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Wankel symphony: os diferentes roncos do motor sem pistões da Mazda

Está precisando de um gás depois do almoço? Não tema, pois vemos resolver seu problema: eis uma coletânea fresquinha de motores Wankel berrando alto para te animar nesta tarde de sexta-feira!

Se você sabe do que se trata um motor rotativo Wankel e conhece sua diferença fundamental em relação aos motores convencionais, já está com água na boca. Se não sabe ou esqueceu (acontece…), fique sossegado: a gente já explicou outras vezes aqui no FlatOut, e por isso mesmo não nos custa relembrar.

Um motor Wankel é diferente de um motor com pistões reciprocantes porque ele, bem… não tem pistões reciprocantes. Em vez de um virabrequim, bielas e pistões, o motor rotativo Wankel tem rotores triangulares com lados convexos. São eles que comprimem, contra as paredes internas da câmera de combustão, a mistura ar-combustível e movimentam o eixo principal do motor, que por sua vez é ligado ao eixo da transmissão de forma análoga a um virabrequim convencional.

Tal configuração tem vantagens e desvantagens. Um motor Wankel tem menos partes móveis e, por isso, tem menos peças para quebrar e é mais leve e compacto. Sua eficiência energética é maior (eles rendem mais potência com menos deslocamento), eles giram mais, vibram menos e roncam muito, muito bonito. As desvantagens são consumo exacerbado de lubrificante e combustível – que foram os principais motivos para que a Mazda retirasse o Wankel de linha.

Mas vamos nos focar nas vantagens. Ou melhor, em uma delas: o ronco. Porque, para nós, um belo ronco é uma vantagem – e, no caso do Wankel, estamos falando de um berro agudo, rasgado e cheio de caráter.

Se você fizer uma pesquisa rápida na Internet, vai notar que é muito fácil encontrar vídeos intitulados “THE ULTIMATE MAZDA RX-7 COLLECTION” – assim mesmo, com letras maiúsculas. O caso é que, de fato, não falta material para isto. Mesmo um Wankel mais simples, de dois rotores, com deslocamento de 1,2 litro, tem um ronco bem interessante, cuja pulsação alternada lembra bastante a de um seis-em-linha.

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Trata-se de um RX-7 de segunda geração (FB2) preparado para ralis. Seu motor naturalmente aspirado de 1,3 litro é capaz de entregar nada menos que 280 cv. Estes motores costumam passar tranquilamente das 9.000 rpm, mas mesmo em marcha lenta nos presenteiam os ouvidos.

Repare na pulsação alternada do motor em lenta, que gera uma nota muito parecida com a de um seis-em-linha

Em 1980 e 1981 a Mazda venceu o Campeonato Britânico de Carros de Turismo (BTCC) com o RX-7, enfrentando caras como o Ford Capri, o Alfa Romeo Sprint e o VW Golf GTI.

Os motores Wankel usavam dois rotores por muito tempo – o Mazda Cosmo, primeiro modelo com motor rotativo produzido em série pela Mazda, lá nos anos 60, tinha um Wankel de dois rotores e apenas 982 cm³ de deslocamento. Ele não era nem 1.0. E entregava até 130 cv!

Mas vamos focar no RX-7. Embora ele tenha usado o motor 13B, de dois rotores, ao longo de toda a sua carreira, a Mazda ofereceu um motor Wankel de três rotores nos anos 90 em seu cupê esportivo de luxo, o Eunos Cosmo.

Cada um dos rotores de um 13B desloca 654 cm³, o que dá um deslocamento total de 1.308 cm³. Já o 20B, tem três rotores de 654 cm³ cada, totalizando 1.962 cm³ – que a Mazda arredondou para dois litros. Ou seja, como você já deve ter sacado, o motor Wankel 13B desloca 1,3 litro, e o 20B desloca dois litros.

Com um rotor a mais, o 20B tem um ronco mais parecido com um três-cilindros dois tempos, porém com um toque a mais de agressividade. O que chega ser curioso em um carro elegante como o Eunos Cosmo, aliás. Ele era um cupê tão caro que, depois que saiu de linha em 1996, a Mazda ainda não lançou outro carro na mesma faixa de preço. Imagine só: ele foi lançado em 1990 e tinha central multimídia com navegação por GPS!

Agora, como um motor Wankel 20B não é assim tão maior do que um 13B, não é incomum que se coloque o motor do Cosmo no Mazda RX-7. Existem muitos vídeos bem barulhentos com exemplares “swapados” do esportivo, de todas as gerações.

Fica mais incrível ainda quando a gente lembra que o motor deste carro desloca apenas dois litros mas, com a ajuda de dois turbos para respirar muito melhor, é capaz de entregar quase 560 cv. São 280 cv por litro, baby. Curiosidade: um setup de turbos comum nos RX-7 consiste em um turbo maior e o outro menor, que atuam de forma sequencial: em baixas rotações, a turbina pequena “enche” mais rápido até que, em altas rotações, a turbina maior comece a atuar. Com isto, o turbo lag é bem reduzido.

Mas você quer saber o que é loucura de verdade? Então ouça este RX-7 com quatro rotores.

Sim, é um 26B – um 13B com tudo em dobro. Quatro rotores de 654 cm³ cada, deslocando um total de 2.616 cm para entregar pelo menos 600 cv em sua configuração mais mansa. É a mesma ideia do motor R26B usado pelo Mada 787B, único protótipo japonês em toda a história a vencer as 24 Horas de Le Mans, em 1991. Em seu acerto mais brutal, o 787B tinha nada menos que 930 cv, e o motor girava a 10.500 rpm para soar como o famoso Enxame de Abelhas Furiosas™. E por isso, o ronco de ambos é bem parecido, lembrando um Fórmula.

Existem versões ainda mais extremas do motor Wankel – até porque ele é pequeno e não é difícil fazer um Wankel com seis rotores – dois motores 20B alinhados, deslocando quatro litros. Um 40B! Repare nos corpos de borboleta individuais e na falta de capô. Não tinha como não ser ensurdecedor.

Oito rotores são pouco para você? Que tal então 12? O motor “52B” que estes caras fizeram tem porte físico similar ao de um V8 big block, porém é capaz de entregar 1.400 rpm sem qualquer tipo de indução forçada – de acordo com a descrição do vídeo, é possível que a potência dobre ou até triplique com combustível de alta octanagem e um ou dois turbos.