Estamos diante de uma revolução. Não uma daquelas que ocorrem da noite para o dia, mas uma revolução constante e inevitável: cedo ou tarde os carros elétricos serão a norma, e motores a combustão interna serão coisa para quem gosta, para entusiastas, um mercado de nicho — um hobby. Esta visão do futuro incomoda muita gente e, confessamos, também nos assusta um pouco. Mas se os carros elétricos tiverem todo o potencial do Zombie 222, talvez eles não sejam uma ideia tão ruim assim.
O Zombie 222 é o primeiro carro construído pela Bloodshed Motors, empresa fundada no ano passado por Mitch Medford, ex-CEO de uma empresa de tecnologia que sempre foi apaixonado por muscle cars americanos. Todos os carros que ele teve usavam motores V8 que queimavam gasolina, faziam barulho e andavam rápido, e o Ford Mustang é sem dúvida seu favorito. Não se engane: Medford ainda ama motores V8. Então o que o levou a abrir uma companhia especializada em transformar muscle cars em máquinas elétricas?
Uma palavra: Tesla. Mais especificamente, um quadro do Top Gear no qual Jeremy Clarkson coloca um Tesla Roadster para disputar uma arrancada contra um Lotus Elise (que é a base do Tesla Roadster) — e fica impressionado com o desempenho do esportivo elétrico.
Mitch também ficou impressionado (com razão, diga-se) e teve uma ideia: popularizar os carros elétricos entre os entusiastas, inserindo-os na comunidade de restauração e preparação de carros clássicos, como conta um artigo publicado recentemente pelo The Verge. Imediatamente, Mitch deixou sua empresa e abriu a Bloodshed Motors.
Obviamente ele não faria tudo sozinho, e por isso recrutou uma equipe disposta a embarcar na mesma aventura: Jack Lapenta, que já havia trabalhado com Mitch na IBM, para cuidar dos sistemas eletrônicos; Allen Koester, outro amigo, cuidaria dos aspectos mecânicos do carro e de todo o resto; e John Wayland seria o responsável técnico do projeto. Mitch conheceu Wayland enquanto pesquisava mais sobre carros clássicos com motores elétricos, e descobriu que ele era dono de um Datsun 1200 1972 conhecido no circuito de arrancadas como “White Zombie”.
Com dois motores elétricos debaixo do capô, o pequeno japonês era capaz de chegar aos 100 km/h em menos de dois segundos, e seu criador era o cara perfeito para o trabalho. Depois de alguns emails trocados, Wayland mergulhou de cabeça na Bloodshed Motors, e o time começou a trabalhar imediatamente para dar vida ao “Black Zombie” inspirado pelo Datsun de Wayland.
Logo no início do projeto, o nome foi modificado para Zombie 222. Isto tem a ver com o arranjo do conjunto: dois motores elétricos e dois módulos eletrônicos de controle, um para cada motor. O outro “2” é de “too damn fast” , o que faz bastante sentido se olharmos os números de aceleração: 0 a 96 km/h (0-60 mph) em 2,4 segundos e quarto-de-milha em 10,7 segundos a 201 km/h— números impressionantes para um Mustang fastback 1968, ainda que eletrificado.
O Mustang foi escolhido por Mitch por ser um clássico americano instantaneamente reconhecido — mesmo quem não curte muito carros conhece o clássico da Ford, e isso é essencial para a imagem que a Bloodshed Motors quer transmitir.
Mitch procurou bastante por um Mustang íntegro e equipado com um small block de 302 pol³, a versão mais comum do modelo. Para ele, transformar qualquer versão mais potente ou mais rara seria um sacrilégio.
O carro recebeu pintura preta com faixas verdes, um spoiler dianteiro do tipo lip e rodas maiores — no mais, é um tradicional Mustang restaurado, com suspensão traseira por eixo rígido e interior completo, com aspecto bem próximo do original. O verdadeiro diferencial está mesmo debaixo do capô: os dois motores elétricos, um atrás do outro, que são alimentados por baterias de polímero de lítio no porta-malas (que ficam enclausuradas por uma caixa de acrílico com luzes de neon azuis) e, juntos, entregam o equivalente a 800 cv e espantosos 250 mkgf de torque.
O resultado pode ser visto na prática no vídeo abaixo, que é um dos vários que Mitch mostra aos entusiastas curiosos que descobrem que aquele Mustang preto não tem um motor — ou ao menos, não o tipo de motor que eles esperam.
Mas isto não é tudo: a ideia de Mitch desde o início é transformar a conversão de clássicos americanos em carros elétricos em um negócio viável. Para isto, ele quer provar que o Zombie 222 pode ser um carro divertido, rápido e empolgante, sem dever em nada a seus irmãos que queimam combustível fóssil.
Para isto, ele levou o Zombie 222 para o Texas Mile, evento que acontece duas vezes por ano em uma pista de pouso abandonada de 1,5 milha (2,4 km) com o objetivo de encontrar o carro mais rápido dos EUA em uma milha. Com um conjunto de baterias de 1,1 megawatt — suficiente para elevar a potência dos dois motores a cerca de 1.400 cv — Mitch conseguiu chegar aos 280,34 km/hnos 1.600 metros, quebrando o antigo recorde para carros elétricos no Texas Mile — 249,k km/h, conseguidos pelo presidente da NHRA, John Metric, ao volante de um Pontiac Fiero elétrico em 2012.
Com estas credenciais, Mitch agora espera pelo primeiro cliente a encomendar um clássico elétrico; alguém que esteja disposto a pagar pelo menos US$ 200 mil, ou cerca de R$ 600 mil em conversão direta. Por enquanto, o Zombie 222 continuará sendo o carro de demonstração — das mais convincentes, diga-se.