O circo da Fórmula 1 perdeu mais uma equipe nesta temporada: a Manor Racing, antiga Marussia F1, que por sua vez era a antiga Virgin Racing de Richard Branson, o megaempresário que começou vendendo discos, com a Virgin Records, e hoje leva pessoas ao espaço a passeio com a Virgin Galactic. Na verdade mesmo, a Virgin Racing ainda existe, mas compete na Fórmula E.
Agora, a Virgin Racing de Fórmula 1 não teve a mesma sorte. Fundada em 2010, a equipe mudou de nome duas vezes antes de se tornar Manor Racing para a temporada de 2016. Agora, depois de uma série de acontecimentos infelizes, a Manor fechou as portas e está vendendo tudo. Tudo mesmo!
A Manor Racing começou a competir na Fórmula 1 em 2010, depois de conseguir patrocínio com o conglomerado de Richard Branson. Antes disto, porém, a equipe já tinha história em corridas de monopostos. Na década de 1990 a Manor competia na Fórmula Renault britânica, chegando a conquistar os títulos de 1999, 2000, 2003 e 2005 (com jovens como Antonio Pizzonia, Kimi Räikkönen e Lewis Hamilton ao volante); além de participar da Fórmula 3 (Reino Unido e Europa). Ou seja: eles não vieram do nada.
Em 2010, correndo como Virgin Racing, a Manor foi a última colocada no campeonato, com o alemão Timo Glock e o brasileiro Lucas di Grassi ao volante. Apesar do desempenho fraco, a equipe seguiu em frente para 2011, desta vez como Marussia Virgin Racing – a fabricante russa de esportivos comprou o direito de colocar seu nome como principal patrocinadora, na esperança de adquirir know-how para aperfeiçoar seus modelos de rua. O grande diferencial da equipe era o modo como seus carros eram projetados: em vez de construir modelos e protótipos, tudo era feito digitalmente, com simuladores de aerodinâmica e modelagem tridimensional.
No ano seguinte, a Marussia firmou uma parceria com a McLaren Applied Technologies, que ficou encarregada de ajudar no desenvolvimento dos carros. Não era uma relação estranha, visto que a divisão da McLaren fornecia equipamentos eletrônicos para todas as outras equipes da Fórmula 1. Novamente a equipe ficou no último lugar do campeonato e, na temporada de 2012, a equipe passou a se chamar apenas Marussia F1 Team.
Foi naquele ano que María de Villota, piloto de testes contratada pela equipe, se acidentou durante testes no Aeródromo de Duxford, no Reino Unido. Ela perdeu o olho direito ao se chocar a cerca de 60 km/h com um caminhão no fim de uma das sessões. Exatamente um ano após sua primeira aparição pública depois do acidente, Maria de Villota morreu em decorrência de um ataque cardíaco.
O nome Marussia foi mantido até 2014 quando, no meio da temporada, por questões financeiras, a equipe entrou em colapso, apesar de ter conquistado seus primeiros pontos com um nono lugar de Jules Bianchi no GP de Mônaco.
A Marussia abandonou o negócio, mas permitiu que a Manor, agora operando de forma independente, continuasse usando seu nome em 2015 para utilizar o dinheiro ganho na temporada anterior. Foi um ano de vacas magras: a Marussia competiu com um carro ultrapassado, o MR03, e um motor antigo, o Ferrari 059, já usado na temporada anterior. Novamente a equipe ficou na lanterna, logo atrás da McLaren-Honda. Para piorar, o piloto Jules Bianchi morreu devido às lesões sofridas em seu gravíssimo acidente no Grande Prêmio do Japão do ano anterior.
A temporada de 2016 foi marcada pela promessa de uma volta por cima: agora chamada apenas Manor Racing, a equipe contratou Nicholas Tombazis, ex-projetista da Ferrari, para cuidar da aerodinâmica dos automóveis, e Pat Fry, seu colega na Scuderia, como consultor de engenharia.
Repare no carro sem patrocinadores. Triste
Foi a última temporada da Manor, que conquistou seu segundo ponto no GP da Áustria, quando o alemão Pascal Wehrlein chegou em décimo no Red Bull Ring, em Spielberg. Foi também seu último ponto pois, como sabemos agora, a Manor Racing deixou de existir.
Não dá para dizer que foi exatamente uma surpresa, e não apenas por sua situação financeira, que sempre foi delicada: a própria Fórmula 1 atual é pouquíssimo atraente a equipes pequenas pois, mesmo com um limite de orçamento previsto pelo regulamento, os custos ainda são elevados. Além disso, a Fórmula 1 já não atrai tantos patrocinadores, pois perdeu muita visibilidade. A gente até sugeriu algumas maneiras de mudar esta situação, mas os chefões não nos escutam…
O caso é que, para ajudar a pagar suas dívidas, a Manor se colocou à venda através da agência Gordon Brothers, que deverá em breve anunciar os detalhes do leilão. Já dá para ter uma ideia, porém, do que eles vão vender – é só olhar a lista:
- 4 chassis rolantes dos show cars das temporadas de 2015 e 2016
- Modelo em escala 6:1 do carro de 2017, usado em testes em túnel de vento
- Equipamentos usados na pit lane
- Macacões e produtos licenciados em geral dos pilotos e membros da equipe
- Equipamentos usados em engenharia, testes e inspeções
- Itens consumíveis
- 5 volantes de Fórmula 1
- Peças usadas nos carros de 2014, 2015 e 2016, incluindo três chassis, mais de 200 rodas, pneus, narizes, painéis, tampas do motor, asas traseiras, etc.
- Dois trailers desmontáveis
- Gazebos, banners, cases e gaiolas de transporte
- móveis de escritório e equipamento de tecnologia da informação
Obviamente não é o tipo de equipamento que você compra para guardar como peça de coleção: mesmo se tratando de uma equipe pequena e sem muitos recursos, o nível técnico da Fórmula 1 é extremamente elevado e certamente essa estrutura toda poderá ser aproveitada por empresas de engenharia de corrida ou equipes de outras categorias. Ou até mesmo por algum aventureiro romântico, que esteja disposto a torrar milhões de dólares para disputar um GP de Fórmula 1.