FlatOut!
Image default
Automobilismo Carros Antigos História

A incrível história do primeiro Porsche 917 legalizado para as ruas

Todo entusiasta tem, secretamente (ou nem tanto), o fetiche de dirigir nas ruas um carro de competição. Mesmo para quem tem experiência zero na pista, é impossível não fantasiar com esta ideia. Especialmente se o carro em questão for o Porsche 917, com seu insano motor flat-12 arrefecido a ar e duas vitórias nas 24 Horas de Le Mans, em 1970 e 1971. Mas aí… já é sonhar demais. Exceto, claro, se você for membro da família que financiou a criação do lendário protótipo.

Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como conteúdos técnicoshistórias de carros e pilotosavaliações e muito mais!

 

FLATOUTER

O plano mais especial. Convite para o nosso grupo secreto no Facebook, com interação direta com todos da equipe FlatOut. Convites para encontros exclusivos em SP. Acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Direito a expor ou anunciar até sete carros no GT402 e descontos em oficinas e lojas parceiras*!

R$ 26,90 / mês

ou

Ganhe R$ 53,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

*Benefícios sujeitos ao único e exclusivo critério do FlatOut, bem como a eventual disponibilidade do parceiro. Todo e qualquer benefício poderá ser alterado ou extinto, sem que seja necessário qualquer aviso prévio.

CLÁSSICO

Plano de assinatura básico, voltado somente ao conteúdo1. Com o Clássico, você terá acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, incluindo vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Além disso, você poderá expor ou anunciar até três carros no GT402.

R$ 14,90 / mês

ou

Ganhe R$ 29,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

1Não há convite para participar do grupo secreto do FlatOut nem há descontos em oficinas ou lojas parceiras.
2A quantidade de carros veiculados poderá ser alterada a qualquer momento pelo FlatOut, ao seu único e exclusivo critério.

E foi em  em 1974, e o homem responsável por esta loucura foi Gregorio Rossi di Montelera, mais conhecido como Conde Rossi. Fã de automobilismo, foi ele quem teve a ideia de patrocinar equipes de corrida, começando em 1962 com a criação da Martini & Rossi Racing Team – naquela época, era preciso criar uma equipe toda para usar uma marca não-relacionada ao automobilismo. Foi só a partir de 1968 que a FIA passou a permitir patrocinadores de outros ramos estampando as carrocerias dos carros.

O carro em questão é o Porsche 917-030, um carro fabricado em 1971 que até chegou a participar de uma corrida mas, na verdade, teve como principal função ser uma plataforma de testes para a então recém-criada tecnologia de freios ABS. Sua única participação em uma prova ocorreu nos 1000 Km da Austria daquele ano, no circuito de Österreichring, com as cores da Martini Racing e os pilotos Helmut Marko e Gérard Larrousse ao volante. Foi a primeira vez que um Porsche com freios ABS participou de uma corrida.

Ainda que o Porsche 917-034 tenha vencido a corrida, com Richard Attwood e Pedro Rodríguez revezando ao volante, o 917-030 não teve a mesma sorte: ele se classificou em terceiro, mas não chegou ao fim da prova por conta de um acidente causado por uma falha na suspensão. Assim, depois de recuperado e consertado, ele voltou a ser uma plataforma de testes por mais algum tempo. Então, em 1972, o 917-030 foi guardado em um depósito.

Mas o carro não ficou parado por muito tempo – só até 1974, quando Conde Rossi entrou em cena. O aristocrata foi até a fábrica da Porsche em Weissach e disse que queria comprar o carro. E mais: ele queria que o protótipo fosse transformado em um carro de rua. E como você diz “não” ao homem que paga suas contas e, de certa forma, é responsável por seu sucesso nas pistas?

Exatamente: você não diz.

A Porsche tirou o 917-030 de seu descanso e começou a trabalhar. Não foi, contudo, uma tarefa hercúlea – uma das exigências do Conde Rossi era que o carro mantivesse sua essência e, por isto, os engenheiros alemães limitaram-se a realizar o mínimo possível de modificações: foram instalados retrovisores nos para-lamas dianteiros, as asas sobre os para-lamas traseiros foram removidas, e um abafador de 911 foi adaptado no sistema de escape. Além disso, a carroceria foi pintada no mesmo tom de prata usado pelos carros da Martini Racing. E, para garantir um pouquinho de conforto em suas trips, o Conde Rossi pediu que o interior tivesse o painel e os bancos revestidos em couro bege. Mais nada.

Fotos: Historic Motorsports Central

Até onde se sabe (os detalhes a respeito jamais foram divulgados, dado o segredo em torno do projeto), o conjunto mecânico não sofreu modificações – ou seja, apesar de ser transformado em um carro de rua, o 917-030 continuou equipado com um motor flat-12 de 4,9 litros e pelo menos 600 cv e câmbio manual – e continuou pesando menos de 800 kg. Porque, apesar de sua figura imponente, o Porsche 917 (especialmente na versão Kurzheck, de traseira curta) é um caro pequeno, com pouco mais de quatro metros de comprimento, 92 cm de altura, 1,98 m de largura e 2,3 m de entre-eixos.

Se você está achando que é loucura rodar nas ruas com um carro assim, saiba que as autoridades europeias na época concordariam com você: nenhum país da Europa permitiu que o Conde Rossi emplacasse o carro.

Obviamente que, depois de fazer quase tudo, o Conde não deixaria uma burocrazinha boba acabar com seus planos. Não, senhor: ele simplesmente enviou o carro para os EUA, the Land of the Free, para tentar registrar o carro. E ele conseguiu: o departamento de trânsito do Alabama se dispôs a vistoriar e emitir os documentos do carro, com uma condição – o Conde Rossi jamais deveria circular com o 917 dentro do estado.

Sem problemas, até porque o plano era mesmo voltar com o carro para a Europa e rodar com placas do Alabama. Como naquela época as leis eram mais frouxas, o Conde Rossi não podia rodar com o 917 sem placas. Mas placas estrangeiras queriam dizer que, em algum lugar do mundo, aquele carro era considerado apto a circular em vias públicas. Já era alguma coisa – e o bastante para que o dono da Martini pudesse curtir seu protótipo sossegado.

Gregorio Rossi di Montelera morreu em 2003, mas o carro ainda está na família – hoje em dia, ele está registrado em nome de seu filho Manfredo, que, em raras ocasiões, aparece em algum evento de clássicos. A documentação para circular nas ruas já está expirada (atualmente ele usa placas do Texas, que são apenas decorativas), mas isto não o impede de acelerar na pista. Como aconteceu nas edições de 2009 e 2019 do Goodwood Festival of Speed, comemorando, respectivamente, os aniversários de 40 e 50 anos do Porsche 917.

Depois do carro do Conde Rossi, outros dois exemplares do Porsche 917 foram convertidos para uso nas ruas. Primeiro, foi o 917-021, também conhecido como “Psicodélico” ou “Hippie” por conta de sua pintura em roxo e verde. Sim, é o mesmo carro nas duas fotos abaixo.

Depois, foi a vez do carro 917-037, que atualmente pertence ao colecionador Claudio Roddaro, residente no Principado de Mônaco. Para ser autorizado a emplacar seu carro, ele teve de provar às autoridades locais que seu carro era idêntico ao do Conde Rossi – e, como contamos neste post, ele conseguiu.