Depois de um post inicial bastante carregado de problemas que encontrei no meu Ford Escort Mk4 2.0i XR3 Conversível 1989/1990,chegou a hora de falar de coisa boa!
A PRIMEIRA REFORMA
Como relatei, meu Escort foi comprado com um certo impulso e não possuía a qualidade de pintura que um clássico desses merecia ter. Convivi com pintura em três tons diferentes e alguns pequenos pontos de ferrugem nos primeiros dois anos. Em 2009, decidi procurar uma oficina para realizar uma boa reforma na lataria e uma nova pintura no Escort. Visitei meia dúzia de oficinas que pediam valores estratosféricos para minha realidade na época, sem falar na desconfiança que permeia a cabeça de um “gearhead” neste momento: a falta de qualidade na execução dos serviços.
Para minha sorte, recebi de um vizinho colecionador de veículos antigos a indicação de uma oficina de fachada discreta e bem perto da minha casa. Sabe aquele profissional que trabalha sozinho e em um carro de cada vez? Estava lá a chance de poder acompanhar de perto um serviço que havia sido bem recomendado. O visual da oficina em permanente reforma não é muito convidativo mas o trabalho feito é bem interessante. Abaixo a foto que demonstrava a diferença evidente de tons na lateral direita:
Desmontei boa parte do interior do automóvel em casa e levei para a oficina onde foi feita toda a chapeação externa, troca dos para-lamas dianteiros e para-choques, tratamento de oxidações na saia traseira e painel dianteiro, além do tratamento contra o rombo causado pela ferrugem abaixo da bateria que citei aqui no primeiro post. Não foram pintados o cofre e o interior do carro, com exceção de um pedaço do assoalho.
Peças de lataria paralelas com boa qualidade são bastante fáceis de se conseguir para Escort. Consegui um par de para-lamas fabricados na Argentina, além dos para-choques de boa qualidade, em loja daqui mesmo de Porto Alegre. O carro também recebeu um novo par de faróis Arteb além das milhas originais Arteb com logotipo Ford na lente e o tão raro spoiler de borracha original sob o para-choque dianteiro.
O resultado foi bastante satisfatório. Eu sempre tive na minha cabeça que meu carro tinha limitações pois não era um automóvel bem cuidado pelos seus outros nove donos (sim, descobri que ele teve nove donos entre 1989 e 2007). Também nunca o tratei como um carro impecável e intocável. Fiz o carro para mim, dentro das minhas demandas e sempre prezando pela confiabilidade mecânica para poder viajar para onde quisesse.
CARRO DE GARAGEM? CARRO DE RUA!
Eu sempre gostei de usar o carro nos fins de semana e viagens. Nunca pensei em ter um colecionável para deixar na garagem e só ficar olhando. Comprei o XR3 para botar no asfalto e curti-lo. Em 7 anos comigo, já se foram aproximadamente 20.000 km, ou seja, uma média de quase 3.000 quilômetros rodados por ano para um carro usado praticamente só nos fins de semana.
O litoral é praticamente o “habitat natural” de um carro conversível, mas também se adapta bem à serra e ao planalto. Já fiz viagens bem legais com o Escort partindo daqui de Porto Alegre para destinos como Uruguai, Curitiba, Blumenau, Criciúma, Gramado, Canela, Lajeado e Pelotas, entre outros lugares interessantes, sempre em comboio com outros amigos também pilotando seus Escorts.
Quem aprecia dirigir em estradas, já ouviu falar da famosa Serra do Rio do Rastro. O que pode ser melhor que descer a serra? Subir para depois descer!
AS LICENÇAS POÉTICAS
Ao longo do tempo, com o uso do carro, pude sentir que algumas melhorias poderiam ser feitas para aumentar seu conforto, melhorar a dirigibilidade, além de ver que poderia fazer algumas alterações no interior do veículo. Eu sempre curti o visual externo original do Escort Mk4 com seus faróis de milha e conjunto de spoilers. Apesar disso, a placa preta, por exemplo, nunca foi um objetivo a ser alcançado, pois isso acabaria por me restringir no projeto do automóvel, que já possuía itens que são excludentes no critério para placa preta como mudança do motor com aumento da cilindrada e troca do tipo de combustível.
Optei então por preservar o visual externo e buscar melhorias mecânicas e em seu interior, procurando realizar alterações sutis que agregassem esportividade, conforto e confiabilidade ao automóvel.
É um pecado falar em esportividade das décadas de 80 e 90 e não ligar à imagem dos famosos Bancos Recaro. A Ford somente passou a oferecê-los na linha 1991 do Escort como opcional e o meu possuía os assentos originais do ano.
A linha XR3 1989 e 1990 possui uma padronagem com dois tecidos: o cinza liso e o navalhado Vercelle que é uma composição de pequenas linhas em diagonal, sendo que existe uma composição de dois tipos de Vercelle espelhados, ou seja, é difícil formar a combinação correta do banco, pois não se encontra facilmente os dois no mercado. Em 2007 fiz uma reforma nos assentos originais que estavam rasgados mas nunca gostei do resultado.
Em meados de 2010, um amigo ofereceu e comprei dele um jogo de Bancos Recaros provindos de um XR3 MK5 1994. Com o objetivo de manter o visual mais sóbrio e perto do original, fui à caça dos tecidos da época e mandei reformá-los, mantendo o padrão original do modelo 1989/1990. O resultado foi uma evolução em esportividade no visual do carro. Acho um charme aqueles acabamentos sanfona que cobrem as hastes de encaixe do encosto de cabeça no banco, coisas de Gearhead! Além disso, a ergonomia do Recaro é extremamente agradável, ainda mais com seu trilho tendo regulagem de altura e as duas regulagens do encosto na altura da lombar.
Muda completamente a tua relação com o carro pois fica numa posição excelente para dirigir, com as abas laterais dos bancos segurando perfeitamente quando teu corpo se projeta nas curvas. Como se diz aqui no RS: baita investimento! Louco de bueno!
Ar-Condicionado
Como já citado no primeiro post, o Escort estava sem o compressor do ar-condicionado quando o comprei. Uma das primeiras intervenções realizadas foi a colocação do sistema em funcionamento já utilizando o gás refrigerante moderno R-134. Mesmo assim, notava que o rendimento do equipamento deixava a desejar, principalmente quando o automóvel estava parado. Optamos por instalar uma ventoinha auxiliar de 10 polegadas no generoso espaço entre o para-choque dianteiro e o radiador do ar-condicionado. A melhora no rendimento foi sensível. É difícil precisar, porém acredito que está gelando uns 25% a mais e não há mais perda de seu desempenho quando o carro para.
Quinta marcha mais longa
Um dos fatos mais desagradáveis para quem gosta de usar o carro para viajar é ter uma quinta marcha com a relação muito curta. Ado Escort XR3 1.8 é extremamente curta, sendo que o conta-giros marca 3.500 rpm quando se está andando a 100 km/h.
Em uma tarde de 2010, quando me dirigia para o trabalho após o almoço, ao reduzir de quarta para terceira marcha a uns 50 km/h, ouvi um estouro vindo do motor e uma fumaça saindo pelas laterais do capô. Imediatamente parei e vi que a carcaça da caixa de câmbio havia estourado.
Pronto! Lá vai o XR3 para o mecânico. Diante da tarefa de ter que refazer a transmissão, aproveitei e solicitei a troca da engrenagem da 5ª marcha para uma de relação mais longa de Verona 1.8 GLX ou Escort 1.8 GL/Ghia.
O desempenho na estrada mudou da água para o vinho. Agora se anda a 100 km/h a 2.500 rpm aproximadamente, e a 120 km/h a 2.900 rpm. A receita de somente trocar a engrenagem da 5ª ficou bastante interessante pois se tem um câmbio com quatro marchas de relações curtas e uma 5ª marcha funcionando quase como um overdrive. As viagens tornaram-se silenciosas e mais tranquilas.
Com a preparação no motor, baixando-se a quarta marcha na estrada, despeja-se potência e o ponteiro da velocidade sobe rapidinho para realização de ultrapassagens.
Defletor de Vento
Um dos meus melhores investimentos neste carro foi a aquisição de um defletor de vento. Aquelas cenas de filmes onde mulheres andam na carona de conversíveis com seus lindos cabelos ao vento jogados para trás não existe! Não existe mesmo!
A física é cruel para as mulheres quando andam de conversível pois, ao invés dos cabelos serem projetados para trás, são jogados para cima, ao melhor estilo verticalizado Margie Simpson!
A solução para isso vem com a instalação de um defletor de vento, que altera o fluxo, amenizando o vórtex e removendo praticamente todo o vento dentro da cabine com a capota baixa e os vidros fechados. Tal elemento torna as viagens extremamente agradáveis acima de 100 km/h, inclusive no inverno rigoroso aqui do Rio Grande do Sul. Liga-se o ar quente e aprecia-se a paisagem do descapotável.
Como consegui essa peça? Um amigo de Clube a adquiriu na Europa e eu pedi emprestado. Comprei os tecidos bastante similares numa loja da região e as hastes de aço consegui no descarte de uma obra que fiscalizava. Deixei o original num tapeceiro que fez uma cópia praticamente perfeita do produto importado. Sensacional! Todo mundo que anda comigo fica impressionado com o resultado e mais feliz fico com a companhia da minha esposa nos passeios, já que o defletor tornou as viagens mais agradáveis ainda! Fiz um desenho tosco mas simples para tentar mostrar o efeito do vento dentro do Escort sem e com o defletor:
Iluminação Interna e Sob as Portas
Me impressiona o fato de um dos carros mais caros do Brasil na época, que possuía tantos itens de série, não oferecia iluminação nos pés do motorista e do carona. Abaixo do painel do Escort existem até esperas para o encaixe de um par de pequenas luminárias com lâmpadas incandescentes, igual ao par utilizado para iluminar o porta-malas. Em vez de seguir a solução padrão, optei por colocar um pedaço de fita de led cor branco morno escondida por trás do painel, buscando ter como resultado uma iluminação que apenas quebrasse a escuridão, sem muita claridade. O resultado ficou bastante interessante e essa luz nos pés só funciona quando o botão da luz de leitura está na posição abertura de portas.
Dentre os carros atuais, o Fusion e o Focus possuem um item moderno e que eu também gosto muito, que é a iluminação do chão quando se abrem as portas, de onde me inspirei nessa ideia.
A proposta foi realizar uma intervenção bastante discreta, instalando pequenos pedaços de fita de led na cor branco morno escondida sob a porta. Ao abrirmos a porta, a pequena fita ilumina o chão onde motorista ou passageiro vão pisar ao descerem do veículo. É um pequeno charme mas também de grande utilidade quando saio à noite com minha esposa e acabamos deixando o carro em estacionamentos fechados mais escuros.
Não há risco de descer e pisar em buracos ou outros locais indesejados. Parece um up ¨besta¨ mas é muito útil! Acredito que as fotos não expressem com qualidade o resultado final do projeto e como isso ficou tão legal no automóvel. PS: A luz azul que aparece nas fotos é apenas o LED da Trava/Bloqueio que instalei nele. O volante Momo Race será abortado no terceiro post.
ADEUS CARBURADOR
A melhoria mecânica realizada no Escort pode ser dividida em duas fases. Em um primeiro momento, no início de 2013, eu optei apenas por trocar o carburador por uma injeção eletrônica. Em dezembro de daquele ano, um problema mecânico na chaveta da polia do virabrequim me fez optar pela abertura e retífica completa do motor, onde foram feitos os tão esperados upgrades em todo o conjunto mecânico, segunda fase, assunto que tratarei no meu terceiro e último post.
A minha relação com carburadores nunca foi fácil. É engraçado que eu praticamente não tenho fotos do cofre do motor nos tempos de Carburador. Seria isso um sinal da minha aversão à peça? Provavelmente pois o do Escort sempre me incomodou, desde seus primeiros dias. Ao longo de cinco anos foram recorrentes idas ao mecânico, pois o carro apresentava falhas na carburação em média a cada 60 dias. O segundo estágio do 2E estava sempre emperrado e o carburador sempre entupido engasgando quando se pisava mais fundo.
O dia da desistência ocorreu quando estava subindo uma avenida e notei que o Escort não tinha força suficiente para ultrapassar um automóvel 1.0 que se arrastava logo mais à frente. A partir daquele fato eu vi que estava com um esportivo da década de 90, motor 2.0 e com um carburador que o fazia render menos que um motor de 70cv.
O incentivo dos amigos foi fundamental para a escolha de uma injeção programável. Além da experiência positiva do meu amigo Cristiano com uma Fueltech em seu Escort 93, outro grande amigo do Escort Clube, e que trabalha na Fueltech, incentivou a ideia e me deu toda a orientação técnica necessária para aquisição das peças. Ao longo de um ano fui comprando os materiais, como coletor de Polo 1.8 Mi, bicos IWP-115 de Gol/Parati Flex, flauta, mangueiras, fiação, dutos corrugados, bomba de combustível elétrica do Gol GTi, novo distribuidor e demais miudezas necessárias para a intervenção. Finalizei o processo de compra com a injeção Fueltech FT-250, o Meterslim e a Sonda Lambda Bosch.
E, em um fim de semana de Janeiro de 2013, nos reunimos com o também amigo de clube, Fernando Sperotto, na casa do Henrique para enfim instalarmos a injeção eletrônica no Escort. Foi um grande aprendizado para mim que não tenho grande conhecimento técnico sobre mecânica. Passamos sábado e domingo em cima (e embaixo) do carro fazendo todas as adequações, fiações, instalação de peças, etc. A inestimável ajuda dos amigos foi mais uma vez decisiva para o sucesso do projeto.
Na primeira volta com a injeção, mesmo que com um mapa ainda com falhas, já pude sentir o desempenho do velho motor AP, que estava em período de hibernação enquanto era alimentado pelo Carburador 2E.
O mapa da injeção foi sendo elaborado ao longo do tempo e alguns ajustes foram sendo executados, como a posterior troca do alternador por um mais moderno e com maior amperagem, melhora no chicote elétrico e elaboração de um mapa efetivo para a injeção. Os serviços foram realizados na recém-aberta oficina de outros amigos, André e Laerte, da Garage364, local que posteriormente seria responsável pelo grande e empolgante upgrade mecânico.
A escolha pela injeção programável se deu por alguns motivos:
- Facilidade na busca por orientação técnica, já que amigos possuíam larga experiência com a injeção da marca escolhida;
- Possibilidade de se buscar um desempenho melhor do que uma injeção Mi, tentando explorar mais ainda as qualidades do motor;
- A ideia sempre foi ter um mapa único porém tendo a possibilidade futura de ter um conjunto de mapas diferenciados dependendo do tipo de rodagem e necessidade: mais econômico, mais forte ou então com o uso misto de etanol;
- O desafio do novo e do diferente do comum, com a possibilidade de aprender mais sobre mecânica e desempenho.
O INÍCIO DO GRANDE UPGRADE MECÂNICO
2013 foi um ano de muitos passeios e viagens com o Escort injetado. Pude aproveitar intensamente o carro, pois rapidamente adquiri confiança para utilizá-lo em percursos mais distantes. Tudo corria tranquilamente bem quando no dia 1º de Dezembro de 2013, ao me deslocar com o carro para o Encontro de Final de Ano do Clube aqui em Porto Alegre, comecei a notar um barulho metálico vindo do motor.
Estacionei e reparei que a polia do virabrequim girava fora do eixo, encostando no bloco do motor. Algo já me dizia que o problema era sério, mas permaneci tranquilo pois, apesar do motor não fumar, apresentava sensível diminuição de compressão dos cilindros. Eu estava ciente que ele era ainda um dos poucos itens que eu não tinha mexido ao longo dessa convivência.
Chegando na oficina de confiança, veio o fatídico veredicto de que havia ocorrido um desgaste na chaveta do virabrequim que segura a polia, trazendo instabilidade ao conjunto. Seria necessária a desmontagem da parte debaixo do motor e troca ou recuperação do ¨vira¨.
Aí começa a série de decisões sobre os reparos e melhorias no motor que mais pareciam um jogo de peças de dominó onde uma peça é empurrada e esta vai derrubando a próxima de uma longa fila! Toda esta experiência será citada no próximo post! Um serviço incrível que resultou em um Escort com motor 2.0 de 123 hp medidos na roda e aproximados 154 hp para a potência no motor aferidos em um dinamômetro!
Não deixe de acompanhar essa longa história!
Por Régis Vasconcellos, Project Cars #177