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Car Culture

Abomination: um Mustang 1968 equipado com o seis-em-linha 2JZ do Toyota Supra

Ainda falando sobre “Velozes e Furiosos”, você deve lembrar de um dos carros mais importantes do terceiro filme (Tokyo Drift, 2006): um Mustang Fastback equipado com o seis-em-linha RB26DETT de um Nissan Skyline GT-R — motor que, anteriormente, ocupava o cofre do Nissan Silvia de Han Lue. Pois o projeto desse cara, conhecido apenas como “Beau M” no fórum Vintage Mustang, é bem parecido: colocar um seis-em-linha japonês no cofre de um clássico americano — mais precisamente, o 2JZ-GTE de três litros do Toyota Supra em um Mustang hardtop 1968.

O Mustang de Beau já era excêntrico por si só: em vez de um V8, ele trazia o seis-em-linha Thriftpower de 3,3 litros, 105 cv e 21,6 mkgf que vinha nos Mustang de entrada.

Qualquer bom americano daria um jeito de meter-lhe um V8 assim que colocasse as mãos no carro, e com Beau não seria diferente: ele já estava com um V8 de cinco litros doado por um Mustang 1986 pronto para o transplante, mas decidiu ir por outro caminho ao adotar um quatro-cilindros turbo de 2,3 litros vindo de um Merkur XR4Ti. De acordo com uma postagem do próprio Beau no fórum Vintage Mustang, ele simplesmente gosta de abrir o capô de um Mustang e ver algo diferente de um V8 289 ou 302.

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O motor V8 foi comprado originalmente para um Datsun 280Z, mas então surgiu a chance de comprar o Mustang 1968 de um amigo da família — o pony car havia sido restaurado recentemente com direito a pintura nova e apenas uma ou duas modificações que Beau não aprovava (como um par de alto-falantes 6×9 no tampão traseiro). Então o Datsun precisou ir embora, mas o V8 ficou, afinal um novo possível candidato para recebê-lo havia acabado de chegar.

Entre março de 2010 e janeiro de 2011, Beau acertou diversos detalhes no Mustang: trocou os freios originais a tambor por discos nas quatro rodas, trocou todos os componentes da suspensão e rebaixou o carro em 10 cm, instalou um sistema de som mais potente e melhor integrado com o visual do carro (com duas pequenas caixas acústicas escondidas na dianteira e subwoofers atrás do banco traseiro), além de dar alguns toques pessoais ao visual do carro: rodas de 15 polegadas modelo Old School da MB Motoring, painel traseiro em preto fosco e um spoiler dianteiro como nos Mustang de turismo.

A restauração feita pelo dono anterior não foi em vão: o carro estava bastante íntegro (com exceção de um ponto de ferrugem na bandeja da bateria, no cofre) e o interior, em excelente estado.

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Foi em meados de 2011 que Beau decidiu colocar em prática o plano de instalar o motor V8 no cofre do carro — completando, assim, uma bela equação. Contudo, ao abrir o motor (que estava parado em sua garagem havia mais de um ano e nunca havia sido aberto por ele), Beau notou que alguns componentes não estavam em um estado muito bom e que o motor precisaria ser refeito.

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Em vez de se abalar, ele conseguiu um Ford Mustang de terceira geração (o famoso fox body) como doador de peças. Entre elas, estava o quatro-cilindros de 2,3 litros turbo do Merkur XR4Ti. Para quem não sabe ou não lembra, trata-se basicamente da versão americana do Ford Sierra XR4i que, na Europa, vinha com um motor V6 de 2,8 litros. Originalmente, o motor do Merkur XR4Ti entregava respeitáveis 175 cv, e também podia ser encontrado no Ford Mustang SVO e no Thunderbird Turbo Coupe — nestes carros, porém, o motor era equipado com um intercooler.

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De qualquer forma, o swap mudou de direção e seu novo motor teria quatro cilindros a menos. E, se você acha que para colocar um quatro-cilindros de 2,3 litros em um cofre habituado a receber motores V8 de pelo menos 4,7 litros (289 pol³), espaço não seria um problema, então você nunca precisou trocar um motor na sua vida. O câmbio manual de cinco marchas que estava no Mustang Fox também foi instalado no ’68.

Depois de realizar algumas adaptações nos suportes do motor para colocar o quatro-cilindros — que havia sido preparado com um ligeiro aumento no deslocamento para entregar 197 cv, aferidos em dinamômetro — Beau decidiu mudar o visual do carro.

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Depois de rodar com o carro por algum tempo usando o quatro-cilindros e participar de diversos eventos, no início de 2014 Beau mandou o carro para a oficina de funilaria e pintura para dar a ele uma nova cara. Inspirado, certamente, pelos Ford GT40 dos anos 60, Beau decidiu pintar o carro de azul claro para recriar o esquema de cores da Gulf Racing — com faixas laranja, números e adesivos.

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Vale lembrar que, apesar de serem clássicos adorados nos EUA, os Mustang de primeira geração não são exatamente raros e, assim, um exemplar restaurado nas especificações originais pode ser modificado sem incomodar uma legião de fãs furiosos. Quer dizer, até você colocar um seis-cilindros japonês no lugar do coração americano…

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O motor veio junto de todo o conjunto frontal de um Toyota Aristo, direto do Japão — acompanhando até mesmo o painel de instrumentos. Depois de verificar o estado do motor, especialmente do cabeçote, e ver que estava tudo OK, Beau removeu o quatro-cilindros do Mustang e colocou o 2JZ. Segundo Beau, sem os turbocompressores, o encaixe foi assustadoramente fácil — o motor parecia feito para o cofre do Mustang.

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Com os turbos, porém, era outra história. Beau precisou trocar os dois turbocompressores por um modelo maior da Turbonetics. Ele também decidiu trocar a transmissão manual por uma caixa automática de origem Toyota — de acordo com ele, porque uma caixa manual que aguentasse a potência do 2JZ custaria muito mais caro do que um bom câmbio automático japonês. O sistema de direção, com assistência hidráulica, foi subtituído por um sistema de direção elétrica vindo de um Saturn Vue.

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Depois de instalar o motor e decorá-lo com as cores da Gulf Racing — processo que começou em outubro de 2014 e terminou em março último, Beau decidiu batizar seu projeto. O nome? Abomination — afinal, a ideia de um seis-em-linha japonês em um clássico americano é, para boa parte dos fãs, abominável. Isto, porém, não parece incomodar o criador desta abominação, cujo tópico ainda é atualizado constantemente.

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