Em nossa pergunta do dia sobre carros e rodas, um dos modelos mais mencionados foi a Fuchs, que equipou os Porsche 911 de 1966 a 1988. Favorita também dos fusqueiros, esta roda não é apenas uma bela peça de design: como tudo o que envolve a Porsche, há muita engenharia e genialidade por trás destes cinco raios achatados. Neste post, vamos descobrir um pouco de tudo isso.
Durante a Segunda Guerra, a Otto Fuchs Metallwerke, da cidade alemã de Meinerzhagen, produzia as rodas de alumínio dos veículos militares construídos pela Porsche. Isso explica por que a marca procurou a Fuchs quando pensou em oferecer rodas de liga leve nos modelos 911S. A escolha mostrou-se um acerto quando Karl-Heinz Ochel, engenheiro-chefe da Fuchs, ofereceu a possibilidade de fabricar rodas forjadas, algo que nunca havia sido feito na Alemanha. Isso possibilitaria cerca de 2,5 kg a menos por roda, que ainda seria entre duas e três vezes mais resistente que uma fundida. A unidade 15″ x 5,5″ pesava apenas 4,9 kg!
1988 foi o último ano das Fuchs nos Porsche 911. A geração 964 encerrou a tradição
O desenho das peças foi feito por Heinrich Klie, do departamento de design da Porsche. Klie também desenhou uma série de componentes do 911, como o painel – além de ter criados as linhas do modelo 914. Algo muito curioso é o fato da primeira peça em clay já ter sido aprovada imediatamente por Ferry Porsche, sem o pedido de nenhuma mudança. As únicas alterações, sutis, foram feitas pelo departamento de suspensões (chefiada por Rudolf Hoffmann), para que as rodas atendessem às necessidades de ventilação e de distribuição de tensões.
Como as Fuchs eram feitas
O processo de fabricação da Fuchs era complexo e custoso, envolvendo 58 processos de forjamento, tratamento térmico e acabamento. Tudo começa com uma enorme tora de liga formada por 95%¨de alumínio, com mais de seis metros de comprimento. Dela, eram cortados os tarugos em forma de queijo parmesão que formariam as unidades. Confira abaixo os principais passos:
Primeira forja (Drop Forging): a peça é prensada por uma força equivalente a 4.000 toneladas, criando a matriz básica
Segunda forja (Drop Forging): a mesma peça sofre outro processo de prensamento, com 7.000 toneladas. Com isso, os raios são desenhados
Terceira forja (Drop Forging): uma prensa de 800 toneladas destaca o excesso de material
Quarta forja: a região do aro sofre o processo de rolamento, ganhando a forma e a largura necessária. A Otto Fuchs projetou a peça e os materiais de forma superdimensionada, para que as peças pudessem ser bastante alargadas. Assim, o processo para modelos mais esportivos era barateado, assegurando longevidade de produção das rodas sem alterações radicais de processos industriais.
Por fim, as rodas passam pelo processo de acabamento (retirada de rebarbas, polimento, anodização, pintura e balanceamento). Se você nunca viu uma peça sendo forjada por Drop Forging, dê uma olhada no vídeo abaixo.
A Otto Fuchs é uma empresa monstruosa e que existe até hoje, com envolvimento pesado na área automotiva, aeroespacial e de construção. No mundo dos carros e caminhões, a Fuchs produz monoblocos de carroceria, chassis, bloco de motores, componentes de direção e suspensão e, claro, rodas – Aston Martin, Audi, BMW e Mercedes-Benz são alguns de seus principais clientes. Contudo, o mais bacana é que os caras possuem um departamento especializado na restauração de rodas clássicas. Isso sem mencionar que eles produzem a Fuchs para os novos Porsche, de geração 987, 996 e 997 (não deve demorar para surgir modelos para os 991).