sabe essa greve dos entregadores do ifood a culpa e sua e minha tambem claro e de todo mundo que em algum momento trocou a antiga relaçao socio economica de se dirigir a um restaurante para comer — ou a um supermercado para comprar comida e depois prepara la em casa — pela conveniencia de se ter comida pronta na porta de casa com apenas uns poucos toques na tela de um telefone essa comodidade como tudo no mundo tem um preço nao um preço financeiro mas um preço socio cultural que no fim das contas sai bem mais caro que tirar uns minutos para preparar um lanche ou caminhar ate o restaurante do bairro antes do ifood faziamos como os povos originarios e preparavamos nossa propria comida depois com o advento dos restaurantes alguem as preparava para nos mas mesmo nesta epoca era preciso ir ate o restaurante ou entrar em contato de alguma forma mais humana como um telefonema e pedir para que entregassem a refeiçao a entrega era negociada pelo proprio restaurante ate entao era uma relaçao de trocas voluntarias entre duas partes o restaurante oferecia comida a um preço o cliente aceitava pagar o preço cobrado pela comida oferecida a chegada do ifood contudo perverteu essa relaçao comercial ele chegou como algo revolucionario para todas as partes desse mercado para o cliente havia a comodidade de se escolher refeiçoes em um so aplicativo com um unico sistema de pagamento entregue na porta de casa para os restaurantes aderir ao ifood era uma possibilidade de aumentar vendas pessoas que jamais passariam na frente do estabelecimento agora eram potenciais clientes pois tinham o aplicativo instalado e a melhor parte eles ja nao precisavam mais arcar com os custos da entrega e da contrataçao de um entregador pois o ifood ofereceu aos entregadores a possibilidade de se cadastrar e fazer dinheiro trabalhando de forma autonoma o que as partes envolvidas nao sabiam e que elas estavam assinando um contrato faustiano os clientes terceirizaram a alimentaçao trocando o habito de preparar sua propria comida ou de compra la pessoalmente por algo impessoal e no fim das contas nocivo em termos psico comportamentais — pela primeira vez na historia a obtençao de comida foi facilitada ao extremo a ponto de desregular nosso sistema de recompensas o tal sistema dopaminergico os restaurantes criaram uma relaçao de dependencia do sistema tornando sua saida da plataforma um risco a continuidade dos negocios sim ha uma relaçao de trocas aqui o ifood traz clientes que nunca saberiam da existencia do restaurante mas qual a força de negociaçao que um restaurante familiar tem contra uma grande corporaçao multimilionaria na hora do reajuste das taxas de serviço mas quem foi realmente mais prejudicado com o contrato foram os entregadores antes do ifood eles negociavam os valores diretamente com o estabelecimento era uma relaçao mais humana duas pessoas tentando chegar a um acordo positivo para ambos hoje alem da assimetria na negociaçao com a plataforma a contrataçao direta desapareceu na pratica nao ha opçao fora das plataformas de entregas e por isso que chamei a adesao em massa ao ifood de contrato faustiano em troca de conveniencia entregamos um poder de controle desproporcional a uma corporaçao uma entidade impessoal que nao tem responsabilidade sobre nenhum dos efeitos colaterais provocados por sua operaçao e se voce acha que isso nao tem nada a ver com os carros lembre se de como o uber e o 99 e o lyft e qualquer outro serviço semelhante fazem exatamente a mesma coisa troque a conveniencia de se ter a comida na porta de casa pela economia de nao se ter um carro pela colaboraçao na mobilidade urbana ou na questao ambiental mas agora depois da adesao de 125 milhoes de usuarios e 5 milhoes de motoristas o uber se tornou um monstro o serviço ficou mais caro com algoritmos que otimizam os preços para a uber — chegando ao ponto de cobrar mais caro se voce estiver ficando sem bateria no telefone para os motoristas a capacidade de negociaçao foi esmagada mas com 125 milhoes de pessoas usando o aplicativo somente no brasil — o que corresponde a 80% da populaçao adulta — agora ha uma dependencia generalizada do serviço e nao apenas isso estudos apontam que os carros de transporte por aplicativo ja colaboram para o aumento dos congestionamentos e nao para a reduçao como se imaginou inicialmente https //flatout com br/uber vs taxis uma guerra perdida para os taxistas/ a promessa inicial das plataformas como ifood e uber parecia perfeita mais opçoes preços acessiveis conveniencia e oportunidades de trabalho flexivel no inicio todos os envolvidos pareciam ganhar mas nao demorou para que essa relaçao de troca se transformasse gradualmente em um monopolio poderoso e incontrolavel esse processo ocorre em tres etapas principais adoçao dependencia e perda de controle primeiro passo adoçao — o apelo irresistivel da conveniencia quando um novo serviço chega ao mercado sua estrategia e seduzir tanto consumidores quanto prestadores de serviço preços artificialmente baixos incentivos agressivos e uma comunicaçao voltada para o impacto positivo da inovaçao sao os elementos chave nesta etapa no caso do ifood o consumidor se acostumou com taxas baixas e promoçoes generosas lembra dos cupons de desconto restaurantes viram na plataforma uma oportunidade de captar novos clientes sem precisar expandir fisicamente alguns sequer precisariam de portas abertas e serviço de mesa entregadores puderam trabalhar sem vinculos empregaticios formais sem horarios rigidos o que no começo parecia vantajoso no caso do uber o modelo se repetiu motoristas eram atraidos por bonus de entrada e a promessa de ganhos altos passageiros se deslumbraram com tarifas mais baratas e mais conforto que os taxis agua e balinha e a facilidade de um carro na porta com poucos cliques tudo parecia um jogo de soma positiva mas essa promessa inicial dependia de um fator oculto o investimento maciço de capital de risco que financiava preços abaixo do custo real para acelerar a adoçao e eliminar a concorrencia tradicional aqui voce ja deve estar percebendo aonde quero chegar considerando que estamos em um site de carros e nao de economia ou tecnologia segundo passo a dependencia — uma armadilha invisivel com o tempo as vantagens iniciais começam a se tornar normas comportamentais/sociais e empresariais o que antes era uma escolha conveniente se torna um habito — e logo depois uma necessidade dizem que a necessidade e a mae da criatividade mas costumo dizer que a necessidade tambem e filha da possibilidade — afinal ninguem necessita de algo impossivel com isso os consumidores deixam de considerar alternativas antes caminhar ate um restaurante era normal; agora parece um incomodo os restaurantes passam a depender do fluxo de pedidos da plataforma a vitrine digital do ifood se torna essencial para a sobrevivencia do negocio os entregadores nao encontram alternativas fora da plataforma as contrataçoes diretas desaparecem e a unica forma de trabalho disponivel e a submissao as regras do algoritmo o mesmo ocorre com os motoristas de uber a plataforma se torna a unica opçao viavel de renda para milhoes de trabalhadores que passaram a depender dela e nesse estagio que a conta chega a plataforma começa a alterar as regras do jogo as taxas aumentam os incentivos diminuem e o lucro da empresa passa a vir da precarizaçao dos prestadores de serviço e da maximizaçao do valor extraido dos usuarios a estrutura de negociaçao se inclina totalmente a favor da plataforma e a dependencia impede que qualquer um simplesmente abandone o serviço terceiro passo a perda de controle — quando o mercado pertence a plataforma a ultima fase do ciclo e a concentraçao total do poder neste momento a plataforma nao apenas domina o setor mas o reestrutura para garantir que ninguem mais possa competir em alguns paises e comum o lobby por regulaçoes — que so os grandes players podem atender criando uma barreira intransponivel para pequenos e futuros concorrentes no ifood a empresa se torna um intermediario indispensavel fixando taxas abusivas para restaurantes e reduzindo repasses para entregadores nenhum restaurante pequeno pode competir com grandes redes que conseguem negociar melhores condiçoes no uber a empresa controla preços com algoritmos que maximizam seus lucros prejudicando motoristas e usuarios as promessas de transporte acessivel e justo se desmancham mas sem alternativas viaveis as pessoas continuam utilizando o serviço essa fase se caracteriza por ausencia de escolha real como a empresa domina a infraestrutura o mercado digital o acesso aos clientes os sistemas de pagamento e a logistica os participantes do ecossistema nao podem sair sem grandes prejuizos o monopolio esta formado e o ciclo se repete ok mas onde estao os carros nessa historia agora que isso ficou claro vamos aos carros troque ifood e uber por carros eletricos e voce tera a mesma situaçao a substituiçao dos carros a combustao por veiculos eletricos e vendida como um avanço inevitavel com a promessa atraente de um futuro mais sustentavel pela reduçao da poluiçao e de quebra e um carro com menor custo de manutençao e operaçao mas assim como aconteceu com uber e ifood essa transiçao pode estar criando um novo tipo de dependencia onde o controle do transporte — e por consequencia da mobilidade individual — ficara nas maos de algumas poucas corporaçoes no caso dos eletricos de forma especialmente mais severa pois diferentemente de uber e ifood as alternativas serao legalmente banidas a questao aqui nao e se os carros eletricos sao melhores que os de combustao a questao e quem controla essa mudança e quais sao as consequencias invisiveis dela e isso fica claro quando se observa os mesmos tres passos da dependencia do uber/ifood e afins veja so primeiro passo a adoçao — incentivos beneficios e o discurso verde a transiçao para os carros eletricos começou com incentivos agressivos e um discurso fortemente atrelado a sustentabilidade governos em todo o mundo ofereceram subsidios para a compra de carros eletricos enquanto fabricantes e empresas de tecnologia impulsionaram a narrativa de que o futuro eletrico e inevitavel assim como o uber prometia transporte mais barato e eficiente os carros eletricos prometem um planeta mais limpo e acessivel e assim como o ifood prometia praticidade e conexao entre restaurantes e clientes os eletricos prometem uma revoluçao na forma como nos deslocamos de novo esta primeira fase parece positiva para todos governos consumidores e fabricantes todos se beneficiam com o impulso inicial mas como vimos nos casos anteriores a questao nao e como a transiçao começa e sim como ela evolui https //flatout com br/por que o banimento dos carros das cidades pode ser uma ameaca a sua liberdade/ segundo passo a dependencia — da liberdade individual ao controle de oligopolios se antes a autonomia do transporte dependia de combustivel amplamente disponivel e oficinas mecanicas independentes agora os eletricos trazem novos pontos de controle veja a infraestrutura de carregamento por exemplo a infraestrutura de carregamento esta sendo dominada por gigantes como tesla shell bp e outras corporaçoes ate aqui o modelo nao e muito diferente do atual modelo de distribuiçao de combustiveis — com a vantagem de se poder fazer um sistema off grid mas lembre se de que o bonus tem um onus como os carregadores sao dispositivos eletronicos que se comunicam com os sistemas de bordo do carro nada impede por exemplo que uma fabricante limite o carregamento a rede propria ou parceira sob alguma alegaçao tecnica empresas como tesla byd e gigantes do setor energetico querem garantir que os veiculos so possam ser carregados em suas redes garantindo uma dependencia semelhante a que uber criou para motoristas depois temos as baterias e a obsolescencia programada a bateria de um ev nao e algo que o usuario comum pode simplesmente substituir empresas podem limitar sua vida util ou restringir reparos forçando o consumidor a comprar novos veiculos apple ja faz isso com iphones — o que impediria que o mesmo fosse feito com carros eletricos e mais atualmente as reservas dos minerios essenciais para as baterias estao concentradas em poucos paises — diferentemente do petroleo que mesmo com o cartel da opep ainda pode garantir alguma independencia aos produtores https //www flatout com br/os desafios do carro eletrico parte 4 a materia prima/ outro ponto controle remoto atualizaçoes ota e restriçoes eletronicas a maioria dos eletricos modernos sao equipados com sistemas que permitem que eles sejam ativados/desativados remotamente sabe aquele app que prepara o carro para a partida ligando o ar condicionado e ajustando os bancos enquanto voce esta tomando o cafe quem controla o servidor controla o carro a tesla ja bloqueou funcionalidades de carros revendidos por terceiros reduzindo sua autonomia via software no futuro o que impedira que empresas cobrem taxas para liberar o desempenho completo do carro — criando um modelo forçado de assinatura para veiculos terceiro passo a perda do controle — o monopolio ou oligopolio da mobilidade individual se tudo isso acontecer o estagio final da transiçao eletrica pode ser a total reconfiguraçao do transporte pessoal e coletivo em vez de uma substituiçao direta dos carros a combustao por eletricos o que pode surgir e um modelo de mobilidade como serviço em vez de vender os carros as fabricantes poderao simplesmente migrar para modelos de assinatura ou leasing compulsorio garantindo uma receita continua e limitando a posse do veiculo pelo usuario e voce nao podera comprar um carro a combustao para fugir disso porque os governos — que deveriam defender os interesses do povo — estao criando leis para que eles sejam proibidos depois o investimento pesado em eletricos esta desviando recursos que poderiam ser usados para transporte publico eficiente ou para motores de combustao interna ainda mais eficientes ou mesmo para medidas de sustentabilidade fora do segmento da mobilidade isso significa que em vez de reduzir a necessidade de carros a transiçao eletrica pode simplesmente substituir um modelo de dependencia por outro no fim das contas se um dia toda a frota de veiculos depender de uma rede digital empresas poderao rastrear e controlar a mobilidade das pessoas criando novas formas de tarifaçao restriçoes e vigilancia e lembre se mais uma vez voce sera obrigado a comprar um carro eletrico se quiser um carro em menos de 10 anos nos eua e na europa a liçao do ifood as trajetorias de ifood e uber ensinam uma liçao fundamental o futuro nao e uma linha reta de progresso tecnologico inevitavel — ele e uma construçao social politica e economica o futuro e desenhado por decisoes tomadas hoje muitas vezes com jeito de inovaçao e modernidade mas sempre guiadas por interesses de grupos de poder e pressao o que a primeira vista parece uma evoluçao natural — a digitalizaçao do delivery a modernizaçao do transporte a eletrificaçao dos veiculos — pode esconder armadilhas estruturais que transferem controle autonomia e poder de escolha das maos da sociedade para as maos de corporaçoes impessoais de repente quem te vende o arroz com feijao nao e mais o armazem do seo zeca e sim um hipermercado de uma rede multinacional com tantos degraus hierarquicos que seu alto escalao sequer conhece o endereço da loja que voce frequenta a greve do ifood e a ultima polemica do uber mostrou com clareza que toda comodidade vem com um custo — todo bonus tem um onus nao tem almoço gratis quando terceirizamos nossa autonomia em nome da facilidade nao eliminamos o trabalho o custo ou a complexidade — apenas os empurramos para fora da nossa vista ele continuara ali afetando todo mundo mas agora a gente nao esta vendo se ha uma liçao a tirar desses exemplos e que ha sempre um outro caminho — mas ele exige conscientizaçao e uma analise da realidade livre de sentimentos rasos o futuro nao esta escrito — e nem sera cobrar nossa liberdade como pedagio e diferentemente do que parece a verdadeira liberdade nao esta em fazer o que se tem vontade mas em fazer o que e preciso ser feito esta materia e uma amostra do nosso conteudo diario exclusivo para assinantes e foi publicada sem restriçoes de acesso a carater de degustaçao a sua assinatura e fundamental para continuarmos produzindo tanto aqui no site quanto no youtube nas redes sociais e podcasts escolha seu plano abaixo e torne se um assinante alem das materias exclusivas voce tambem ganha um convite para o grupo secreto exclusivo do plano flatouter onde podera interagir diretamente com a equipe ganha descontos com empresas parceiras de lojas como a interlakes a serviços de detailing e pastilhas tecpads e ainda recebera convites exclusivos aos eventos para flatouters [fo form plans]
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