No ano de 2016 marcam-se 40 anos de atuação da Fiat no Brasil. Seu primeiro modelo foi o 147, que ajudou a fomentar a reputação dos italianos em fazer bons carros pequenos e… só: a fabricante jamais conseguiu emplacar um modelo médio no Brasil.
Dito isto, para seus fãs e entusiastas, a Fiat mandou muito bem na hora de lançar esportivos aqui no Brasil. Alguns deles se tornaram ícones, enquanto outros viraram ilustres desconhecidos. No entanto, todos eles merecem espaço na nossa retrospectiva!
Oggi CSS
A versão Comfort Super Sport (CSS) do Oggi foi a única série criada para fins de homologação no Brasil. O campeonato era o Brasileiro de Marcas e Pilotos, que a Fiat recém conquistara no ano de lançamento do pequeno sedã. Vendo uma oportunidade de divulgar o modelo na categoria, a marca construiu 300 unidades para homologar o motor 1.4 (1415 cm³, mais precisamente, que era elevado para 1490 cm³ nas versões de pista).
A configuração era digna de um italianinho invocado: cabeçote com fluxo otimizado, carburador maior, deslocamento ampliado, homocinéticas reforçadas, câmbio de relações encurtadas, barra estabilizadora mais grossa e bandejas traseiras maiores, que deram ao Oggi aquele visual bacanudo da cambagem negativa. Com as modificações o conjunto ganhou 19 cv, totalizando 78 cv — fôlego suficiente para competir com os rivais de 1,6 litro: o Oggi CSS era capaz de chegar aos 100 km/h em 15 segundos, com máxima de 155 km/h.
Para completar o pacote a Fiat dedicou algum tempo ao visual do carro, equipando-o com novos retrovisores, rodas de liga leve exclusivas, cintos de segurança vermelhos, pintura preta com grafismos em vermelho e um volante esportivo igual ao do Lancia Stratos. Uma preparação cuidadosa que jamais seria vista novamente no país.
Alfa Romeo 2300ti
Foto: arcmg.com.br
Em 1974, nascia o primeiro Alfa Romeo a usar o nome da marca no Brasil: o 2300. O sedã era o substituto do FNM FNM 2000/2150, que havia sido referência em luxo e desempenho na década anterior. Mas ele já estava bem defasado quando o Alfa 2300 foi lançado — e a FNM, que produzia caminhões licenciados pela Alfa desde 1951, e carros desde 1960, decidiu corrigir a situação criando um novo projeto localmente, porém buscando inspiração nos modelos europeus.
Dois anos depois, em 1976, foi lançado o Alfa 2300ti — versão mais adorada do modelo, de apelo ainda mais esportivo — deixado claro pelo emblema do quadrifoglio nas colunas traseiras —, com dois carburadores e 149 cv brutos. O carro agora ia de 0 a 100 km/h em 10,8 segundos e chegava aos 175 km/h. A nova versão trouxe um interior modernizado, com painel redesenhado e revestido em mogno de verdade, quadro de instrumentos atualizado e volante de plástico. O motor de carburação simples continuava no 2300 B, modelo básico.
Mas se o Alfa Romeo 2300ti era fabricado pela FNM, por que ele está nesta lista? Simples: porque, em 1978, a Alfa Romeo foi comprada pela Fiat. Com isto, ocorreu a transferência da produção para a fábrica da marca em Betim, MG. A mudança garantiu melhor infraestrutura de produção e carros com qualidade de construção mais alta. Infelizmente, porém, era o começo do fim para o 2300: com o peso da idade, ele já não era tão competitivo frente aos carros de luxo de outras marcas, como a Ford, e ainda ficava cada vez mais caro.
A Fiat até tentou disfarçar com uma nova grade, lanternas maiores e para-choques envolventes em 1985, mas já era tarde: o 2300 sairia de linha no ano seguinte, dando também um fim à atuação da marca no Brasil — não sem deixar saudades em milhares de admiradores Brasil afora. Os carros da Alfa Romeo só voltariam em 1990, com a reabertura do mercado e a importação do 164.
Uno R
Foto: Thiago Uno R
O Fiat Uno foi lançado no Brasil em 1984 e, no ano seguinte, recebia sua primeira versão quase-esportiva, que poucos conhecem: a SX, com motor 1.3 de carburador duplo e 70 cv. Seu desempenho não era dos mais empolgantes, mas o visual já dava uma prévia do que viria a seguir: arcos pretos nos para-lamas, faróis auxiliares nos para-choques e spoiler traseiro adiantavam o que veríamos nos famosos “R” — 1.5 R, 1.6 Re 1.6 R MPI.
O primeiro, lançado em 1987 usava um motor 1.5 de origem argentina (o chamado Sevel) e projeto mais sofisticado. Era alimentado por carburador de corpo duplo e tinha comando de válvulas mais esperto e taxa de compressão mais alta. O resultado eram 86 cv de potência e 12,9 mkgf de torque. Visualmente ele era caracterizado pelas faixas laterais, spoiler traseiro, faróis de neblina e a icônica tampa traseira na cor preto fosco.
Em 1990 o 1.5 R se tornou 1.6 R. Se o visual era praticamente o mesmo, o motor agora rendia 88 cv e 13,7 mkgf de torque.
Três anos depois, o esportivo recebia injeção eletrônica multiponto e o sobrenome MPI. Com o novo sistema de alimentação, o motor produzia 92 cv e o 1.6 MPI recebeu elogios da imprensa especializada por sua agilidadade e estabilidade — esta última graças à geometria de suspensão retrabalhada. Melhor que ele, só o Uno Turbo — sobre o qual falamos na primeira parte desta lista!
Tempra Turbo
Quando falamos da primazia da Fiat com os motores turbinados no Brasil, precisamos lembrar de dois carros: o Uno Turbo i.e., já citado, e o Tempra Turbo. Ambos chegaram ao mercado brasileiro praticamente juntos e logo se tornaram referência. E, se o Uno já empolgava com seu motor 1.4, imagine o que o Tempra não fazia com um motor 2.0 de 165 cv!
O Tempra foi o primeiro modelo médio da Fiat no Brasil, lançado em 1991. Como já dissemos, a Fiat briga até hoje para conseguir fazer sucesso com um carro maior por aqui, então não precisamos dizer que o brasileiro demorou a se acostumar com o Tempra. Apesar da carroceria moderna, ele tinha um motor 2.0 carburado de apenas 99 cv — pouco potente para o peso do carro e antiquado em uma época em que a injeção eletrônica já começava a se popularizar.
O Tempra Turbo veio em 1994, três anos depois, para tentar melhorar a imagem do sedã. Deu certo: com a força do motor turbo alimentado por injeção eletrônica — 165 cv a 5.250 rpm e 26,5 mkgf de torque a 3.000 rpm —, ele era capaz de chegar aos 100 km/h em 8,2 segundos e máxima de 213 km/h, o Tempra Turbo tornou-se rapidamente um dos esportivos mais desejados do Brasil. Aliás, esta fama dura até hoje, ainda que sua produção só tenha durado até 1996.
Naquele ano, a renovação da linha na Fiat, que priorizava modelos mais “comportados”, acabou com a linha turbinada da Fiat. No entanto, a fabricante continuou a oferecer um Tempra turbinado: o Tempra Stile, que tinha quatro portas e uma proposta mais luxuosa que esportiva. O motor era o mesmo 2.0 turbo, mas o visual era idêntico ao das demais versões. Ou seja: um sleeper e tanto.
Stilo Abarth
Ao falar do motor Fivetech e de sua bombástica (mil perdões) passagem pelo mercado brasileiro, a gente tende a lembrar apenas do Fiat Marea. Acontece que é fácil esquecer que o cinco-cilindros também equipou o Fiat Stilo, hatch médio que a Fiat vendeu por aqui entre 2002 e 2010. Sua carreira de oito anos foi marcada por recalls (por causa das rodas traseiras que se soltavam) e por críticas ao visual, que lembrava uma minivan, mas houve ao menos uma versão bem interessante: o Fiat Stilo Abarth, vendido entre 2003 e 2008.
O motor usado no Stilo não era o 2.0 20v turbinado, e sim a versão naturalmente aspirada de 2,4 litros. Era o bastante para render 167 cv e 22,8 mkgf. Ele também tinha um pacote de equipamentos invejável para a época, que incluía airbag duplo, controle de tração, ABS, freios a disco nas quatro rodas, direção elétrica e o desejado teto solar Sky Window. E ainda era capaz de acelerar até os 100 km/h em 8,4 segundos, com velocidade máxima de 212 km/h. Tudo o que se poderia querer em um hot hatch na década passada.
Acontece que ele era um carro muito caro — quando novo, custava nada menos que R$ 90 mil. Na época, era grana o suficiente para comprar qualquer carro nacional. E ainda sobrava um troquinho. Por isso, o Stilo Abarth nunca vendeu bem: em seis anos de produção, foram apenas 942 unidades vendidas. É difícil até de achar fotos.
500 Abarth
Eis que chegamos ao atual modelo esportivo da gama Fiat. O Fiat 500 Abarth chegou atrasado ao Brasil — veio só em no fim de 2014, depois de uma espera de mais de cinco anos —, mas não decepcionou: equipado com um 1.4 16v MultiAir turbinado de 167 cv e 23 mkgf de torque, ele tem o bastante para acelerar de 0 a 100 km/h em 6,9 segundos. E a gente até se deu bem: nosso escorpiãozinho vem do México. Se tivéssemos recebido a versão europeia, o motor teria “apenas” 140 cv.
De qualquer forma, aceleração em linha reta não é seu único forte. Aliás, é o que menos importa: com carroceria compacta, entre-eixos curto, rodas bem nas extremidades da carroceria e suspensão extremamente bem acertada, é difícil achar, hoje em dia, um carro de tração dianteira tão divertido no Brasil. E ele também tem um ronco delicioso, direção comunicativa na medida certa e um lag no turbo abaixo das 2.500 rpm que, se prejudica o desempenho em baixa rotação, te dá uma bela patada quando a turbina enche. Sem falar no visual para lá de descolado (ainda que, lá fora, o 500 tenha sido reestilizado recentemente). Ah, e é pequeno o bastante para ser prático em uso diário na cidade. Quer mais? Leia nossa avaliação!