Quem acompanha o FlatOut sabe que, apesar dos SUV, dos elétricos sem-sal, da cultura anti-automóvel e da histeria climática, ainda acreditamos que o mundo nunca foi tão bom para curtir automóveis. Falei sobre isso há alguns anos em um post, reafirmei há algumas semanas e, agora, trago a vocês mais uma prova de que estes são mesmo tempos incríveis: o Alfa Romeo Giulia GTAm. Dificilmente um outro carro de 2020 será tão insano como este sedã italiano.
Em dezembro passado chamamos de “FDPtamente insano” o Toyota Yaris GR e dissemos que ele seria, de longe, o lançamento mais aguardado de 2020. Só que esqueceram de combinar isso com a Alfa Romeo, então ela pegou o Giulia QV e o transformou na coisa mais próxima de uma Ferrari de quatro portas que o mundo já viu. Exagero? Dê uma olhada por dentro do carro:
Sim, é isso mesmo o que você está vendo: é são bancos concha com cintos Sabelt de seis pontos, ancorados em uma gaiola parcial e com um extintor de incêndio onde deveria estar o banco traseiro. Em um carro de rua. Um Alfa Romeo de rua. Quando você imaginou um negócio desses saindo da fábrica?
E tem mais: o V6 biturbo de 2,9 litros, que já era um dos melhores motores que você poderia ter em um sedã esportivo, foi recalibrado e ganhou um sistema de escape de titânio da Akrapovic para produzir 540 cv. Não sei se você lembra, mas a Ferrari 458 Italia, que era produzida até cinco anos atrás, tinha 570 cv.
Além disso, aquela história de “parceria técnica” com a equipe Sauber (atual base da Alfa Romeo na F1) aparentemente não era só a conversa padrão dos marqueteiros: o bodykit foi desenvolvido pelos engenheiros da equipe de F1. Começando pelos para-lamas mais largos, que abriram espaço para o aumento das bitolas em 50 mm nos dois eixos, passando pelos novos amortecedores, molas e buchas.
Depois vem o pacote aerodinâmico, batizado Sauber Aerokit, que colocou um splitter ativo na dianteira, saias laterais para reduzir a turbulência nas rodas traseiras, um spoiler de fibra de carbono na tampa do porta-malas e um enorme difusor traseiro. E seguindo a receita do GTAm original, feito pela Autodelta nos anos 1960, ele também tem janelas laterais e vigia traseiro feitos de Lexan para reduzir o peso.
A dieta incluiu fibras e metais leves: o cardã, o capô o teto, o para-choques dianteiro, os para-lamas dianteiros e os arcos dos para-lamas traseiros, além da estrutura em concha dos bancos, são feitos todos de fibra de carbono. Já o motor, as portas e componentes da suspensão, como mangas de eixo e braços de controle, são todos feitos de alumínio. No fim das contas, o GTAm tem 100 kg a menos, pesando “cerca de 1.520 kg”, segundo a Alfa Romeo.
O único def…, digo, a única particularidade do GTAm é que ele não tem três pedais e alavanca em H: o câmbio que modera a cavalaria milanesa é o ótimo — mas não ideal — ZF8HP de oito marchas, compartilhado com o Quadrifoglio Verde. Você não esperava que um carro italiano fosse perfeito, não é mesmo?
Com esse conjunto — e usando o controle de largada — o GTAm vai do zero aos 100 km/h em 3,6 segundos e, ainda que a Alfa Romeo não tenha divulgado sua velocidade máxima, ele certamente supera os 307 km/h do QV, mesmo com a downforce extra do kit aerodinâmico.
A Alfa Romeo fez questão de salientar que esta versão de dois lugares, com gaiola, cintos de seis pontos e extintor, é realmente homologada para as ruas — nos EUA, inclusive. Parece até que eles sabiam que esse carro é algo inacreditável nestes tempos de Ferrari Purosangue.
O interior não abre mão dos itens de conforto — na medida do possível, claro: o sistema multimídia, o quadro de instrumentos digital, o sistema de áudio e o ar-condicionado ainda estão lá, assim como os painéis de porta revestidos com Alcantara, mesmo material do volante e do painel. Além da gaiola, a traseira do carro também tem dois porta-capacetes.
A má notícia: não espere vê-lo no Brasil oficialmente. A única chance de vermos esse cara por aqui é se algum colecionador com dinheiro e disposição suficiente decidir trazê-lo. E mesmo assim não será uma tarefa fácil: a Alfa Romeo irá limitar a produção do GTAm a 500 unidades para todo o mundo.
Os proprietários ainda ganharão um conjunto completo com capacetes personalizados, macacão, luvas e sapatilha da Alpinestars, uma capa personalizada e um curso de pilotagem da Alfa Romeo Driving Acadamy.
Quem não conseguir um lugar na fila dos 500 terá de se contentar com o GTA, que perde a gaiola e os cintos de seis pontos, ganhando de volta o banco traseiro, os forros das portas traseiras e os painéis de porta do Giulia QV, assim como o painel de couro, mas mantém o bodykit (embora com um spoiler traseiro mais discreto) e o motor de 540 cv. É um bom prêmio de consolação.
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