Cenas lamentáveis. Esta expressão costuma ser usada no futebol, mas infelizmente ela também pode se aplicar ao automobilismo, como pudemos comprovar no último sábado (16), no kartódromo da Granja Viana, em São Paulo/SP. Nos últimos minutos de uma corrida disputadíssima, pilotos das equipes Sambaíba e MDG Matrix partiram para a agressão e, por conta disto, ambos os times foram desclassificados.
A prova em questão era a 500 Milhas de Kart, já tradicional no calendário automobilístico brasileiro. Realizada desde 1996, a prova é uma grande celebração de fim de ano, com a presença de grandes nomes do esporte a motor brasileiro como Felipe Massa, Rubens Barrichello, Lucas di Grassi, Antônio Pizzonia, Christian Fittipaldi e os irmãos Nelsinho e Pedro Piquet.
A situação aconteceu por volta da 11ª hora de corrida (são 12 horas no total). Felipe Massa, principal piloto da MDG Matrix, estava na ponta. Segundo Massa contou ao Grande Prêmio, após ultrapassar o kart #3, de Thiago Camilo, da Sambaíba, os pilotos retardatários da equipe rival começaram a tentar tirá-lo da pista com pancadas propositais. “A confusão é que a gente estava brigando na pista, cara. E, do nada, um monte de carro laranja começou a se juntar e bater em mim, tentando me jogar para fora”, Massa disse ao GP.
O próprio Massa admitiu que sua equipe errou ao responder na mesma moeda. E, de fato, o que se seguiu foi uma verdadeira batalha campal, com os karts laranja e os karts azuis se estranhando por toda a pista, a cada oportunidade.
Foi então que aconteceu o incidente que culminou em violência física. Um dos pilotos da equipe Sambaíba, Rodrigo Soares, no kart nº 25, tocou novamente Felipe Massa, que ficou com o kart danificado, enquanto Tuka Rocha, também da Sambaíba, assumiu a liderança com o kart #21.
A coisa, então, saiu do controle: segundo relatos, carros que já estavam fora da corrida começaram a voltar para a pista para “dar o troco”. No meio do bolo, o carro #119 da Matrix bateu na traseira do carro 21 em uma manobra “PIT”, aparentemente com a intenção de fazer o carro rodar. Ambos foram parar na barreira de pneus a 18 voltas Do fim da prova.
Depois do choque, os dois pilotos saíram de seus karts e começam a se agredir. A cena lembra inicialmente a briga de Piquet e Salazar em 1982 no GP da Alemanha, mas infelizmente não se resume a uns tapas e empurrões. Dantas joga Tuka no chão e o que se sucede é uma briga séria, que culmina com um perigoso estrangulamento à beira da pista que só foi cessado após a (demorada) atuação dos fiscais. O confronto se estendeu para os outros carros e até para o paddock.
Por conta disto, as duas equipes foram desclassificadas e o kart #71 da equipe Barrichello Hero, com Rodrigo Suzuki, assumiu a ponta e levou a bandeira quadriculada.
O pessoal do Projeto Motor estava lá, e Lucas Santochi dá sua análise no vídeo abaixo – com direito a algumas palavras de Rubens Barrichello, visivelmente surpreso pela vitória inesperada de sua equipe: “a gente só venceu por isso”, diz ele, referindo-se à briga.
A repercussão do ocorrido foi grande, incluindo notas de sites internacionais como o WTF1, o Jalopnik o Motorsport.com. Ingo Hoffman, que estava acompanhando tudo, declarou no Facebook que “todos têm um pouco de culpa” – os pilotos, pela falta de equilíbrio emocional, mas principalmente os comissários desportivos, que demoraram a tomar uma atitude.
Sou da opinião que TODOS (pilotos e chefes de equipe) têm um pouco de culpa, mas acho que os PRINCIPAIS culpados, são os Comissários Desportivos, que não tomaram uma atitude severa, assim que começaram os “jogos de equipe” perto do final da prova, deixando a situação ficar totalmente fora de controle.
Logicamente os pilotos diretamente envolvidos tem que ser punidos, principalmente o piloto que tentou o estrangulamento, por mostrar total desequilíbrio emocional. A simples desclassificação das 2 equipes, para mim não basta.Li agora uma nota de Repúdio da CBA, dizendo que a prova estava sob responsabilidade de uma Liga! Esta corrida ja se tornou tradicional no calendário Brasileiro, sempre com a presença de grandes nomes do Automobilismo, e com um envolvimento para mim surpreendente de patrocinadores, portanto tem que ter Comissários Desportivos e um Diretor de Provas à altura dos nomes e marcas presentes.
Estou realmente curioso para ver se algo mais acontecerá com os pilotos/equipes envolvidas, mas principalmente curioso para ver se os Comissários Desportivos sofrerão algum tipo de penalização (duvideodó) uma vez que a CBA não tem nenhum tipo de autonomia neste caso.
A nota da Confederação Brasileira de Automobilismo a que Ingo se refere diz o seguinte:
A Confederação Brasileira de Automobilismo vem a público manifestar seu total repúdio ao aviltante fato ocorrido durante as 500 Milhas de Kart Granja Viana. Cenas como as vistas neste último sábado, 16, desonram qualquer apaixonado por velocidade e lesam de forma contundente a imagem do nosso esporte.
Atitudes assim não podem, sob nenhuma hipótese, passar incólumes. Pelo bem da nossa modalidade, exigimos que a Liga Paulista de Automobilismo e seu tribunal tomem atitudes enérgicas contra os personagens que geraram tão inqualificável episódio.
Ainda que o evento tenha sido realizado por uma instituição independente, ou seja, não subordinada às instâncias jurídicas da CBA, nós, como entidade máxima do automobilismo, daremos todo o apoio necessário para que a LPA possa fazer justiça junto aos envolvidos. Já nesta próxima segunda, 18, enviaremos um ofício a sua diretoria solicitando que sejam aplicadas todas as medidas cabíveis.
Por fim, qualquer que seja a punição aplicada, esperamos que todos os profissionais envolvidos possam enxergar e compreender o desserviço que prestaram ao nosso esporte e que fatos como esse nunca mais voltem a ocorrer em nossas pistas.
Waldner Bernardo “Dadai”
Presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo
A nós, resta lamentar e acompanhar o desenrolar desta história. E, claro, torcer para que não se repita.