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Project Cars

The Best of Project Cars: relembre a bela história do Dodge Charger R/T LMS

Salve, galera do FlatOut! Normalmente esta é uma saudação usada pelos leitores no início dos seus Project Cars, mas o post desta sexta-feira será um pouco diferente do que publicamos aqui diariamente. Hoje estamos estreando o Best of Project Cars, uma viagem no tempo para relembrar os projetos já concluídos ao longo destes mais de três anos de Project Cars.

Neste primeiro capítulo, iremos relembrar o primeiro projeto concluído, o Dodge Charger R/T 1972 “LMS” do leitor Reinaldo Silveira, embalado por uma causa tão triste quanto bela.

 

O começo

A história do Charger LMS começa com a busca por um dos raros R/T 1972. Nascido em 1964, Reinaldo cresceu babando na tríade de esportivos brasileiros dos anos 1970, e conseguiu um exemplar de cada depois de 31 anos. Contudo, seu grande sonho era mesmo o Charger R/T 1972, que infelizmente se tornou o mais raro deles, com estimadas 25 unidades sobreviventes.

Depois de buscas intensas, Reinaldo finalmente encontrou um exemplar no Paraná, mas acabou não conseguindo arrematar o carro. Por um acaso, um amigo seu que estava iniciando a restauração de um R/T 72 branco polar comprou um dos raríssimos Dart SE 1975. Com dois carros na garagem, o amigo vendeu o R/T a Reinaldo, que finalmente levou para casa seu R/T 72.

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Só que ele não era branco, e também não estava pronto para curtir por aí. Ele estava desalinhado e com quilos de massa plástica cobertos por uma pintura vermelha terrivelmente conservada. Apesar do visual, o Charger tinha muitos componentes originais, dentre os quais motor, câmbio e diferencial.

 

A restauração

Com o carro na garagem Reinaldo começou a inspeção minuciosa do Charger. A carroceria “deplorável” denunciava que o carro sofrera um acidente em algum momento de sua história. Reinaldo disse nunca ter visto tanta massa em um único carro. Mas o que interessava mesmo é que o carro estava com o drivetrain original, o que significa que ele é o que costumamos chamar de “matching numbers“. O motor 318PS já havia sido aberto, mas ainda tinha suas medidas originais. O bloco e os cabeçotes não tinham nenhum empenamento ou trinca.

Project Car FlatOut RT 72 LMS funilaria, pintura e mecânica.pa

A recuperação do motor envolveu a retífica do bloco, novas bielas e pistões, um comando de válvulas de graduação maior (270º) e retrabalho de fluxo dos cabeçotes. A alimentação passou a ser feita por um carburador DFV 446. As bombas de óleo, água e combustível também foram trocadas, assim como o defletor, a hélice, as mangueiras e a válvula termostática do sistema de arrefecimento. Para finalizar, uma pintura completa no bloco e nos coletores de admissão e escape.

A transmissão foi mais simples: o câmbio precisou apenas trocar os anéis sincronizadores, um jogo de roletes e a junta. O diferencial trocou todas as engrenagens, rolamentos e retentores. A embreagem, logicamente, foi toda substituída, assim como sua ligação com o pedal.

A direção ganhou um sistema de assistência hidráulica da Gemmer, original do Charger R/T 72 que não estava instalada no LMS. A coluna de direção foi restaurada, assim como o volante Walrod original.

A suspensão, por ser composta em sua maioria por peças de desgaste, foi quase que completamente renovada: somente a travessa dianteira foi restaurada. Bandejas, pivôs, batentes, amortecedores, feixe de molas e buchas foram todos substituídos por peças novas, em sua maioria de estoque antigo — o chamado “new old stock” (N.O.S.). Os freios passaram por processo semelhante: as peças duráveis foram recondicionadas (cilindro mestre, pinças e tambores), e as de desgaste natural foram substituídas.

As rodas Magnum originais foram restauradas, mas ganharam pneus radiais BF Goodrich Radial T/A, de 205 mm, em vez de pneus radiais nas especificações originais. A segurança falou mais alto para Reinaldo.

 

 

A funilaria: o pesadelo de toda restauração

Com uma carroceria em estado “deplorável”, segundo as palavras do próprio Reinaldo, a solução foi radical: substituir todos os paineis externos. E não foi mero capricho: a lateral esquerda chegava a ter 9 mm de massa plástica. O teto estava ondulado e tinha 15 mm de diferença entre um lado e o outro; e o assoalho tinha vários tipos de remendos.

Falando assim parece fácil. Reinaldo escolheu um funileiro premiado, porém sem experiência em Dodges nacionais. O resultado? Depois de 23 meses (sim, quase dois anos) Reinaldo decidiu tirar o carro da oficina e entregar a outro profissional. Desta vez o carro caiu nas mãos de um funileiro experiente com os Dodge e o carro ficou pronto na data combinada.

Já a pintura correu sem problemas. Reinaldo escolheu um pintor iniciante porém talentoso. Foi preciso fazer poucas correções nas imperfeições dos paineis novos, e o jovem ainda completou o serviço com 50 dias de antecipação em relação ao prazo dos demais. Tudo por um preço 40% mais baixo.

 

O acabamento interno

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O carro veio com pouca coisa aproveitável dos acabamentos internos. Apenas volante, painel e estrutura dos bancos foram aproveitados. Felizmente os Dart nacionais são muito semelhantes aos Dart 1967 norte-americanos, então Reinaldo conseguiu importar carpete, forro de teto, antena, fechaduras, maçanetas, borrachas, pestanas e outras peças. Por outro lado, há os itens específicos dos nacionais, o que exige muita paciência para garimpar. Reinaldo contou que se divertiu para encontrar tudo o que faltava, mas difícil mesmo foi encontrar peças originais a preços razoáveis.

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O tapeceiro contratado encontrou um couro bem parecido com o original, embora mais fino. Com ele os bancos foram restaurados, assim como o mecanismo de regulagem do encosto. Os forros de porta e os painéis laterais foram comprados usados em bom estado. O painel foi restaurado no Rio Grande do Sul e, em vez de laminado plástico o restaurador usou uma fina lâmina de madeira.

 

O acabamento externo

Grade original e quase todos os frisos vieram com o carro. Reinaldo precisou apenas polir tudo para que eles ficassem como novos. O teto de vinil foi aplicado pelo mesmo tapeceiro e sem problemas.

Mas nem tudo foi como planejado: na hora de montar os cajados de porta eles forçavam as portas para fora do alinhamento com as laterais traseiras. Depois, na hora de colocar o parabrisa, ele simplesmente não cabia na moldura! O que aconteceu? O primeiro funileiro, aquele dos 23 meses, errou as medidas na hora de trocar o teto. O segundo funileiro não conferiu isso e o defeito só apareceu com o carro todo pintado e quase todo montado. A solução foi encomendar um para-brisa especial, com 2 mm a menos que o original.

 

Já o problema das portas foi pior. O segundo funileiro havia condenado as caixas de ar que o primeiro funileiro havia feito, dizendo que elas estavam erradas; então ele as refez, mas esqueceu que a curvatura das portas muda com a instalação dos cajados (os Dodge cupê não tem a coluna B) e ponteou as laterais muito para dentro! Ninguém quis assumir: o funileiro culpou o pintor e vice-versa. A solução foi chamar um terceiro funileiro para corrigir as laterais.

 

Hora de colocar o carro para rodar

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Depois de tanto tempo e tantas frustrações e alegrias, Reinaldo finalmente foi andar com o carro. Na primeira volta, ele conta que acabou prestando atenção demais aos detalhes, deixando passar a beleza do conjunto. Não curtiu o carro pois estava procurando ajustes faltantes e tentando identificar barulhos e ruídos. Em casa, Reinaldo lavou o carro, conversou com ele (vá dizer que você não faz isso?) e dedicou um dia inteiro ao Charger R/T LMS como um sinal de boas vindas.

E saiu mais uma vez.

Rodou com o carro sentindo e curtindo cada sinal da máquina: o movimento da carroceria, o borbulhar do V8, o cheiro do couro, o vento no rosto, a suspensão firme, o motor potente, o câmbio justo. E assim Reinaldo considerou a restauração terminada.

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A conclusão do projeto teve um significado especial para Reinaldo. Pela primeira vez desde a perda de sua filha Luísa Marques Silveira, então com menos de 13 anos, ele deparava com uma conclusão em sua vida. Assim, o carro se transformou em um símbolo do amor incondicional de um pai por sua filha. Como Reinaldo nos contou em sua despedida, ter o carro na garagem, ouvir seu motor ligado, é como sentir a presença de Luísa entre nós: “O R/T 72 LMS é um símbolo desta ligação eterna”.