O Tuning Europeu é algo relativamente distante do entusiasta brasileiro. É algo que conhecemos de forma muito superficial nos anos 1980 e 1990, nos jogos de Super Trunfo e nos cantos de páginas das revistas nacionais, e que nunca teve um apelo comercial forte no Brasil, mesmo em tempos de câmbio pareado. Foi somente nos últimos anos que os primeiros kits e modelos começaram a aparecer por aqui, mas ainda assim, em números limitadíssimos se comparado, por exemplo, ao volume de vendas do Porsche 911 ou da Ferrari F8.
É por isso que nosso Achado Meio Perdido de hoje é.. bem… um Achado Meio Perdido: à primeira vista parece um Porsche 911 GT3 modificado, mas trata-se de um dos 87 exemplares do TechArt GT Street R que está a venda no Brasil.
A TechArt é uma das preparadoras alemãs reconhecidas como “fabricantes” por usarem como base monoblocos novos com codificação (VIN) própria — algo que a Ruf e a Alpina também fazem. Fundada em 1987, ela nasceu como uma fornecedora de acessórios para diversos modelos alemães, mas logo no ano seguinte os fundadores Thomas Behringer e Matthias Krauss decidiram ampliar o foco de atuação da TechArt e apresentaram seu primeiro kit aerodinâmico para o Porsche 928. O sucesso do conjunto acabou definindo o futuro da preparadora, que teria nos modelos Porsche sua verdadeira especialidade.
No ano seguinte, 1988, o quartel-general da TechArt foi transferido para a cidade de Leonberg, a mesma de onde vem outra famosa preparadora alemã, a Gemballa. Foi ali que as coisas começaram para valer. Na época, o Porsche 911 estava prestes a chegar a sua segunda geração, a 964, apresentada em 1989. A TechArt aproveitou, então, para demonstrar sua habilidade no novo esportivo.
O 911 “Turbo Look” companhia estreou no Automobile Show, em Stuttgart, naquele mesmo ano e consistia em para-lamas alargados e outras modificações estéticas que davam ao 964 de qualquer versão o visual mais robusto do Porsche 911 Turbo daquela geração.
A partir de 1991, com sua estreia no Salão do Automóvel de Frankfurt, a TechArt deixou de se dedicar apenas ao interior e ao exterior dos carros e passou também a realizar modificações mecânicas, tornando-se uma preparadora, de fato. Em 1995 a TechArt apresentou seu primeiro pacote de modificações mecânicas, usando como base o 911 Carrera 993. Batizado “CT3 Program”, o pacote incluía um supercharger e elevava a potência do boxer de 3,6 litros de de 272 cv para 468 cv, contando também com pistões e bielas forjados, válvulas de titânio e um intercooler.
O passo seguinte foi partir para seus primeiros modelos completos — o que lhe garantiu o status de fabricante: em 2001, foi apresentada a primeira geração do kit GTStreet para o Porsche 911 Turbo da geração 996, que incluía, entre as modificações, conversão de tração integral para tração traseira. O motor boxer de seis cilindros e 3,6 litros, capaz de entregar 425 cv originalmente, recebia uma nova ECU (em troca da antiga) e um novo turbocompressor K24 com intercooler, além de bielas de titânio e coletores de admissão e escape menos restritivos. O câmbio tinha a embreagem reforçada e novos pneus eram inclusos no pacote – nada mais justo para um ganho de cerca de 225 cv, totalizando 650 cv.
O GT Street R que encontramos a venda é membro dessa linhagem iniciada há quase 25 anos. Trata-se da versão mais atual do GT Street R, baseada na geração 992.1 do Turbo S. É o mais próximo de um GT2 RS que se pode chegar atualmente — especialmente porque ainda não existe um GT2 na atual geração do 911.
O exemplar a venda foi feito em 2021 e tem atualmente 5.167 km rodados. Como dito antes, o carro é baseado no conjunto do 992 Turbo S, o que significa que ele tem o flat-6 biturbo de 3,7 litros, porém em vez dos 650 cv e 81,4 kgfm originais, aqui estamos falando de 720 cv e 90 kgfm, obtidos com o kit TA092/T1.1, que consiste em um novo software de gerenciamento do motor desenvolvido pela TechArt combinado a um sistema de escape redimensionado — há como opção a este modelo o kit TA092/2.1, que inclui novos turbos, um novo coletor de admissão, filtros esportivos e um novo gerenciamento também para a transmissão, um conjunto que leva a potência aos 811 cv.
Além da potência aumentada, o GT Street R ganha um conjunto aerodinâmico inspirado nos modelos GT da Porsche, que o tornam um carro bem mais radical que o Turbo S original. O capô é ventilado e feito de fibra de carbono, enquanto os para-lamas ganham respiros para as caixas de rodas semelhantes aos dos modelos GT do 911. Também há aletas à frente das caixas de roda traseiras, saia lateral e difusor traseiro — tudo feito de fibra de carbono. As rodas são de liga super leve, forjadas, e têm sobrearos aerodinâmicos.Os discos, claro, são de carbono-cerâmica. A tampa do motor e a asa traseira, que tem um perfil ativo, também são feitos de fibra de carbono, assim como as tomadas do para-choques dianteiro, que tem um spoiler ativo retrátil.
Sendo um modelo “full”, ou seja, construído pela TechArt e não convertido a partir de um Turbo S, ele também tem o interior personalizado pela fabricante e os logotipos TechArt no capô, rodas e volante, além do letreiro “Techart” integrado à luz traseira. Segundo o vendedor, trata-se de um exemplar único no Brasil nesta geração 992. Com o alívio de peso, mesmo acrescentando todos os componentes aerodinâmicos, o GT Street R pesa 1.640 kg — uma redução de 75 kg em relação ao Turbo S original, e 175 kg a mais que o 991 GT2 RS.
Com as modificações de potência e aerodinâmicas, o carro é capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 2,6 segundos (0,1 segundo mais rápido que o 911 Turbo S original) e mantém a velocidade máxima de 330 km/h. A aceleração de zero a 160 km/h (100 mph) é feita em 5,4 segundos (ante 5,8 s do original), de zero a 200 km/h é completada em 8,1 segundos (ante 8,9 s do original) e de zero a 300 km/h em 21,8 segundos (ante 26,6 s do original). A retomada de 100 a 200 km/h é feita em 5,2 segundos (ante 8,9 segundos do original).
Quanto ao preço… o vendedor pede R$ 3.600.000. Como comparação, um Turbo S 992 do mesmo ano custa, nos Porsche Center, cerca de R$ 1.500.000. Na Europa, um exemplar idêntico a este GT Street R é vendido usado na faixa dos € 400.000 — o que dá R$ 2.500.000 em conversão direta, sem frete ou impostos. Considerando frete e a tributação em cascata, o valor final ficaria pouco acima dos R$ 3.600.000 pedidos pelo carro.
Trata-se contudo, de um modelo muito específico, que tem um público limitado não apenas pela faixa de preço, mas também pelo baixo interesse do público brasileiro em supercarros de preparadoras europeias. Por outro lado, ele tem muito mais apelo à exclusividade e um melhor desempenho em retomadas que o Turbo S original — além de ser o mais próximo que se pode chegar de um GT2 992 atualmente.
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