Atualmente, o carro produzido em série mais veloz em Nürburgring Nordschleife é o Lamborghini Huracán Performante, que virou 6:52 no circuito (em meio a uma série de controvérsias, mas entraremos nisto mais tarde). Antes dele, o titular era o Porsche 918 Spyder, hipercarro híbrido com quase 900 cv que virou 6:57. Voltando um pouco mais no tempo, direto para 2011, o recordista era o Dodge Viper ACR da geração passada, que havia virado 7:12 nos mais de 20 km do circuito alemão.
Agora, uma pequena equipe independente está com dois Viper ACR na Alemanha neste exato momento. O que eles estão fazendo lá? Tentando pegar este recorde de volta. Nos dois sentidos da frase.
A equipe se chama Prefix-Arrow Racing Engines, e eles estão fazendo tudo de forma independente, sem o apoio da Dodge – que jamais levou o Viper de quinta geração a Nürburgring para saber quanto tempo ele cravaria no circuito. Eles contam apenas com a grana que levantaram através de uma campanha de crowdfunding, feita por um clube de proprietários do Viper única e exclusivamente para ajudar a bancar os custos da viagem e a infraestrutura necessária. Os carros foram doados por uma concessionária texana chamada Viper Exchange, e todos os custos adicionais estão sendo bancados pela própria equipe.
Mas quem são estes caras, afinal? Pois bem: a Prefix Automotive foi a empresa responsável pela pintura do Dodge Viper dos anos 1990 até o fim da produção do Viper, ocorrida neste ano – os caras faziam o trabalho artesanalmente com a supervisão da Dodge. Já a Arrow Racing Engines era a companhia responsável por fazer manutenção nos motores V10 que estivessem dentro da garantia. Ou seja: estamos falando de caras que entendem uma ou duas coisinhas a respeito do Viper, e que realmente se importam com seu legado.
E um novo recorde em Nürburgring pode muito bem ser parte desta história, se tudo correr como os caras esperam. A Prefix-Arrow já deu uma volta de 7:03,45 em sua primeira tentativa, que aconteceu há alguns dias. Quase dez segundos a menos que o antecessor. Eles têm dois carros; dois exemplares idênticos do Dodge Viper ACR GTS-R. A edição especial é exatamente igual ao ACR comum, o que significa que ele tem 654 cv a 6.200 rpm e 82,3 mkgf de torque a 5.000 rpm em seu motor V10 naturalmente aspirado de 8,4 litros acoplado ao câmbio manual de seis marchas e um conjunto aerodinâmico mais agressivo e eficiente, com um splitter frontal suspenso, aletas (dive planes) nos para-choques dianteiros, e uma enorme asa lá atrás.
Os freios de carbono-cerâmica são maiores que no Viper comum (390 mm e na dianteira e 360 mm na traseira, com pinças de seis e quatro pistões, respectivamente), o interior recebe acabamento em Alcantara e a suspensão traz molas e amortecedores mais rígidos e ajustáveis. Ele sai da concessionária com pneus Kumho feitos sob medida para o carro, tanto a carcaça quanto a banda de rodagem e o composto – os carros que estão em Nürburgring calçam exatamente estes pneus.
O resultado é um carro altamente especializado, que na versão GTS-R só traz de diferente a pintura especial, inspirada no Viper que disputou as 24 Horas de Le Mans em 2000.
Nenhuma modificação foi realizada nos dois exemplares do Viper ACR GTS-R que foram levados para Nürburgring. Os carros estão sob o comando dos pilotos alemães Dominik Farnbacher e Lucas Stolz. O primeiro foi cara que conduziu o Dodge Viper ACR da geração passada no Inferno Verde em 2011 e virou o tempo de 7:12,13; e o segundo conquistou a pole position com o Viper nas 24 Horas de Nürburgring recentemente. São caras que sabem como fazer o Viper andar rápido em Nür.
A primeira tentativa estava marcada para o dia 24 de julho, e a equipe havia conseguido agendar uma sessão de uma hora, com a pista fechada, para tentar registrar a volta. No entanto, a chuva acabou com a primeira sessão, o e obrigou a equipe a treinar por oito dias durante as tourist laps, que não oferecem as condições ideais para treinos, uma vez que há centenas de outros carros e um grande risco de acidentes.
Além disso, o aluguel de Nürburgring é muito caro e, ao contrário de grandes fabricantes de automóveis e pneus, que conseguem reservar a pista só para si por vários dias consecutivos (ainda assim rachando a conta por causa do preço do aluguel, no chamado “industry pool”), os caras da Prefix-Arrow só podem ficar com o circuito para si por períodos curtos de tempo, encaixados entre outros horários já reservados.
A janela seguinte de uma hora aconteceu apenas na tarde de ontem. Em sua primeira volta com céu limpo, pista fechada e asfalto seco, Dominik Farnbacher conseguiu virar 7:03,45 com o Viper ACR – um belo tempo, quase dez segundos abaixo do recorde anterior do superesportivo americano e, só para referência, cinco segundos mais veloz que os 7:08 que o Nissan GT-R Nismo marcou em 2015. #GodzillaOuLagartixa?
Segundo Farnbacher, o Dodge Viper ACR pode ser ainda mais rápido. Olha só o que o pessoal postou no Facebook, com direito a uma cutucada pela polêmica do Lamborghini Huracán Performante:
Dia 8: depois de ficar aqui por oito dias, demos nossa primeira volta hoje. O ACR virou 7:03,45 logo de cara, sendo que este é o segundo ou terceiro tempo mais rápido de um carro produzido em série já registrado no ‘Ring, dependendo se você acredita ou não que a Lamborghini realmente deu uma volta de 6:52 sem testemunhas e com irregularidades no vídeo deles. Era para darmos mais uma volta amanhã, mas é difícil garantir qualquer coisa até esta coisa realmente acontecer.
Se chover, vamos ter que adiar mais uma vez. Dominik relata que, para ele, carro é capaz de uma volta abaixo dos sete minutos. Acreditem quando a gente diz que está fazendo tudo o que pode. Se fosse para voltar em agosto, teríamos de levantar pelo menos mais US$ 50 mil para cobrir os gastos não previstos.
Esta última frase é uma referência à campanha de crowdfunding, que arrecadou cerca de US$ 175 mil para financiar a viagem e segue recebendo doações.
A previsão de Dominik é corroborada por alguns fatores. Primeiro, pelo Viper ACR X, versão de competição da geração passada, que tinha um motor de 650 cv e virou 7:03 em Nürburgring há alguns anos. Para a Prefix-Arrow, a aerodinâmica do ACR atual é mais eficiente e o motor é tão potente quanto.
No vídeo acima, Dominik comenta que está aprendendo a explorar os limites dos pneus e o sub-esterço nas entradas e sobresterço nas saídas de curva, e que acredita que precisa de mais um tempo para aprender a lidar com as reações do carro, mas que uma volta abaixo dos sete minutos é viável.
A Prefix-Arrow acrescenta que, com as recentes mudanças no traçado de Nürburgring, é bem possível que o fato de a pista estar mais rápida contribua bastante para aproximar o Viper ACR de seu objetivo: uma volta pelo menos 10 segundos mais rápida que a do Viper ACR X. Se o tempo ajudar, uma nova volta deverá acontecer ainda hoje. Vamos ficar ligados!