Como saber se uma ideia é boa? Eu tenho um método que, embora sem pretensão de precisão científica comprovada, considero infalível. É só extrapolar os efeitos dessa tal ideia até o máximo. É como é feita a ficção científica boa: qual é a evolução máxima da inteligência artificial? Algo mais inteligente que os humanos, que não vai precisar deles. Daí, Skynet e a Jihad butleriana. E a conclusão de que é um caminho ruim. Uma ideia de jerico: melhor nem mexer com isso.
Diversão grande, preço baixo: O Trifoglio Chevette Racing Team
Agora vamos pensar, da mesma forma, até onde pode ir a minha infindável busca de menor peso para o meu Chevette. Qual é o limite disso? Posso tirar banco traseiro, usar muitas peças de fibra de carbono na carroceria, como capô, paralamas, portas, tampa de porta-malas. Posso trocar os vidros por policarbonato, e usar o para-brisa de Junior, menos espesso e mais leve.
Lembrando que falamos de um carro de rua usável, com faróis, limpador de parabrisa, dois lugares pelo menos e tudo mais, eventualmente, chegarei num ponto em que a carroceria do Chevette, e sua mecânica base é o limite, né? Errado!
Há como trocar a carroceria por outra mais leve. Há até provisão para isso na legislação brasileira; é como um Fusca vira buggy. O limite de redução de peso do meu Chevette é chegar numa réplica de Lotus Seven, usando toda mecânica dele, e algo de seu chassi. Uma troca de carroceria! Definitivamente, então, a ideia de reduzir peso do Chevette é ótima, não tem contraindicações, e pode continuar sem problemas por muito tempo!
E, caro leitor, hoje o Achados meio Perdidos traz algo exatamente assim: Um Lotus Seven que é na verdade um Chevette com o peso reduzido ao extremo. E ele pode ser seu por módicos R$ 65.000.
O Seven feito em casa
Todo engenheiro sabe que se há duas maneiras de se fazer algo, a mais simples é sempre a melhor; por esta forma de enxergar o Seven é o melhor automóvel já criado. Simples, efetivo, e perfeito ao que se destina, o Seven se tornou imortal, ainda em produção hoje.
O Seven é a expressão máxima do espírito entusiasta, algo que carrega a simplicidade e a inteligência acima da glória, da fama, e do status. Um carro onde todo excesso, todo o supérfluo, é deixado de fora de propósito, por um motivo, e não para ganhar um troco. Que, ao contrário de Porsches e Ferraris, não se importa em ser desconhecido e desprovido de glamour. Um carro que põe o prazer e a velocidade acima até daquela que é a função básica de todo automóvel, o transporte de pessoas, subvertendo assim a sua própria lógica básica.
Basicamente é o mais espartano dos carros esporte; nada ali existe que não seja necessário para o andar em direção esportiva. Não há nem portas, e você está a milímetros do chão, e da roda traseira. É duro e violento; não há conforto aqui. Mas por meio de baixo peso, boa distribuição dele, e suspensões controladas, uma delícia de se andar rápido. Sentado nele, fica-se extremamente baixo, podendo-se facilmente espalmar a mão no chão. E também exposto: o escapamento lateral, o chão, estão muito próximos de você, e à parte da roda traseira ali perto de seu cotovelo, não há muito mais carro entre você e o mundo lá fora. Entre numa curva fechada devagar, mas baixe a botina, e você vai embora lá para o lado com a traseira, enquanto as rodas lá adiante contra-esterçam e pulam furiosamente ao som maníaco do quatro em linha. Não é para os de coração fraco.
O Seven existe ainda hoje via Caterham, que comprou o projeto de Chapman e o colocou em produção em 1973, quando a Lotus se movia adiante para outras coisas. Mas existe também de outra forma. Como é algo simples e sensacional, muita gente pensou, olhando um kit da Caterham: olha, eu sei soldar tubos com mais calma e cuidado que esses caras. Eu consigo fazer um Seven em casa. Sim, o Seven, noves fora, é tão somente um monte de tubo de aço soldado, onde se montam componentes existentes de outros carros.
Essa atividade, de se fazer cópias pessoais de Seven, ganhou impulso internacional nos anos 1990 com a publicação de um livro: “Build your own sports car for as little as £250”, de Ron Champion. O livro detalha tudo que é necessário, passo a passo, para se fazer um Seven em casa. A base, é claro, é o chassi spaceframe, que é completamente desmistificado no livro. Compre “X” tubos de seção quadrada com essa medida, corte assim, coloca no chão da sua garagem, solda aqui, depois aqui, depois ali….
O Seven – Chevette
Este livro criou o fenômeno “Locost”, Lotus Sevens feitos em casa a partir de qualquer carro, ou conjunto de componentes, de motor dianteiro e tração traseira. E foi assim que o Wellington, de São Bernardo do Campo, em São Paulo, resolveu fazer o seu: a partir deste livro.
O Wellington resolveu se aposentar em 2017, e nessa época trabalhava numa empresa de estruturas metálicas industriais. Um lugar perfeito para se fazer a estrutura do Seven, basicamente um monte de tubos quadrados de uma polegada com espessura de 1,5 mm. Com ajuda de um colega, cortou e soldou toda ela, em apenas 5 dias!
Faltava agora só todo o resto do carro. Para isso, encontra um Chevette 1985 à venda, com um bom preço. Como a carroceria seria trocada, precisava apenas da mecânica OK, e assim estava o carro que achou. A história do carro é interessante, apesar do estado ruim: Era de uma senhora bem idosa, que tinha tirado o carro zero-km; o carro foi usado por ela, pelo filho e depois pela neta; quando o comprou em 2017 era casa para gatos e cachorros da casa.
Mas ele precisava de uma base, tanto para a documentação de seu “buggy”, quanto para um milhão de peças diversas que são necessárias para se fazer um carro, fora sua estrutura. Um doador. O carro foi andando até a sua casa, onde começou a desmontagem.
A suspensão dianteira é fabricada, tubular, duplo A sobreposto; a direção é a do Chevette, pinhão e cremalheira. O eixo traseiro é um de Chevy 500, de relação mais curta, com os 5 links fabricados e molas helicoidais. O tanque de combustível é o do Chevette também, e fica atrás do banco. O câmbio e o motor são os de Chevette, 1.6 litro à gasolina com cinco marchas, do Chevette 1985. As rodas também são tamanho de Chevette: aro 13 com pneus 175/70 R13, mas com rodas de alumínio “Minilites”.
Depois, partiu para a parte elétrica. O carro todo foi feito pelo Wellington: contratou apenas o soldador e o pintor para a estrutura, e o tapeceiro para fazer o banco inteiriço, criado como o do Seven original. O carro todo, segundo ele, pesa “uns 460kg”. Já pensou?
“Com o tempo fui colocando os detalhes dele, sempre tentando fazer como o Lotus era. Inclusive a disposição dos instrumentos no painel é a mesma do Lotus,as dimensões dele são as mesmas do Lotus.” – diz ele. Conta também que agora, o carro está melhor e mais usável que em 2018, quando ficou pronto: “a última coisa que eu fiz nele foi a capota, e montei um para-brisa. Até então ele estava com o para-brisa tipo “Brooklands” de competição aquele pequeno individual, que não protegia nada.”
Desde que o carro ficou pronto, o dono participou com ele de um Raid de regularidade em Taubaté, onde tem um clube de amigos de carro antigo. Mas depois de sete anos, o Wellington está pronto para novas experiências, e para isso, está vendendo o carro, além de uma Caravan que também possui.
Toda a construção do carro está documentada no Youtube, no canal do Wellington. Um amigo, que me indicou o carro para esta matéria, foi ver o carro. Diz que “foi tudo muito bem feitinho, bonitinho e de bom gosto. Andando é apertado como todo Seven, mas bem sólido, leve, direto de direção, uma delícia.”
Se você, como eu, não tem o tempo nem a disposição neste momento para entrar na empreitada de construir um Seven você mesmo, é uma oportunidade incrível. Uma chance de experimentar algo famoso, o carro esporte que mais atende a esta definição já criado, por um precinho realmente camarada. Não percam essa chance!
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