcos dos para-lamas dianteiros e coluna C triangular. Dois anos depois, os britânicos da Jensen lançaram o Interceptor, com linhas traçadas pela lendária Carrozzeria Touring, porém com as mesmas características do cupê brasileiro idealizado por Rigoberto Soler.
Mas o que pouca gente lembra é que o Studebaker Avanti já trazia quase todos esses elementos estéticos em… 1962! Na verdade o design do Avanti foi traçado pelo presidente da Studebaker, Sherwood Egbert, durante uma viagem de avião em março de 1961, mas o modelo só foi lançado em abril de 1962, no Salão de Nova York.
Apesar de ser um dos Studebakers mais raros, ele teve pouco mais de 5.500 unidades produzidas, um número consideravelmente maior que a produção do Brasinca e do Jensen somados, suficiente para torná-lo mais conhecido que a dupla. Mas além disso, o Avanti foi considerado um marco industrial no período pós-guerra, e também ficou conhecido por seu desempenho matador, que quebrou 29 recordes de velocidade em Bonneville.
Nessa imagem abaixo temos os três carros na mesma posição para efeitos de comparação. Note que, enquanto a inclinação do para-brisa e o formato do quebra-vento do Jensen seja mais parecido com os do Avanti, o balanço dianteiro e traseiro e o entre-eixos do brasileiro é mais próximo do americano. Outra diferença é que o posto de condução do 4200GT fica mais próximo do eixo traseiro do que nos outros dois carros — ambos com quatro lugares.
Obviamente nada disso significa que houve plágio por parte de algum deles. O Brasinca usa o capô alongado devido ao comprimento do bloco de seis cilindros alinhados do motor Chevrolet 4.2, enquanto Jensen e Studebaker usam motores V8, bem mais curtos.
Além disso, essas são as proporções padrão dos grã-turismo da época (veja o Iso Grifo, de 1963, acima), e também é preciso lembrar que estamos falando do início dos anos 1960, um período muito influenciado pela corrida espacial, quando era comum imaginar carros com vidros envolventes como, por exemplo, o conceito Chevrolet Testudo, de 1963, entre vários outros.
Considerando tudo isso, é um tanto difícil (para não dizer arriscado) falar em cópia ou plágio de alguém — seja da Brasinca ou da Jensen —, especialmente considerando os envolvidos no design de cada carro: um respeitado professor de engenharia, no caso brasileiro; uma renomada carrozziere italiana no caso do Interceptor. O que temos aqui é claramente uma coincidência resultante do espírito de uma época — a mesma coincidência que faz a gente às vezes falar que tal carro moderno é a cara de outro em tempos de design modelado pelo vento.
Agora… só por curiosidade: de qual deles você gosta mais?