Às vezes, tudo o que a gente precisa é de um pouco de inspiração para seguir em frente — “motivação” tem um tom muito corporativo. Alex Zanardi, que perdeu as duas pernas em um trágico acidente na CART em 2001, tinha todo o direito de nunca mais querer chegar perto de um carro de corridas. Mas ele fez exatamente o oposto — na verdade, ele voltou a correr de carro e ainda se tornou um dos melhores ciclistas paralímpicos do mundo. E, em três minutos, ele consegue te convencer de que é possível superar qualquer coisa.
Fizemos uma análise detalhada do acidente de Zanardi há algumas semanas em nossa coluna Doctor Gas, mas vamos refrescar sua memória: no circuito de Lausitzring, na Alemanha, no meio de uma excelente campanha, Alex perdeu a traseira do monoposto, atravessou o gramado e foi parar no meio da pista. O conterrâneo e xará Alex Tagliani não conseguiu evitar o impacto na lateral do carro de Zanardi e bateu nele a 300 km/h.
Com lesões gravíssimas nas duas pernas, Zanardi teve os membros inferiores amputados na altura acima do joelho. E, mesmo depois de perder duas partes importantíssimas de seu corpo, o italiano deu sequência à sua carreira — só teve que fazer algumas mudanças. Mudanças que, segundo ele, até foram boas.
O vídeo abaixo, chamado Touch The Sky, é um breve relato do próprio Zanardi sobre como superar o desafio de seguir em frente sem poder caminhar. Por sorte, ele é um cara determinado, que encara as coisas de forma leve, e desafios só aumentam sua vontade de vencer.
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Depois do acidente e das amputações, não demorou para que Alex Zanardi decidisse que não, ele não seria mais um ex-piloto que teve sua carreira abreviada por um acidente grave. Ele seguiria em frente do jeito que sempre fez: rápido. Tão rápido que seu ambicioso programa de reabilitação incluiu projetar suas próprias próteses, usando materiais leves e um desenho que não o atrapalhasse na hora de pilotar um carro de corridas.
Já em 2003 ele estava de volta às pistas, ao volante de um carro adaptado com controles manuais para acelerador e freios. Com este carro, Zanardi primeiro completou e, Lausitzring as 13 voltas que faltavam para que ele terminasse a corrida no dia do acidente — atingindo velocidades de até 310 km/h. Na verdade, enquanto fazia isto, ele conseguiu tempos tão bons que, se estivesse se classificando para a corrida naquele fim de semana, teria largado na quinta posição.
Em 2004, Zanardi voltou às pistas em tempo integral, participando do Campeonato Mundial de Turismo da FIA pela BMW. Não conquistou muitos pontos em seu ano de reestreia, mas em 2005 voltou ao lugar mais alto do pódio e comemorou sua vitória com uma série de zerinhos pelo asfalto — sua marca registrada. Ele continua correndo pela BMW até hoje, ao volante de um BMW Z4 adaptado.
Contudo, sua nova paixão maior é o ciclismo paralímpico. Suas primeiras competições foram em 2007, quando chegou em quarto lugar na Maratona de Nova York. Desde então, ele se tornou um dos melhores do mundo, acumulando sete medalhas de ouro e três medalhas de prata — nos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012 e nos campeonatos mundiais em 2013 e 2014.
Seu segredo? “Eu não decidi começar a correr de bicicleta porque queria vencer. Eu venci porque um dia, decidi começar a correr de bicicleta”. Percebe a diferença?
O vídeo Touch The Sky faz parte de uma série de teasers para o documentário Adrenalin – The BMW Touring Car History, dirigido pelo americano Tim Hahne. Como o nome diz, o filme (que sai ainda neste mês em DVD, Blu-Ray e online) conta a história da BMW Motorsport em competições de turismo, e traz depoimentos de pessoas que foram importantes na trajetória da divisão bávara. Zanardi, sem dúvida, é uma destas pessoas.
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