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Car Culture

Supervans: quando a Ford decidiu que a Transit era, na verdade, um carro de corrida

Alguma coisa dentro do cérebro de um entusiasta faz com que qualquer carro que não deveria ser rápido, mas é, seja instantaneamente atraente. A Ford Transit, van comercializada pela marca há quase 50 anos, não deveria ser rápida — ela nem é um carro propriamente dito! E é por isso que a gente é doente pela Transit Supervan, que foi feita pela Ford para promover o modelo — e não foi só uma vez, não!

Foram três: uma na década de 1970, uma nos anos 1980 e uma na década de 1990. Sinceramente, não sabemos qual delas é nossa favorita. Para tentar decidir, vamos conhecer melhor as três — que tal?

 

Supervan 1

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A história da Transit começou em 1965, quando foi lançada a primeira geração. Compacta e equipada com motores de quatro ou seis cilindros em linha, era um furgão pequeno com proporções que lembravam mais uma station wagon mais alta do que uma van propriamente dita. O veículo foi um sucesso de vendas nos primeiros anos mas, no início da década de 1970, algo precisava ser feito para dar uma alavancada nas vendas.

Como as coisas eram muito mais legais naquela época, em vez de fazer um facelift e chamar de “New Transit”, a Ford decidiu chamar a Terry Drury Racing — uma equipe que, não fosse pela Transit Supervan, morreria no anonimato, mas que conseguiu fazer algo espetacular usando isto:

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Quer dizer, partes disto. Alguém teve a ideia, ela foi aprovada e nós nunca vamos deixar de parabenizar os envolvidos, porque o resultado foi uma Transit com o conjunto mecânico do Ford GT40, que também cedeu a suspensão independente nas quatro rodas e os freios.

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O motor usado foi o small block de 4,9 litros alimentado por quatro carburadores Weber — igual aos usados pelos GT40 que venceram Le Mans em 1968 e 1969 (bem menor e mais leve que o big block de sete litros das vitórias de 1966 e 1967) e calibrado para render cerca de 400 cv. O câmbio era manual de cinco marchas da ZFe o motor ficava no compartimento de carga — ao abrir as portas traseiras, você dava de cara com isto:

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Imagine como era o barulho lá dentro!

Obviamente a aerodinâmica não era das melhores e, mesmo com bitolas bem largas e pneus que ultrapassavam os para-lamas, a Transit Supervan não era muito estável. Por isso, em vez de levá-la para correr em circuitos, a Ford participava de exibições de arrancada com ela — e, ainda assim, o fato de a carroceria se levantar com muita facilidade limitava sua capacidade de acelerar: o 0 a 100 km/h levava sete segundos e a velocidade máxima era de pouco mais de 240 km/h. Já o quarto de milha não ficava atrás dos melhores muscle cars, percorrido em 14,9 segundos a 140 km/h.

Pelo bem ou pelo mal, a promoção de imagem foi bem sucedida e a Transit seguiu firme e forte no mercado sem maiores mudanças até 1978, quando a nova geração foi lançada.

 

Supervan 2

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Na verdade a Transit Mk2 é uma remodelação da primeira geração, usando elementos de estilo da linha americana de vans Econoline, porém aplicada à mecânica europeia. O resultado foi satisfatório e a Transit parecia mesmo totalmente renovada — tanto que a Supervan não serviria mais para promovê-la.

Então, em 1984, a Ford decidiu que era hora de criar uma nova Supervan, habilmente chamada de Supervan 2. Eles poderiam ter, simplesmente, trocado a carroceria da Supervan original pela nova mas, como aqueles eram os modernos anos 80, eles decidiram fazer diferente.

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Quer dizer, não tão diferente assim. A fórmula era a mesma — colocar a carroceria da van sobre o chassi de um carro de corrida. Mas, em vez do GT40, o modelo escolhido foi o Ford C100 que, apesar do nome de picape, era um protótipo do Grupo 6 de endurance, mais tarde usado também no Grupo C.

Se a carreira do C100 nas pistas não foi das mais brilhantes — 22 corridas de campeonato disputadas e três vitórias, sem títulos em seu nome —, seu conjunto mecânico seria imortalizado na Supervan 2: o motor Cosworth DFL, uma versão de curso e diâmetro ampliados do motor DFV de Fórmula 1. Deslocando 3,9 litros para entregar 598 cv, o motor era capaz de levar a Supervan 2 de 0 a 100 km/h em 3,4 segundos (!), aos 160 km/h em 7,1 segundos (!!) e a completar o quarto de milha em 12,1 segundos (!!!).

A Ford também tomou mais cuidado com a dinâmica, preocupando-se em aplicar alguns elementos aerodinâmicos à bolha que imitava as formas da Transit de rua, além de reduzir a altura da carroceria em quase 10 cm. Deu certo: em sua edição de janeiro de 1986, a revista Popular Mechanics disse que “vários pilotos de testes conseguiram virar tempos melhores do que sedãs preparados para competições” apesar da ergonomia terrível e da direção pesadíssima.

A vida da Supervan 2 não durou muito, também: em 1986 a Ford lançaria a terceira geração que, desta vez, era mesmo totalmente nova. Também foi a geração que mais durou até hoje — foi fabricada de 1986 a 2000 (ou seja por 14 anos) e, novamente, foi promovida por uma Supervan quando estava se aproximando do fim de sua vida.

Supervan 3

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A Supervan 3 foi apresentada em 1994, logo depois de um facelift que deu à Transit uma nova dianteira e um novo painel. Contudo, a Ford decidiu aproveitar boa parte da antiga Supervan 2, que estava em exposição em um museu. A bolha foi refeita com os elementos estéticos da nova Transit e o chassi permaneceu o mesmo. O motor, porém, era o Cosworth HB — um V8 de 3,5 litros com 75° entre as bancadas de cilindros. Na traseira da Ford Transit ele desenvolvia pelo menos 650 cv, mas há quem diga que sua potência era mais próxima da dos carros de Fórmula 1 nos quais o Cossie HB foi usado (como o McLaren MP4/8 que quase deu a Senna seu quarto título em 1993) — acima de 700 cv.

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A Supervan 3 foi usada para fins de divulgação até 2001, quando foi “aposentada”. As aspas estão aí porque, três anos depois, a Ford decidiu restaurá-la, dar a ela um motor mais moderno — um V6 de três litros Cosworth ProSport 3000 de pouco mais de 300 cv. É com este motor que a Supervan pode ser vista até hoje participando de eventos pelo mundo todo — como o Goodwood Festival of Speed, no ano passado:

Agora que você já conhece as três Supervans, pode nos dizer: qual é a sua favorita?