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Car Culture História

Por que Henry Ford II chora em “Ford vs Ferrari”?

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Nós, essa raça de primatas pelados chamada “Humana”, somos uma espécie profundamente falha. Cada um de nós é imperfeito de tantas maneiras diferentes que nem nós mesmo às conhecemos todas. Precisamos às vezes até de profissionais para explicá-las de volta para a gente, sejam esses profissionais policiais ou psicólogos.

Num mundo onde a virtude infalível, o profissionalismo sólido, e a responsabilidade para com o planeta são exigidos como leis imutáveis escritas em pedra, e qualquer escorregadela encontra apedrejamento público na praça virtual, e não há escapatória via monitoramento constante de todos, é um mundo onde a tristeza e a depressão imperam. Seres imperfeitos por natureza, forçados a serem perfeitos nos mínimos detalhes. Receita básica da miséria humana.

O nome no meio do volante te diz que eu nasci pronto, Shelby. Hit it!

Uma parábola para isso existe na história do automóvel, de uma forma tão completa que parece inventada.  Henry Ford, o fundador da companhia que leva o seu nome, é um ser humano, e como todo ser humano, profundamente imperfeito e contraditório. E ao impor sua própria visão de perfeição (um espelho!) para seu filho, criou miséria humana tão pesada e perene que durou gerações.

O filme Ford vs Ferrari trata não de Henry Ford e seu filho, claro, o Henry Ford ali é o segundo Henry Ford, neto do fundador. Mas é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos de qualquer forma. Claro, erra num monte de fatos históricos, de propósito, para fazer uma história mais agradável, e que cabe em duas horas e não dois anos para contar. Mas acerta no básico, e conta os aspectos mais importantes da história mais épica da história do automobilismo de uma forma que até leigo entende.

Também foca em Ken Miles e Carrol Shelby, um acerto que transforma tudo; não fala da Ford ou da Ferrari na verdade, corporações largamente sem face apesar de seus donos famosos, mas sim daqueles hot-rodders, pilotos, mecânicos, engenheiros e desenhistas profundamente apaixonados por automóveis que se reuniram a Shelby em 1962, e fizeram história. Foca em gente de verdade, que fez coisas grandes por paixão, e não por seguir ordens do chefe.

Mas quando retrata Henry Ford II, o que faz poucas vezes, o filme o faz de forma cirúrgica. E a cena que vamos dar contexto hoje, a da crise de choro dentro do GT40, é a mais genial de todas. Mas para explicar ela, temos que voltar um pouco no tempo, e contar como Henry “The Deuce” Ford II chegou a este exato ponto na sua história. Por isso a cena é genial: é emocionante, mas somente para quem conhece toda a história. Para o leigo, funciona como algo engraçado apenas, e move a história adiante, mas é só. O significado oculto, veremos, é bem maior.

Henry e Edsel

É difícil tentar definir Henry Ford em poucas linhas; montanhas intransponíveis de papel já foram impressas tentando fazer isso, sem sucesso. Mas vou tentar cobrir o básico aqui.

Henry e Edsel Ford

Existe primeiro o engenheiro nato Henry Ford. Pode ter nascido numa fazenda em Dearborn, no Michigan, perto de Detroit, mas o fez quando ali só tinha mato, em 1863, num mundo ainda sem automóveis. Ainda assim, é um dos maiores engenheiros automotivos da história.

Muita gente se concentra na linha de montagem e produção em massa como sendo sua grande contribuição. É verdade em parte, mas a produção em massa era uma evolução inevitável; a grande coisa que Ford fez, de verdade, foi criar um carro excelente, por um preço baixo, e apostar grande no seu sucesso, investindo em uma produção alta que baixaria ainda mais o preço.

Pai e filho, e 15 milhões de modelos T

O Ford modelo T não era um carro pequeno; era um carro simples, mas com desempenho e durabilidade superiores até à muita coisa bem mais cara, quando foi lançado. Com ele, a Ford cresceu incessantemente, até se tornar o maior fabricante mundial, e fazer de Ford uma das pessoas mais ricas do mundo em 1920. Jeff Bezos, Bill Gates e Musk, tudo em um cara só. A fortuna de Henry Ford era grande demais até para ser contada.

Ford mudou o mundo. De verdade, e para melhor. Fez o automóvel acessível, usável, útil e indispensável à qualquer família. Obrigou a abertura de estradas e ruas para ele, tornou lugares distantes fáceis de se conhecer. Criou uma classe média forte no Michigan, motor indispensável da economia americana. Do Brasil à Austrália, seus modelo T eram onipresentes.

Em 1905, com um Ford modelo F

Mas mesmo sendo mais rico que Creso, Henry Ford era um sujeito firmemente plantado em suas origens puritanas e bucólicas. Acreditava que bebida e cigarro eram coisa do Demo, que trabalho duro, com as mãos, era a única forma de viver. Lembre que seu primeiro carro foi feito por ele mesmo, no porão de sua casa, e que ele quebrou a parede para poder sair com ele. Planejar? Henry Ford fazia.

Isso por existir a pessoa Henry Ford também. Meio bronco, sem educação formal. Mais que isso: desenvolveu intenso desprezo por gente bem educada e com diploma universitário; somente depois de morrer elas apareceram na Ford, por incrível que pareça. Seu sucesso incomensurável validou em sua cabeça seu modo de vida como certo, suas crenças como absolutas: é famoso anti-semita, e criou um sistema de controle da vida dos empregados que era mais eficiente, e quase tão cruel, quanto uma KGB ou uma Stasi.

Infância feliz: Edsel rebocando amigos com um Ford modelo N

O chefe deste “serviço social” era Harry Bennet, um ex-boxeador e mafioso de pequena monta que se tornou amigo fiel de Henry, basicamente puxando o saco. O famoso salário de 5 dólares por dia, duas a três vezes maior do normal na época, só era pago para quem aderia às regras de Ford: não beber, não fumar, sair do trabalho e ir para casa cuidar da família, etc. Intenção boa, mas a partir do momento que o serviço social começou a policiar isso… Corrupção, loucura, briga, intriga, e miséria humana em geral.

Henry Ford teve somente um filho, com sua amada esposa Clara. Quando Edsel Bryant Ford nasceu em 1893, Henry ainda era o engenheiro-chefe da Edison Illuminating Company de Detroit, mas quando tinha 15 anos seu pai já era um industrial do automóvel, lançando um certo Modelo T. Mais 5 anos, e já era filho do homem mais rico do mundo.

Edsel e seu T speedster de seis cilindros

Edsel Ford não podia ser mais diferente de seu pai. Henry gostava de brincadeiras “de mão”, de esportes e de gente que trabalhava com as mãos. O campo das ideias, dos estudos, das artes e do futuro não era sua praia. Henry se achava um homem do povo, e não se misturava com as “elites”; uma negação maluca do fato de que era a maior elite de todas, em sua época.

Já Edsel era uma pessoa quieta, que odiava os holofotes. Foi educado nas melhores escolas, mas não pode fazer faculdade, pois o pai não acreditava nisso: saiu do segundo grau para trabalhar na Ford, onde logo foi alçado à presidência. De qualquer forma, seu círculo de amizades e sua cabeça era outra: gostava de arte, de música e de ler. Não era nada parecido com seu bronco pai.

Edsel, feliz com seu Mercer 1912

Edsel também era um entusiasta do automóvel, de verdade. Desde cedo teve acesso ao melhor nesse campo, e antes dos 18 anos já andava por Dearborn com um roadster modelo T com seis cilindros, feito experimentalmente na fábrica para ele. Teve Bugatti, Hispano-Suiza, Mercedes, Packard e muitos outros. Sabia dirigir bem e rápido, e o fazia regularmente; automóveis de alto desempenho eram uma paixão para ele.

Era também um entusiasta do desenho automotivo, e o criador e fundador de um departamento de estilo na Ford, à revelia de Henry.

Edsel e a esposa, com um Lincoln. Edsel comprou a empresa e a tocou como sua, longe do pai.

Seu pai era um entusiasta da engenharia. Achava que o modelo T era tudo que uma pessoa jamais precisaria, e todo resto de desejo automotivo era uma degeneração consumista a ser evitada. Não se interessava muito em competições, e achava que a velocidade máxima de um T, estonteantes 70 km/h, era mais que suficiente. Design? Um carro era desenhado por sua função e boa. E cor, só uma, se fosse possível.

Henry e Edsel não concordavam em nada. NADA. Mas Edsel, o bom filho, e um admirador perene dos feitos do pai, acatava tudo que ele pedia, resignado. Henry então achava o filho um fraco por isso. Tentou mudá-lo então. Conversando e ensinando? Não. Usou a posição dele na empresa, e seu capanga Harry Bennet, para tornar sua vida na Ford um inferno, de propósito. A ideia, por mais idiota que fosse, era que uma hora, ele iria se revoltar e brigar.

A saga do modelo A é um exemplo claro desta briga. Desde o meio dos anos 1910, Edsel tentava convencer o pai que o mundo estava mudando, e ele precisava de um novo carro. E um com desenho de carroceria melhor, como os da GM, que ganhava terreno a passos largos. Mas o velho Henry não queria nem saber, o modelo T era eterno. Certa vez descobriu um protótipo, feito escondido por Edsel e seus companheiros. Pegou uma marreta, subiu no teto dele, e começou a bater; só parou quando todo o carro estava todo bem achatadinho no chão.

Foi somente quando o modelo T basicamente parou de vender em 1926, que resolveu agir. O Modelo A de 1928, com desenho de Edsel e engenharia de Henry, foi um dos maiores sucessos da história da companhia, e talvez a única obra conjunta de verdade dos dois.

Mas Edsel nunca se revoltou como queria o pai. Só aceitou resignado. Se afastou do pai, foi morar com sua mulher e filhos em Grosse Point, vizinhança chique que o pai desprezava, para fugir dele. Mas ainda trabalhava na Ford, e sua vida era uma de humilhação constante e diária. Muitos na fábrica diziam que o velho ia acabar matando o gentil Edsel de desgosto.

Na fábrica da Lincoln, o Bugatti tipo 35A 1929 de Edsel. Bom gosto.

Pode ser um exagero meu, e não há como provar isso. Mas para mim, o que acontece em seguida é culpa exclusivamente de Henry, exatamente como pensavam seus empregados: uma úlcera no estômago de Edsel logo vira câncer. Aos 49 anos em 1943, vem a falecer Edsel Ford.

É uma grande tragédia. Sua família, esposa e quatro filhos, o mais velho deles Henry Ford II, o venerava, e por isso nunca mais perdoou o patriarca. Na empresa também, todos adoravam o simpático, discreto e sempre educado Edsel. Henry Ford? O velho, agora com 80 anos, fica completamente senil. Culpou o álcool e a vida “degenerada” em Grosse Point, e começou a falar uma bobagem atrás da outra. Todo mundo sabia: ficou louco.

Henry, já idoso, com os amigos Thomas Edison e Harvey Firestone

O que se segue é um período negro. Harry Bennet se aproveita do velho para efetivamente tocar a empresa, e colocar a família para fora. Henry Ford II, um jovem de 26 anos, está servindo na Marinha, num país em guerra. O governo americano, com medo de caos em um de seus maiores fornecedores de material bélico, dispensa o jovem Ford, que vai trabalhar na empresa e tentar descobrir o que acontece lá.

Pacientemente por dois anos, Henry Ford II aprende os meandros da empresa, dando uma de jovem inexperiente, principalmente na frente do avô e o canalha Bennet.

Henry Ford II, Harry Bennet e Henry Ford: raiva reprimida

Até que, com a mãe, uma noite vai até a mansão “Fairlane” falar com a avó Clara, esposa de Henry, com um ultimato: ou o avô deixa a empresa em favor do jovem Henry Ford II, ou eles venderiam as ações e ela nunca mais veria os netos. Clara diz ao senil e paranoico velho de 80 anos que ia se divorciar se ele não fizesse exatamente isso.

No dia seguinte, a vingança de Henry “The Deuce”. O conselho ratifica sua presidência, em cima das ações da família, majoritárias. O primeiro ato de Henry Ford II como presidente é demitir Harry Bennet. Este, revoltado, sai gritando impropérios em direção de seu escritório, onde se sabia, guardava sua pistola Colt 1911A1; é seguido pelo ex-agente do FBI, amigo do “Deuce” e recém-empossado diretor da Ford, John Bugas, também armado.

Os dois se olham firmemente chegando lá; Bugas diz: “Harry, nem tente; você sabe que eu vou te matar.” Bennet desiste da contenda, e parte da Ford, para nunca mais voltar. Era, a este ponto, um milionário, com aposentadoria garantida, graças a Henry Ford.

O rapaz de 26 anos era então o presidente da maior produtor de automóveis do mundo. Henry Ford, o criador do maior império automotivo visto até então, passa seus últimos anos completamente senil, cuidando de jardins e perambulando pela área de sua mansão; morre em 1947.

A coragem e a frieza de Henry Ford II, em tão tenra idade, é impressionante. Efetivamente, em num golpe certeiro, se vingou dos algozes de seu pai; seu avô, o fundador da empresa, e o criminoso que por décadas fez o papel de um filho postiço para ele. E este é o homem que aparece em Ford vs Ferrari, 16 anos depois, pronto para “ir à guerra na Europa, de novo.”

A cena e o motivo

Nos anos que se seguiram, Henry “The Deuce” Ford II se tornou um executivo frio, calculista e altamente eficiente. Raramente mostrava emoções, e como é praxe das pessoas em sua posição, era impiedoso e um tirano, para impor suas vontades. Mas é por sua causa que a Ford sobreviveu: trouxe finalmente gente qualificada, formada em universidade e com a bagagem necessária para um mundo exponencialmente mais complexo, para organizar a bagunça bizantina deixada pelo furacão que era seu avô. A pessoa certa na hora certa.

Henry Ford II amava o seu falecido pai, e resolveu dar o nome dele para uma nova divisão da empresa, lançada com imenso investimento e esperança em 1958: era o Edsel. O desenho da frente, que muitos compararam com certas partes da anatomia feminina (ou a um “Oldsmobile chupando limão”), e o lançamento em meio uma crise, fizeram do Edsel um imenso fracasso.

Os filhos de Edsel Ford, no lançamento do Edsel; à direita Henry Ford II.

A homenagem à seu pai deu com os burros n’água; o que ele acabou fazendo foi expor o nome dele a ainda mais ridículo e piada. Logo ele, um cara com um apurado senso estético, dando nome à um carro famoso por ser feio. O nome “Edsel” se tornou sinônimo de fracasso.

De qualquer forma, a vida continuou. Mais tarde, nos anos 1960, Henry Ford II ficaria famoso mesmo quando sua iniciativa de “Total Performance” o leva até Le Mans, o GT40, e os eventos do filme Ford vs Ferrari.

Na cena do filme, Shelby planeja reverter uma decisão dele, fazendo-o primeiro conhecer o carro de corrida e o que ele pode fazer. Tinha certeza que isso desarmaria Ford, e o faria mais aberto à sua proposta. A ideia era dar um susto mesmo, desarmar o velho pelo medo.

O plano, claro, dá completamente certo. A cena é extremamente bem filmada, a fúria do GT40 e do V8 de sete litros e 500 cv plenamente visível, bem como o pavor e desespero do executivo. Mas isso é rápido: a vasta maioria da cena se dá com o carro parado: Henry Ford II, o monólito líder do vasto conglomerado mundial chamado Ford Motor Company, começa a chorar feito criança. E não para; Shelby fica até sem graça.

A gente não imagina o motivo, até que ele finalmente explica. Aí fica tudo claro. Henry Ford II entra no carro um executivo impassível e sem emoção, um veterano em enfrentar adversidades sem mostrar emoção. Mas ali, empurrado pelo berro demente do V8, e fazendo curvas impossíveis a velocidades impossíveis, o medo destrava emoção, e o inconsciente da pessoa, e ela esquece o cargo que ocupa.

Ford lembra de seu pai Edsel. Lembra de como era o único entusiasta da família, o único que o levava para passeios animados em seus carros exóticos, junto com seus irmãos. A emoção do Ford GT40 MkII o faz chorar por isso.

Não mais a rocha impassivel agora, mas sim a criança reprimida por anos de responsabilidades gigantes. Como um tapa na nuca inesperado, acordou para um significado maior para tudo que fez até ali. E chorou por não poder compartilhar aquilo com seu pai. A pessoa que, no frigir dos ovos, era o real motivo de tanto trabalho e conflito, por tantos anos. Era por Edsel que estava ali, no lugar que deveria ser dele.

Diz: “Eu não tinha ideia. Como eu queria que papai estivesse vivo para ver isso. Para SENTIR isso.”

Confesso que uma furtiva lágrima teimou em escapar do canto de meu olho neste momento no cinema, mesmo eu tentando impedir. Como acontece de novo sempre que a revejo. A cena pode não ter acontecido na realidade, mas contribui muito para engajar os fanáticos pela história toda. Realmente brilhante.