Se considerarmos a estimativa média de 15 a 20 mil km por ano que um brasileiro roda com seu automóvel, o hodômetro viraria a casa dos 100 mil km entre cinco anos (60 meses) e seis anos e meio (78 meses). O que você acharia de completar esta quilometragem em pouco mais de três meses – período até 26 vezes mais curto?
Foi este o desafio que a Suzuki propôs ao seu próprio jipinho Jimny: dois modelos 4Sun largaram de São Paulo no dia 6 de fevereiro para rodar 100 mil km em 100 dias, usando seis pilotos que ralaram por 1.450 horas ao volante – alguns deles conhecidos na turma dos track days -, em um circuito misto de cidade (4%), rodovias (84%) e fora-de-estrada (12%), triangulando entre Campo Grande (MS), Vitória (ES) e São José dos Campos (SP).
Nesta semana eles completaram o desafio, sobreviveram a uma lua-de-mel de 100 dias de convivência ininterrupta (the treta has been planted) e cruzaram a reta de chegada no autódromo Velo Città (Mogi-Guaçu). E agora é hora de vermos como a dupla de jipes se saiu.
O desafio, mais do que uma oportunidade para a Suzuki expor seu produto para a mídia realçando as qualidades de robustez do Jimny (por baixo da carinha de kei car, há um jipe com chassi da mesma bitola da Mitsubishi L200, tração seletiva nas quatro rodas com reduzida e suspensão do tipo trilink com eixo rígido na dianteira e traseira), foi também uma oportunidade para a marca fazer um baita de um laboratório com o produto – tanto no sentido de se aferir desgastes e desenvolver melhorias quanto para se experimentar novos componentes.
Por isso, apesar de os dois jipes terem sido pinçados da linha de produção, um deles passou por um pente-fino e teve todos os parafusos torqueados na exata especificação nominal. Além disso, o laranja largou com o óleo Mobil Super 5W-30 Ecopower (semi-sintético) e o branco com o Mobil 1 5W-30 sintético – e ambos utilizaram pneus Pirelli Scorpion ATR 205/70 R15 para testá-lo e homologá-lo de vez no modelo 2015. Técnicos das duas empresas acompanharam todo o teste.
Os parâmetros monitorados
Ao longo do teste, a Suzuki monitorou diversos parâmetros – alguns deles durante as revisões, feitas a cada dez mil km (o mesmo de qualquer Jimny vendido), e outros de forma comparativa, no começo e após o término do desafio. No motor foram checados a compressão nas câmaras de combustão, possíveis vazamentos, pressão de combustível, tensão das correias e controle de desgastes internos pela análise dos metais presentes no óleo. Exemplos: ferro (camisas de cilindro, anéis, cilindros, comandos, virabrequim, bombas), cobre (buchas, bronzinas, rolamentos, outros componentes), níquel (válvulas), alumínio (pistões), chumbo (bronzinas), cromo (anéis) e estanho (ligas e outros componentes).
De acordo com o relatório da Mobil 1, a única ocorrência foi uma pequena diluição por combustível, considerada normal e dentro das tolerâncias de uso. De acordo com os técnicos da marca, eles estão considerando a adoção do óleo sintético na linha de produção, pois ele manteve suas propriedades lubrificantes com maior rigor, ainda que houvesse muita margem em ambos os jipes.
O próprio presidente de Suzuki do Brasil, Luiz Rosenfeld, ponderou que, apesar da alta quilometragem rodada em pouco tempo, as condições foram favoráveis para os motores, já que os veículos praticamente não enfrentaram congestionamentos e trabalhavam muito com fluxo constante. Para ver as imagens abaixo em alta resolução, amplie e depois salve em seu computador.
Estas condições constantes de rodagem também ajudaram no consumo de combustível do motor 1.3 de 85 cv a 6.000 rpm e 11,2 mkgf de torque a 4.100 rpm (classificação “A” no Inmetro), que apresentou média geral entre todos os motoristas de 12,3 km/l (laranja) e 12,1 km/l (branco). Durante o teste, foram feitas aferições específicas em condições controladas, e o resultado obviamente melhorou, saltando para 13,83 km/l.
Outras áreas monitoradas: curva de performance de amortecedores e molas, controle de atitude, desgaste dos pneus, desgaste dos componentes de freio, folga do pedal e ajuste do freio de mão, folga de pedal da embreagem e ponto de acionamento, desgaste da embreagem e da bateria, aferição dos torques dos parafusos do veículo e integridade da carroceria.
No meio disso tudo, você pode se perguntar, com razão, qual a validade de um teste de durabilidade feito pela própria marca. Logicamente, sempre haverá brechas, ainda que os carros sempre estiveram disponíveis para os jornalistas e convidados ao longo do teste – e, confesso, não me recordo de ter visto outra marca ter exposto relatórios tão detalhados. Contudo, pelo lado da razoabilidade e considerando o histórico de robustez quase militar dos Jimny, cujos componentes são ultradimensionados ao ponto do absurdo (uma das razões principais para o seu alto preço, na casa dos R$ 60 mil), não vejo razões para não considerar os dados como factíveis.
No dia da chegada, também estavam presentes os concessionários da Suzuki, para receber novas recomendações para as revisões em base da experiência do teste. Uma delas se referia ao cuidado com o reabastecimento do fluido de limpeza dos vidros, pois um dos veículos acabou apresentando vazamentos nos esguichos devido à impurezas no sistema (que foi abastecido em posto de gasolina). Detalhes.
Acima estão as ocorrências listadas pela Suzuki. Fora um ou outro para-brisa trincado e um pequeno vazamento no tambor traseiro de um dos jipes, não houve maiores problemas (clique na imagem para ampliar).
Linha 2015 do Jimny 4Sport é lançada
A chegada do desafio dos 100 mil km, no autódromo Velo Città, também foi palco do lançamento da linha 2015 do Jimny. Fora os novos pneus Pirelli Scorpion, as mudanças são basicamente estéticas: seu novo para-choque dianteiro tem desenho mais moderno e integra melhor o engate dianteiro (único do mercado a oferecer este recurso de série), e tanto ele quanto o para-choque traseiro agora são feitos em peças modulares, deixando de ser peça única – solução feita para baratear reparos localizados após danos em trilhas e mesmo na cidade.
Na lateral, os flares dos para-lamas foram redesenhados e a porção inferior da porta agora exibe a cor do carro (compare com o modelo antigo nas fotos acima) e há um side step na lateral traseira, feito para facilitar o acesso ao rack de teto.
Cores: prata, preto, branco, vermelho, verde amazônia, verde tropical, amarelo, roxo, laranja, rosa e azul.
Preços: Jimny 4All R$ 58.990, 4Sun (com teto solar panorâmico) R$ 62.990, 4Sport (o das fotos acima, com snorkel) R$ 64.990, 4Work sob consulta de acordo com a configuração.
Ficha Técnica – Suzuki Jimny 4Sport
Motor: bloco e cabeçote de alumínio, quatro cilindros em linha, transversal, 1.328 cm³, 16V com acionamento por corrente, cabeçote com duplo comando de válvulas variável na admissão, gasolina
Potência: 85 cv a 6.000 rpm
Torque: 11,2 mkgf a 4.100 rpm
Transmissão: manual de cinco marchas, tração seletiva nas quatro rodas com reduzida (em modo 4×2, tração traseira)
Suspensão: dianteira e traseira do tipo eixo rígido com sistema three-link
Performance Off-Road: ângulo de entrada 45º, break-over 31º, saída 51º, raio mínimo de giro 4,9 m, altura livre do solo 200 mm
Freios: discos sólidos na frente e tambores atrás
Pneus: 205/70 R15 Pirelli Scorpion ATR (todo-terreno, pneus lameiros são opcionais)
Dimensões: 3,67 m de comprimento, 1,60 m de largura, 1,70 m de altura e 2,25 m de entre-eixos
Peso: 1.060 kg
Itens de série: freios abs, duplo air bag, ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, sistema de som (rádio + CD + mp3 + bluetooth e USB), snorkel no sistema de admissão
Garantia: 3 anos