Há pouco tempo atrás, noticiamos e falamos um pouco mais a respeito dos dois primeiros exemplares do Toyota Supra equipados com o mítico motor 2JZ. Não por acaso, ambos estão sendo montados no Japão, e ambos por pilotos de drift: Daigo Saito e Masato Kawabata.
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Agora, foram revelados mais detalhes sobre o build do carro de Daigo Saito, que tecnicamente foi o primeiro dos dois, revelado dias antes do projeto de Kawabata. E também fez mais barulho internacionalmente, talvez pelo fato de o nome de Saito ser mais conhecido fora do Japão – embora a fama local dos dois se equipare.
Como comentamos no post anterior, o Supra A90 com motor 2JZ se junta a seu Toyota Mark II de 1.000 cv, seu Nissan GT-R de tração traseira e seu Lamborghini Murciélago de dorifuto no rol de projetos insanos tocados por Saito. Mas talvez o Supra seja ainda mais interessante pelas circunstâncias: o carro foi revelado há poucas semanas, sua produção em série começou no começo há alguns dias e as encomendas só poderão ser realizadas a partir de outubro.
Patrocinado pela Monster Energy, pela Sunoco e pela HKS, além de contar com o apoio da própria Toyota (que certamente está interessadíssima em todo o buzz), Saito recebeu um protótipo camuflado diretamente da Gazoo Racing, divisão esportiva e de competição da fabricante japonesa.
Isto nos permite deduzir que Saito e a Toyota já estavam trabalhando no projeto do swap antes mesmo de o Supra ser revelado. E isto certamente contribuiu para que, entre a entrega do carro e o primeiro shakedown de verdade, tenham se passado apenas 42 dias.
Parte do processo foi documentada no vídeo abaixo, publicado pela Monster nesta semana. Também é possível ver o carro em ação e conferir o belo ronco do 2JZ.
Graças ao vídeo descobrimos que o carro, originalmente, era vermelho. A equipe de Daigo Saito foi quem pintou o cofre e o interior de branco, além de dar à parte de fora da carroceria um envelopamento que junta o verde-e-preto clássico dos projetos de Saito, com o cinza e vermelho da Toyota Gazoo Racing.
Também são mostrados alguns passos básicos do swap – a remoção do motor B58 original, a instalação dos suportes feitos sob medida para o 2JZ e desmontagem/remontagem do interior, trocando diversos itens do interior por componentes mais leves, de competição, ou simplesmente os eliminando. Afinal, este é um projeto de pista.
O Supra de Daigo Saito, ao que tudo indica, terá o mesmo papel de seu Murciélago – ele não competirá no D1 Grand Prix, mas será usado nas exibições que precedem as disputas de verdade, puramente para entreter os presentes. O que de forma alguma desabona o projeto.
Sem estar sujeito ao regulamento do D1GP, o Supra A90 de Saito gozou de certas liberdades, por exemplo, a alteração do posicionamento do motor. O 2JZ foi recuado em alguns centímetros para para melhorar a distribuição de peso do carro – mesma razão pela qual os radiadores foram deslocados para a traseira, apesar de haver espaço de sobra na dianteira.
Uma gaiola de proteção integral foi instalada no monobloco, e diversos componentes de fibra de carbono foram instalados no interior, como o painel de instrumentos, o revestimentos das portas, o console central e o apoio para os pés do piloto. O volante é um Prodrive de saque rápido, e o cluster de instrumentos é uma unidade aftermarket digital.
Sem as amarras do regulamento, Daigo Saito também esteve livre para escolher as especificações do motor 2JZ. Assim, ele optou por um kit stroker para 3,4 litros da HKS, composto por virabrequim, pistões e bielas forjados. Com o kit, o diâmetro dos cilindros passa de 86 para 87 mm, enquanto o curso dos pistões aumenta de 86 para 94 mm. O deslocamento total vai de 2.997 cm³ para 3.352 cm³. Para se ter uma ideia, o kit completo custa US$ 9.500, ao menos – cerca de R$ 37.000 em conversão direta. Mais uma das vantagens de se ter um patrocinador grande…
O motor, originalmente biturbo, no carro de Saito é sobrealimentado por apenas um turbocompressor HKS GTIII-4R, com duas wastegates externas, também da HKS. Operando a relativamente conservadores 0,98 bar, o turbo é o principal responsável por levar a potência do 2JZ a pelo menos 800 cv, com 90 kgfm de torque acompanhando – nada menos que 335 cv e 39,5 kgfm a mais que o motor BMW B58 usado originalmente pelo Supra A90.
O motor é acoplado a uma caixa manual sequencial de seis marchas da Samsonas, ligada a um diferencial traseiro Winters.
Nos carros de drift, tão importante quanto o powertrain é o setup de suspensão. O Supra de Saito teve todo o sistema de suspensão feito sob medida pela Wisefab, que desenvolveu sistemas multilink dianteiro e traseiro especialmente para o projeto, com amortecedores ajustáveis da HKS. E como estes componentes foram fabricados sem acesso ao carro para tirar as medidas? Simples: as peças foram projetadas usando como referência modelos em 3D de alta resolução, escaneados de um dos protótipos.
Os dados foram obtidos por outra companhia envolvida no projeto – a TRA Kyoto, fabricante dos bodykits da Rocket Bunny, que desenvolveu os componentes aerodinâmicos do Supra: para-lamas dianteiros e traseiros, spoiler dianteiro, saias laterais e difusor traseiro, além de uma asa inspirada pelos Toyota Supra que participavam de provas de turismo nas décadas de 1990 e 2000.
Os para-lamas mais largos abrigam rodas Potenza RW006 de 19 polegadas na dianteira e 20 polegadas na traseira, com pneus Wanli de medidas 275/35/19 e 285/33/20, respectivamente. Atrás delas, há freios Endless com discos de carbono-cerâmica.
O que o vídeo não mostra – compreensivelmente – é o pequeno incidente que ocorreu durante a primeira aparição oficial do A90 de Daigo Saito no D1GP, no fim de semana passado: o carro começou a pegar fogo no meio da arena montada em Tóquio.
Foi uma estreia bem aquecida, sem dúvida. Mas não estamos exatamente surpresos – certamente algum detalhe passou despercebido pela equipe de Saito com a correria para montar o carro em seis semanas.
Não se comenta exatamente o que causou o incêndio. Pelas imagens postadas pelo próprio Saito no Instagram, porém, seus mecânicos já estão tomando as devidas providências.