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Too soon, Junior: isto é o que acontece quando você comemora a vitória antes de cruzar a linha de chegada

To finish first, first you have to finish. Esta frase, que pode ser traduzida como “para chegar primeiro, primeiro é preciso chegar”, já foi atribuída a pilotos como Rick Mears, Juan Manuel Fangio, Stirling Moss e até caras como Ron Dennis, que não é piloto e sim chefe de equipe. Parece óbvio, não é? Para vencer uma corrida, é preciso chegar ao final. Acontece que, bem, às vezes o óbvio não é suficiente.

“Nunca cante vitória antes do tempo” é uma versão mais universal, uma máxima que a gente ouve desde criancinha, em desenhos animados, fábulas na escola, livros e tudo o mais. Como os pessoal no interior de São Paulo costuma dizer, é melhor não contar com o ovo na cloaca da galinha… ou algo assim.

No fundo, estas frases querem dizer a mesma coisa: deixe para comemorar uma vitória depois que ela acontecer, porque enquanto a linha de chegada não for cruzada, ela pode ser tomada das suas mãos. E, às vezes, o vacilo pode ser seu.

Este tipo de coisa não costuma acontecer com frequência no automobilismo, pois pilotos costumam ser atletas treinados com rigor e têm suas provas acompanhadas em tempo real por suas equipes, atentas a cada movimento e mudança no curso da corrida. Acontece que o ser humano é falho e, por diversos motivos, pode se distrair e, por conta disto, colocar tudo a perder – a vitória, o título, a reputação e o orgulho. Mesmo que seja só por um tempo.

No fim das contas, é aí que está a graça do automobilismo. Já dizia Dale Earnhardt: you win some, lose some, and wreck some. Algumas vezes você ganha, em outras você perde, e pode até acontecer de você sair de uma corrida com o carro (e o ego) destruídos. E pode ser que a culpa seja toda sua.

Muitos destes momentos estão eternizados na internet, e nós separamos alguns deles neste post. Alguns são verdadeiros clássicos do “too soon, Junior” – a clássica frase proferida por Johnny Tran em sua corrida contra Jesse no primeiro “Velozes e Furiosos”. É claro que você lembra do que estamos falando.

 

Empinou, perdeu

Em abril de 2015, Juracy Rodrigues “Black” deve ter deixado sua equipe furiosa ao entregar de bandeja sua vitória no Autódromo de Goiânia. O piloto da equipe Black Day Racing Team disputava o campeonato Superbike Master e já havia aberto uma boa distância dos rivais. Na última volta, faltando poucos metros para cruzar a linha de chegada, ele decidiu comemorar. Assim que fez a última curva, Black empinou sua moto e, com isto, perdeu velocidade. O então segundo colocado João Reis decidiu aproveitar o descuido do adversário, acelerou e tomou a ponta praticamente em cima da bandeirada.

Na época, Black pediu desculpas aos patrocinadores e à equipe e comentou o ocorrido dizendo que “corrida é uma caixinha de surpresas”. Clássico.

 

“Cara, ainda falta uma volta!”

Até dá para entender o lance com Juracy “Black”: ele calculou mal a desaceleração e não viu que seu adversário vinha logo atrás, fazer o quê? Agora, com Riccardo Russo a trapalhada foi maior, mais improvável e mais humilhante. Até porque ele demorou para perceber.

Julho de 2012, o ano em que o mundo ia acabar, mas não acabou. Russo também pensou que a corrida da qual estava participando havia acabado, mas não acabou. Ainda faltava uma volta para que a corrida da Stock 600 no circuito de Mugello acabasse, mas ele não percebeu e, ao cruzar a linha de chegada na penúltima volta, começou a comemorar, levantou, tirou as mãos do guidão, bateu palmas e… pouco depois viu o tamanho da c*gada que tinha feito, vendo todos os outros pilotos continuarem acelerando para aquela que, de fato, seria a última volta.

 

Mantenha as duas mãos no volante, sempre

Ah, uma corrida monomarca só para Fiat 600! Estes carrinhos são muito divertidos: motor e tração lá atrás, pequenos, leves e aerodinâmicos e dotados de motorzinhos que gostam de girar. Normalmente a gente assiste a este tipo de competição para apreciar a disposição dos compactos, mas desta vez queremos mostrar mesmo a trapalhada do piloto.

Não fica muito claro onde, nem como, nem quando, mas dá para ver direitinho o que acontece: o piloto do Fiat verde e azul tira uma das mãos do volante para celebrar antecipadamente sua vitória. Ele estava na reta de chegada, o que poderia dar errado? Seria possível que, por conta de estar usando apenas uma das mãos, ele pudesse perder o controle do carro? Bem, foi exatamente o que aconteceu.

… e no guidão, também!

Primeiro: guidão ou guidom, tanto faz. Segundo: este vídeo de 2004 é um dos maiores clássicos do too soon, Junior: Sean Emmett resolve tirar uma das mãos do guidão para comemorar a poucos metros da linha de chegada do circuito de Thruxton. O piloto britânico de Superbike perde o controle e é ultrapassado literalmente em cima da linha. Temos certeza de que você já viu este vídeo.

Dito isto, a carreira de Emmett foi abalada por um incidente muito maior. Em 2013, sua esposa morreu depois de cair da janela de um prédio em Dubai, durante a lua de mel do casal. A investigação concluiu em 2016 que foi um suicídio, mas antes disso Emmett precisou responder por suspeita assassinato e até passou uma temporada atrás das grades. Em 2015, ele respondeu por agredir sua nova namorada depois de uma discussão em um restaurante e passou três meses preso.

 

Sério, caras, não tirem as mãos do volante

O piloto canadense da IMSA Daniel Morad competiu nos karts entre 1998 e 2005 antes de migrar para os monopostos de verdade. Em algum momento de sua carreira, durante uma corrida transmitida na TV japonesa, ele cometeu o erro de tirar as duas mãos do volante logo após contornar a última curva, a poucos metros da linha de chegada.

Ele até fez uma dancinha, o que deve ter ajudado a desestabilizar o kart (que não tem suspensão, vale lembrar, pois a própria estrutura absorve e dissipa a energia dos impactos). O carrinho dá uma guinada repentina para a esquerda, fazendo com que Morad atinja um adversário e, logo em seguida, o muro. Ele sequer chega a cruzar a linha de chegada, e de quebra é saudado “calorosamente” pelos espectadores.

 

“Nunca pare na pista”

Antes de mais nada: talvez você tenha visto em algum lugar que este é um trecho de uma corrida de Fórmula 1, mas não é preciso ser especialista no assunto para sacar que não é. Trata-se de uma prova da Fórmula 3000 realizada em 2003 no circuito de Monaco. Sim, um dos mais desafiadores do planeta.

O piloto sueco Björn Wirdheim estava com 23 segundos de vantagem frente ao segundo colocado, o dinamarquês Nicolas Kiesa. Então, na reta dos boxes, ele resolveu reduzir a velocidade, quase parando, para cumprimentar sua equipe metros antes da linha de chegada. Ele só não contava que a presença do pace car na pista minutos antes havia reduzido sua vantagem de 23 segundos para meros 4 segundos. Tempo que foi suficiente para Kiesa acelerar e ultrapassar Wirdheim aos 45 do segundo tempo.

 

Mark Martin, o azarão

O nome sonoro de Mark Martin já foi repetido muitas vezes seguido de alguma trapalhada – hoje aposentado, o ex-piloto da Nascar ficou conhecido por sua má sorte. Em 31 anos de carreira, ele venceu 49 vezes na Nationwide Series e 40 vezes na Sprint Cup, e já foi chamado de “o melhor piloto a jamais vencer um título”.

Uma de suas trapalhadas mais conhecidas aconteceu em 1994, durante uma corrida no circuito de Bristol. Ele liderava a prova à frente de David Green quando a bandeira branca e a bandeira amarela foram agitadas. Isto indicava duas coisas: a última volta da corrida havia começado, e um acidente havia acontecido.

Martin se confundiu e achou que a corrida havia acabado. Ele reduziu a velocidade e foi para a victory lane para cumprimentar sua equipe… enquanto a corrida continuava e David Green conquistava a segunda vitória de sua carreira.

 

Não adianta chorar sobre a moto derramada

Esta foi ruim, admito, mas… foi exatamente o que aconteceu. Ou quase. Em 2013, durante uma etapa do campeonato X Games de Motocross em Los Angeles, a piloto australiana Meghan Rutledge, então com 18 anos de idade, perdeu a vitória a poucos metros da linha de chegada. Durante o último salto, ela tirou uma das mãos do guidão/guidom e, com isto, se desequilibrou na aterrissagem. Ela caiu e a rival Vicki Golden aproveitou para abocanhar a vitória.

Em prantos, Meghan disse que foi a inexperiência: “eu nunca havia liderado uma corrida antes, me empolguei e comemorei antes da hora.” Para chegar primeiro, primeiro é preciso chegar.

 

A corrida só acaba quando termina

GP do Canadá de 1991, última corrida de Fórmula 1 vencida por Nelson Piquet, que se aposentou na Benetton no fim daquela temporada. Bem, ao menos é assim que a gente lembra. Nigel Mansell, por outro lado, provavelmente se arrepende até o último fio de seu bigode daquele dia.

Mansell, que estava em uma ótima fase na Williams, havia acabado de entrar na última das 69 voltas da corrida. Poucos minutos antes, havia completado a volta mais rápida da corrida toda, a 65ª, na qual virou 1:22,385 no Circuito de Montreal. Então, ao dar início ao último ciclo, ele relaxa um pouco e começa a comemorar, acenar para a multidão e a reduzir a velocidade. Em um momento de distração, ele contorna um grampo devagar demais e o giro do motor fica tão baixo que não consegue alimentar o alternador. O carro simplesmente apaga e se recusa a ligar novamente. Piquet o ultrapassa, cruzando a linha de chegada na frente de todo mundo. Mansell termina em sexto.

 

 

Bônus track 1: “Hoje não! Hoje não! Hoje sim… Hoje sim?”

A voz de Cléber Machado, cuja empolgação foi se transformando em decepção e, em seguida, conformismo, ficou marcada para sempre na memória dos brasileiros como o dia do “quase”. Rubens Barrichello, então em seu terceiro ano pela Ferrari, liderava o Grande Prêmio da Áustria em 2002. Ele havia feito tudo certinho desde os treinos, ficou com a pole e liderou de ponta a ponta. Todos vibravam na iminência da segunda vitória de Rubinho na F1 mas… pelo rádio, veio a ordem: o brasileiro deveria dar passagem a Michael Schumacher, pois o alemão liderava o campeonato e tinha prioridade. É por isto que o episódio é uma bônus track: não foi um erro, e sim uma ordem de cima.

Rubinho comentou o assunto anos depois, e disse que discutiu o assunto com a equipe pelo rádio por oito voltas, e cedeu somente nos metros finais, pois entrou na penúltima curva decidido a manter a liderança.

Rubinho, contrariado, acatou, freando quase em cima da linha de chegada. Foi algo que perseguiu o piloto brasileiro por anos, mas já faz tempo. Uma década e meia. Ele até brincou com a situação em um comercial da Volvo, mostrando a eficácia do sistema de frenagem de emergência. O Volvo V40 disputa uma corrida contra rivais fabricados na Alemanha, mas Barrichello perde ao parar bem na frente da linha de chegada para não atropelar um… pastor alemão.

 

Bônus track 2: Road Rash da vida real

Se ainda rola um restinho de mágoa pelo caso de Rubinho, neste aqui podemos rir um pouco. Em 2012, durante uma corrida do Campeonato Gaúcho de Motovelocidade, na categoria 250-300cc, o piloto Marlinton dos Reis “Kalunga” Teixeira sofreu uma queda e, ao ver que não conseguiria continuar a corrida, simulou um desmaio no meio da pista para tentar provocar a bandeira vermelha. A ambulância foi acionada, mas ao constatar que se tratava de fingimento, a organização do campeonato o desclassificou.

Não parece uma daquelas cutscenes de Road Rash, quando os pilotos pixelados faziam pequenas encenações ao terminar a prova ou irem presos?