Talvez você já esteja meio saturado de Ken Block e suas Gymkhana – afinal, no dia 17 de dezembro será a estréia do décimo (e talvez último) vídeo da série no Youtube. Mas os carros em si nunca deixam de ser interessantes, e o piloto americano parece querer se superar a cada novo projeto. A Hoonitruck, por exemplo, consegue ser tão absurda quanto o Hoonicorn, o Mustang hardtop 1967 com motor V8 biturbo de 1.400 cv que Block domou em Gymkhana 7 (quando o carro ainda era naturalmente aspirado, vale observar) e em Climbkhana.
Enquanto Gymkhana Ten não chega, Ken Block aproveitou para filmar este vídeo, no qual apresenta todos os detalhes da picape. Que, acredite, não é uma simples F-150 1977 modificada.
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Ken Block conta que queria algo diferente para Gymkhana Ten, e optou por uma F-150 da década de 1970 por questões emocionais, por assim dizer. Seu pai, que morreu há 25 anos, tinha uma destas caminhonetes quando Block ainda era criança, e durante parte de sua adolescência. O jovem Ken Block aprendeu a dirigir na picape e, segundo ele, também fez seu primeiro burnout e deu seu primeiro salto com ela.
Ao optar por uma F-150 clássica, foi uma decisão natural utilizar o motor de uma picape. Assim, a Hoonitruck é equipada com um V6 Ecoboost biturbo de 3,5 litros, do mesmo tipo que equipa a F-150 Raptor atual. Mas não foi só pegar um motor qualquer na linha de produção da Ford e jogá-lo no cofre da F-150: a Hoonitruck utiliza um bloco Roush Yates com as mesmas dimensões internas do V6 da Raptor e os cabeçotes que foram empregados nas primeiras mulas de testes do Ford GT, e também no carro que venceu as 24 Horas de Le Mans de 2016 na categoria LMGTE Pro.
A Hoonigan Racing Division definiu os parâmetros de desempenho que queria para o motor e a equipe da Ford o preparou de acordo. Para chegar aos 926 cv a 7.400 rpm e 97 mkgf de torque a 6.450 rpm, o V6 Ecoboost recebeu um coletor de admissão projetado pela Ford Performance e impresso em 3D, além de dois turbocompressores Garrett brotando por aberturas no capô. O motor é acoplado a um caixa sequencial Sadev de seis marchas, acompanhada de três diferenciais da mesma fabricante – um sistema bastante similar ao do Hoonicorn, diga-se.
Mas a coisa começa a ficar realmente interessante quando o assunto é a forma como a picape foi construída. Embora seja descrita como “baseada em uma Ford F-150 1977”, a verdade é que a Hoonitruck conservou do veículo original pouco mais que a grade dianteira, o para-brisa e o assoalho da cabine. Ela usa uma estrutura tubular projetada e fabricada por uma companhia chamada Detroit Speed, e os painéis da carroceria originais foram escaneados em 3D para que fossem construídas réplicas de alumínio.
Chris Porter, engenheiro da Detroit Speed, é quem dá os detalhes a respeito da fabricação. A estrutura é modular, composta de quatro partes, uma para cada área da picape – caçamba, suspensão traseira, cabine e conjunto mecânico/suspensão dianteira. Isto foi feito de modo a permitir que a picape pudesse consertada rapidamente caso Block acertasse alguma coisa durante as filmagens. Por exemplo, todo o subchassi dianteiro pode ser removido e substituído, incluindo todos os componentes da suspensão, em menos de 45 minutos. Da mesma forma, o subchassi central permite que a transmissão seja trocada em questão de 15 minutos. E mais: os componentes da suspensão dianteira e traseira – que usa braços triangulares sobrepostos e amortecedores com ajustes – são intercambiáveis. Assim, a equipe pode transportar menos peças, resultando em uma bela vantagem logística.
A carroceria da picape é toda feita de alumínio moldado à mão. De acordo com a Hooningan, é uma forma de ligar a Hoonitruck à Ford F-150 Raptor fabricada atualmente – ambas as picapes utilizam o mesmo tipo de alumínio. Parece não fazer sentido, afinal o carro está sujeito a todo tipo de adversidade durante as filmagens de qualquer Gymkhana. Mas a picape também é um projeto pessoal de Ken Block – ela vai continuar sendo utilizada em eventos e outros tipos de produções, mas os painéis de alumínio só ficarão nela quando não houver (tanto) risco de acidentes ou outros imprevistos. Assim, para as gravações e acrobacias, a Hoonitruck recebe painéis de aço, mais simples e baratos, que são instalados fácil e rapidamente. A facilidade para desmontar a picape também é importante por causa de suas dimensões: ela tem nada menos que dois metros de largura e, por isso, não cabe na maioria dos trailers se estiver montada.
Até mesmo os painéis internos da F-150 são removíveis, bem como os bancos, que são fixados à estrutura por presilhas de saque rápido – tudo para permitir que os mecânicos trabalhem no câmbio sem precisar colocar a picape sobre um elevador.
O câmbio, aliás, é bastante recuado e invade o habitáculo, assim como o motor – que, na prática, fica logo abaixo do painel de instrumentos. Isto foi necessário porque à frente do motor fica o diferencial dianteiro, que ocupa bastante espaço, e o efeito colateral foi uma melhora razoável na distribuição de massas – que já se beneficia do fato de o tanque de combustível selado e as ventoinhas dos radiadores serem localizadas onde, em uma picape normal, ficaria a caçamba.
Embora Gymkhana Ten já esteja disponível para assistir no Amazon Prime – a estreia no YouTube está marcada para o dia 17 de dezembro – a Hoonitruck deverá levar uma vida ativa nos próximos meses, aparecendo em eventos de pista e rallycross nos próximos meses. Certamente é um dos projetos mais bacanas da Hoonigan, e será um desafio para a Hoonigan superá-la em seu próximo projeto.