O Datsun 240Z está entre os esportivos mais legais do mundo opinião do FlatOut! — e de meio mundo, pelos nossos cálculos. Como não gostar de um cupê pequeno, leve, simples, com motor de seis cilindros em linha e tração traseira? Lá em 1997 a Nissan já sabia que seu primeiro “Z-Car” era um ícone entusiasta, e por isso a marca decidiu comprar alguns deles, restaurá-los e vendê-los novamente para os fãs.
Veja bem, não estamos tirando os elogios ao 240Z da cartola: existem motivos de sobra para que o primeiro Z seja tão idolatrado, e nosso editor-chefe Juliano Barata pode comprovar: ele acelerou um dos únicos exemplares existentes no Brasil — e disse que é simplesmente um dos melhores carros que ele já dirigiu na vida (quer saber por quê? Leia a avaliação!).
Um dos objetivos da Nissan com o 240Z era conquistar o mercado americano. E deu certo: os EUA — onde ele era vendido como Datsun — abraçaram em peso o pequeno cupê fastback e, entre 1970 e 1973, por volta de 146 mil unidades foram vendidas ao público americano.
Entre 1973 e 1978, o Nissan S30 — nome oficial da primeira geração do Z-Car — ainda foi atualizado duas vezes nos EUA. Em 1974 foi lançado o 260Z que, como o nome denunciava, substituía o seis-em-linha de 2,4 litros por um de 2,6 litros, e no ano seguinte veio o 280Z, com motor de 2,8 litros. Contudo, o 240Z segue como o verdadeiro clássico, com seu L6 2.4 capaz de entregar 150 cv e levá-lo até os 100 km/h em pouco mais de oito segundos.
E foi justamente o primeiro Z — mais especificamente, o modelo fabricado em 1970 e 1971 — que a Nissan escolheu para lançar o programa Vintage Z.
Faz tempo, mas um carro fabricado em 1970 já era razoavelmente antigo em meados da década de 90. O 240Z não era exceção, e não era uma tarefa exatamente fácil encontrar um exemplar em bom estado. Sabendo disso, a divisão da Nissan nos EUA decidiu dar uma mãozinha. Como? Comprando vários 240Z fabricados entre 1970 e 1972 e dando a eles um destino melhor do que boa parte de seus ex-donos jamais poderia imaginar.
Naquela época, o Z-Car da Nissan estava em sua quarta geração — o 300 ZX, que você já deve ter pilotado em Gran Turismo. Ele foi fabricado entre 1989 e 2000, mas saiu de linha nos EUA já em 1996 pois suas vendas estavam baixas demais, pois ele estava cada vez mais caro e a marca preferiu investir no crescente segmento dos SUVs para gerar lucro. (Conheça a história dos Z-Cars da Nissan aqui!)
Mas os fãs do Z (que eram muitos) não poderiam ficar de mãos vazias. A imprensa especializada ainda não sabia, mas a Nissan preparava um novo Z para dali a alguns anos e precisava manter vivo o interesse do público em sua antiga linhagem de esportivos — e a solução mais viável encontrada foi dar aos fãs a oportunidade de comprar um clássico zero-quilômetro.
Ainda em 1996, a Nissan publicou anúncios em veículos especializados e entrou em contato com clubes de proprietários em busca de exemplares íntegros, porém precisando de reforma, do Datsun 240Z. Como apurou o Jalopnik US, os carros encontrados foram enviados para uma oficina chamada Pierre’Z Service Center, na Califórnia. Seu dono, Pierre Perrot, era ex-piloto de corrida e especializado nos modelos Z da Nissan. Ele ficou incumbido da tarefa de trabalhar nos carros que a Nissan comprou de proprietários espalhados pelos EUA e deixá-los iguais ao dia em que foram fabricados — ou melhores. A Nissan previu um total de cerca de 200 carros restaurados, a um ritmo de 10 carros por mês.
Os trabalhos começaram em 1996, e o primeiro 240Z restaurado “oficialmente” ficou pronto em maio daquele ano. Cada carro era desmontado e inspecionado e, se fosse aprovado, a brincadeira começava. A carroceria era repintada na cor mais próxima possível da original e o interior recebia acabamento novo, o que incluía até mesmo o volante de madeira. Qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, que estivesse danificada, era consertada ou substituída.
Você diria que este interior e este motor são de um 240Z restaurado? Pois são!
Os motores não recebiam nenhum tipo de preparação ou modificação — eram refeitos, sim, mas mantinham o sistema de alimentação por dois carburadores Hitachi e tinham os mesmos 150 cv de quando foram fabricados. A transmissão manual de quatro marchas (ou automática de três, opcional nos carros fabricados a partir de 1971) passava pelo mesmo processo.
Talvez as únicas melhorias em relação ao 240Z da década de 70 fossem a suspensão, que recebia novas buchas, os freios, que eram atualizados, e os pneus, mais modernos. Visualmente, contudo, os carros eram idênticos aos de duas décadas antes, e identificáveis aos menos atentos apenas por um adesivo nas janelas traseiras e um emblema no console central.
Ao todo, mais de 800 peças eram substituídas, o que, para a Nissan, justificava o preço de US$ 24,950 — em 1996, eram US$ 10 mil dólares a mais do que custaria um 240Z na década de 70, já corrigidos. Os carros foram distribuídos para 10 concessionárias selecionadas nos EUA, que recebiam o título de “Z-Stores”.
Apesar de todo o investimento e capricho, contudo, a ideia que era boa no papel acabou se tornando dispendiosa demais na prática. Naquele mesmo 1997, a Nissan decidiu encerrar o programa prematuramente, com cerca de 40 carros restaurados pela Pierre’Z Service Center. O carro vermelho das fotos deste post é um deles, mas você conseguiria perceber se não disséssemos?
Mas nós não chamaríamos o fim do programa de fracasso. A Nissan teve a atitude louvável de preservar sua história ao mesmo tempo em que não deixou o público esquecer que a marca também era excelente na hora de fazer esportivos. Como bônus, preparou o terreno para a chegada do 350Z em 2002, que fez um ótimo trabalho como sucessor de clássicos como o 240Z e o 300ZX.
[ Fotos: Nissan, Pierre’Z Service Center, IZCC’s Vintage Z-Car Register ]