Mesmo quem não tinha idade para ter um carro nos anos 80, ou sequer tinha nascido, sabe que o Ford Escort XR3 conversível foi um dos carros mais cobiçados do Brasil naquela época. De concepção europeia e fabricação nacional – reflexo do nosso mercado fechado a automóveis importados – o Escort tinha formas retilíneas e harmônicas que recebiam muito bem a capota retrátil de tecido. Tanto que a carroceria permaneceu disponível em linha por dez anos, acompanhando quase toda a evolução do Escort brasileiro.
Não é à toa que hoje em dia o Escort XR3 conversível continua encantando muitos entusiastas. Como o pessoal do grupo Escort Conversível BR, que reúne no Facebook cerca de 200 participantes, todos proprietários de alguma geração do Escort conversível. No último dia 9 de junho, porém, a interação entre os membros deixou de ser puramente virtual: foi realizado o primeiro encontro oficial do grupo. E os organizadores fizeram um pequeno relato a respeito do que foi o mini-encontro, que reuniu 11 exemplares e todas as fases do Escort Conversível.
Vamos dar um pouco de contexto. O Escort foi lançado no Brasil em agosto de 1983, sendo que a versão esportiva XR3 chegou alguns meses depois, em dezembro daquele ano. A versão conversível foi lançada em abril de 1985, fabricada em parceria com a Karmann, cuja sede ficava a 10 km da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo/SP. Coincidentemente, a mesma Karmann havia sido responsável pelo último conversível fabricado no Brasil antes do Escort XR3 – a versão aberta do Volkswagen Karmann Ghia, que saiu de linha em 1971.
A Karmann brasileira utilizava o mesmo processo empregado nas linhas de montagem europeias, chegando a importar componentes da Alemanha – como o mecanismo pantográfico da capota. O processo de fabricação envolvia transportar os carros de uma empresa para a outra mais de uma vez. Primeiro a Ford enviava o monobloco para a Karmann, onde eram instalados os reforços estruturais, para-lamas, portas e tampa do porta-malas. De volta à Ford, o monobloco era pintado e tratado contra corrosão, depois recebia os bancos dianteiros, chicotes elétricos, painel de instrumentos, suspensão, freios, rodas e pneus, além do conjunto mecânico. Depois a Karmann instalava a capota, painéis de porta, banco traseiro e as laterais. Por fim, o carro era levado de volta à Ford para fazer testes de vedação e passar por uma última inspeção de qualidade antes de ser levado às concessionárias.
Era um processo trabalhoso, caro e demorado, com cerca de 10 carros fabricados por dia. Por esta razão o Escort conversível era consideravelmente mais caro do que o XR3 fechado, com o qual dividia toda a mecânica (motor 1.6 CHT de 83 cv e câmbio manual de cinco marchas), e por isto mesmo também é mais raro.
Como dissemos, o Escort XR3 conversível durou uma década, acompanhando todas as modificações estéticas realizadas no modelo neste período, adotando o motor VW AP 1.8 em 1988, com o início da Autolatina e mudando de geração em 1993, quando passou a ser movido por uma versão de 116 cv do motor AP 2.0, com o qual permaneceu até deixar o mercado dois anos depois. Quando o Escort “Mk5” foi lançado (na verdade, uma reestilização profunda do Mk4, que era conhecido como “Sapão”, a versão XR3 não foi oferecida, nem hatch, nem conversível.
O encontro do pessoal do Escort Conversível BR teve como principal atividade um passeio pela Estrada dos Romeiros, nome popular da rodovia SP-312 que liga Barueri a Itu, ambas cidades do interior de São Paulo. O relato que eles nos enviaram, escrito por André Coelho, Tiago Tomaselli e Lucas Carreiro, você confere agora.
Aproveitamos a presença do idealizador do grupo em São Paulo e marcamos um encontro / passeio pela Estrada dos Romeiros. Nos encontramos em Aldeia da Serra, onde conhecemos os participantes do evento, e trocamos experiências e ideias sobre os carros. Ainda em Aldeia da Serra, arrecadamos alimentos não perecíveis, que serão doados para instituições de caridade.
Foram reunidos onze exemplares do Escort conversível, de um MK3 1986 placa preta do nosso amigo Rodrigo Moreira, até modelos MK5 mais modernos, fabricados até 1995. Contamos também com a ilustre presença do Daniel Guedes, que nos presenteou com lindas fotografias dos amados carros.
De acordo com as pesquisas feitas, e por se tratar de um modelo bastante específico, este é o maior número de exemplares de Escort Conversível já registrado em um encontro. Saímos de Aldeia da Serra em comboio por volta das 10 horas da manhã, com destino a fazenda do chocolate pela Estrada dos Romeiros. A estrada com certeza era a parte mais esperada, com curvas e belas paisagens.
Tivemos uma semana de bastante chuva e tempo fechado em São Paulo, e embora já estivéssemos praticamente no inverno, o tempo resolveu colaborar com os escorteiros: fomos brindados com um clima excelente para andar com a capota abaixada.
Seguimos pela estrada sinuosa sem nenhum incidente com qualquer dos carros. Ao chegar a nosso destino, tínhamos uma área do estacionamento reservada para os carros. Tivemos mais um tempo de boa conversa entre o pessoal para troca de experiências e até pequenos ajustes nos carros.
Almoçamos na Fazenda do chocolate e por volta das 14 horas retornamos também em comboio pela Rodovia Castelo Branco, estrada que não tem o mesmo charme do caminho de ida… mas com a vantagem de proporcionar espaço para umas esticadas nas canelas dos conversíveis!
Deste primeiro encontro, levamos as amizades criadas e já estamos nos programando para o próximo encontro. A ideia é fazer encontros mensais para entusiastas do Escort XR3 Conversível.