Quando a você era criança e não entendia nada sobre carros, talvez até achasse que quanto mais potente um automóvel, melhor ele era. E é claro que a cavalaria de um motor é, no caso dos esportivos, responsável por grande parte do apelo.
Lembra do Dodge Challenger Hellcat, e do Charger que veio depois dele? Claro que lembra! O primeiro nos pegou de surpresa se tornando o muscle car produzido em série mais potente do mundo, e o segundo fez a mesma coisa entre os sedãs. Eis o que 717 cv e 89,8 mkgf de torque são capazes de fazer — além, é claro, de tirar uma máquina de duas toneladas da imobilidade e, em um quarto-de-milha (402 metros), levá-la até os 200 km/h em menos de 11 segundos, ou até na casa dos 10s nas condições certas.
Estamos falando de um dos mais impressionantes motores do mundo: o V8 Hellcat, que dá nome ao carro, desloca 6,1 litros e respira melhor com um compressor mecânico para ilustrar o peso que números vistosos de potência e torque exercem sobre a imagem que temos de um carro. Nada mais natural — sabemos que eles não são o único parâmetro para se avaliar um carro, mas eles são os primeiros que usamos. Jogos de Super Trunfo, que usam a ficha técnica dos carros para atribuir seu “poder”, não existem à toa.
Mas, se esta é uma tendência tão forte, dá para ir contra ela? É claro que dá! São os “Anti-Super Trunfo”: carros que abrem mão da força bruta, preferindo conquistar por outras qualidades. É a Pergunta do Dia de hoje: quais são os carros mais legais que não precisam de números impressionantes?
O Mazda MX-5 Miata, por exemplo: lançado em 1989, ele nunca foi um carro potente, apostando sempre no baixo peso, na dirigibilidade e no preço camarada, o esportivo japonês tomou o mundo passado sem jamais passar dos 160 cv. Quando a Mazda decidiu fazer um Miata mais potente, preferiu dar a ele um emblema da Fiat, aproveitando que os italianos estavam buscando uma parceria para fabricar um roadster esportivo. Nascia ali o Fiat 124 Spider. Ao menos, é assim que imaginamos.
Quer outro exemplo? O Mini original. E este é ainda mais incrível porque quando foi lançado, em 1959, o pequeno sedã de dois volumes (tinha perfil de hatch e porta-malas ficava na traseira, mas não dava acesso ao interior do carro) era movido por um minúsculo quatro-cilindros de 850 cm³ e apenas 34 cv.
E era um carro fantástico. Projetado pelo designer Alec Issigonis (que, em 1969, seria condecorado cavaleiro pela Rainha Elizabeth II por seu trabalho, tornando-se Sir Alec Issigonis), o Mini revolucionou o aproveitamento de espaço nos carros pequenos ao ter o motor instalado em posição transversal. Com isto, o conjunto mecânico ocupava uma área menor e permitia que os ocupantes tivessem mais espaço. Desde então, praticamente todo carro compacto adotou o mesmo layout.
O Mini original levava quatro adultos com conforto surpreendente para seu tamanho
A primeira versão esportiva do Mini foi idealizada por John Cooper. Além de ser dono da equipe Cooper, que em 1957 convenceu ao mundo de que os carros de Fórmula 1 deveriam ter motores na traseira e ficou com os títulos de 1959 e 1960, Cooper era amigo de Issigonis. Ele viu potencial no carrinho, e os dois acabaram criando o Mini Cooper em 1961.
O motorzinho teve o deslocamento ampliado para 997 cm³ e, com carburador duplo, desenvolvia 55 cv. Claro, ainda é bem pouco mas, se pararmos para pensar, não faz muito tempo que nossos 1.0, com injeção eletrônica multiponto e décadas de desenvolvimento a seu favor, ainda estavam neste patamar.
O Mini Cooper S, por sua vez, veio em 1964 e já tinha um motor maior e mais potente: 1.272 cm³ (quase 1,3 litro) e 76 cv. Com suspensão mais firme e rodas maiores, de 12 polegadas, o Cooper S foi inscrito naquele mesmo ano no Rally Monte Carlo com Paddy Hopkirk e Timo Mäkinen. Hopkirk voltou com o troféu e Mäkinen ficou com o quarto lugar. O finlandês contudo, ganharia o rali em 1965, na segunda vitória do Mini Cooper S. A terceira vitória no principado de Mônaco veio em 1967, com Rauno Aaltonen.
Estas, no entanto, são as vitórias que todo mundo conhece — entre 1961 e 1979, o Mini Cooper também ficou com nada menos que cinco títulos do BTCC, o Campeonato Britânico de Turismo, entre 1961 e 1979.
Nas ruas, o Mini tornou-se um verdadeiro ícone cultural britânico. Ele foi produzido entre 1959 e 2000 ininterruptamente, suportando firmemente o período negro da indústria automotiva do Reino Unido que foram os anos 1970 e 1980. Ele é o carro do Mr. Bean, cara!
Sendo assim, não há dúvidas de que o Mini original é um carro incrível, mesmo que sua ficha técnica diga o contrário. Mas nós sabemos que você conhece outros exemplos. Então, lá vai: que carros não precisam de números enormes de potência para serem divertidos? Deixe suas sugestões na caixa de comentários!