Como todos por aqui, sempre fui obcecado por carros, apesar de trabalhar na área financeira de uma empresa. Cheguei a fazer o curso técnico em mecânica na ETE em São Bernardo no final dos anos 1980, mas por essas coisas da vida, acabei não seguindo o caminho que me levaria à engenharia mecânica. Como isso não se tornou minha profissão, o universo dos automóveis acabou virando um hobby, uma paixão.
Já nos meus primeiros carros, ainda carburados, fazia muitas coisas neles com as poucas ferramentas que tinha. Primeiro porque gostava de descobrir como eles funcionavam, visitava oficinas e concessionárias em busca de informações, curtia trocar peças defeituosas, manter as coisas em ordem por conta própria. E segundo por necessidade mesmo, pois a grana era curta.
Com o tempo passando, fui pegando carros mais novos e a necessidade de arrumá-los foi diminuindo, até o ponto em que tudo o que fazia se limitava à troca de velas e de alguns filtros, o básico. É, a vida tinha se tornado chata. Meu nome é Germinal Vilchez e aqui vou contar a história de como resgatei o passado graxeiro da melhor forma possível.
De volta às origens
Estou numa mesa de bar com amigos, o ano é 2009, creio. Entre vários assuntos, chegamos ao irresistível tema “carros”. E aí um desses amigos solta a seguinte frase: “você precisa ter um carro pra chamar de seu”.
Fiquei com aquilo na cabeça. Na época estava com um Focus Hatch 2.0 Duratec. Um carro pra quem gosta de carros, como dizia a Ford. Mas era um modelo relativamente comum.
Comecei a pensar seriamente em buscar um automóvel para os finais de semana, de uso estritamente para o lazer, que fosse raro e que me despertasse aquele sentimento de “orgulho de pai”. Como não tinha a intenção de participar de track days (algo que está definitivamente na categoria lazer), não queria nada para preparação. Buscava somente algo raro, antigo e o mais original possível.
Minha atenção então se voltou para um carro que gostava muito e que tinha marcado época na minha adolescência: o Escort XR3. Daí para decidir que a escolha tinha de ser a cereja do bolo, o modelo conversível, foi uma decisão fácil.
Quatro Rodas – janeiro de 1988
É difícil acreditar que há vinte anos carros conversíveis eram fabricados no Brasil. É como imaginar que a VW fizesse o Eos na sua fábrica em São Bernardo atualmente. Mas em um mercado fechado como o brasileiro, isso acontecia. Assim como o Kadett, o Escort era feito quase que artesanalmente e o custo de produção era altíssimo. E esse custo também se refletia no preço desses carros. Pelo valor pago por um XR3 conversível no inicio dos anos 1990, dava para comprar dois Unos 1.6R e ainda sobrava o troco, imagine.
Quatro Rodas – dezembro de 1991
A Compra
Sempre visitava alguns sites de modelos antigos a venda. Em um deles, topei com um XR3 me chamou a atenção. Era um conversível na cor prata, ano 1990 (primeiro ano a vir com a capota de acionamento eletro-hidráulica e para-choques pintados na cor do carro), com motor AP800 a álcool e pelas fotos, aparentemente em excelente estado. Passaram algumas semanas enquanto eu ficava olhando para as fotos, entre a razão e a emoção, até que um dia eu pensei “ah, dane-se, vou ligar pra perguntar do carro”.
Era abril de 2010 e fui ver o Escort. Ele estava em um galpão, junto com outros carros tão marcantes quanto, do tipo “garagem de colecionador” que se vê por aí na internet. Pelo preço pedido, dava para comprar um modelo de entrada básico zero. Sim, salgado, mas atendia o meu desejo: estava original e impecável, sem necessidade nenhuma de restauro, raro de se ver nas ruas e era um XR3 conversível oras, o carro que eu queria. Isso sim não tem preço.
Fechado o negócio, voltei dias depois para levar o carro pra casa. Deixei o Focus para o amigo que me acompanhava levar e fui com o Escort. Que sensação estranha foi aquela! Percebi que já tinha esquecido como era dirigir um carro do final dos anos 1980, carburado, pequeno em comparação aos carros atuais. Era como ter entrado numa máquina do tempo, que literalmente me projetou de volta aos meus primeiros carros.
Mas num automóvel com essa idade, as coisas não se resumem a colocar álcool e sair passeando por aí. Logo percebi que havia algumas coisas na parte mecânica que deveria fazer. Menos mal porque ia meter a mão na graxa novamente, matar aquela saudade de desvendar as entranhas desse cara. E agora com um arsenal de ferramentas montado ao longo dos anos e apropriado para este momento.
No próximo post falarei sobre o que descobri dando uma olhada mais de perto nesse XR3. Se você está pensando em comprar um ou mesmo quer matar a curiosidade de saber como é a vida de um dono de Escort XR3, terá uma referência bacana com a minha história. Até lá!
Por Germinal Vilchez, Project Cars #45