Há pouco tempo contamos aqui a história de Horacio Pagani, de sua infância até fundação de sua fabricante de supercarros, que leva seu sobrenome. O sucesso da Pagani, sem dúvida, deve-se principalmente ao Zonda, um supercarro feito de forma independente com mecânica de primeira e visual diferente de tudo que havia sido visto até então.
Como você deve lembrar, Horacio Pagani nasceu na Argentina e mudou-se muito jovem para a Itália — onde, com uma carta de recomendação de ninguém menos que Juan Manuel Fangio, conseguiu imediatamente um emprego na Lamborghini.
Foram nove anos na fabricante de Sant’Agata Bolognese, até que Pagani decidiu sair porque seus chefes não queriam comprar uma autoclave, equipamento crucial para se trabalhar com fibra de carbono. Ele acabou comprando uma com dinheiro do próprio bolso e, quando saiu da Lamborghini, levou a máquina consigo. No ano seguinte, começou a trabalhar na construção do primeiro protótipo de seu próprio superesportivo.
A famosa autoclave, que é usada pela Pagani até hoje! (Foto: Travis Okulski)
Assim, em 1992, o chamado Fangio F1 (homenagem mais do que justa ao lendário piloto argentino, que lhe deu uma grande força no início da carreira) começou a tomar forma. Em 1995, com a morte de Juan Manuel Fangio, Horacio Pagani decidiu rebatizar o carro como Zonda, em referência a um vento que sopra na região norte da Argentina. Seu desenvolvimento durou sete anos e, em 1999, finalmente o Pagani Zonda de produção foi apresentado no Salão de Genebra.
Horacio Pagani queria que o carro ficasse perfeito, e foi por isto que o processo de desenvolvimento durou tanto tempo. E este carro, que é o mais antigo Zonda em existência, foi crucial para que tudo desse certo.
Trata-se do Prototipo 2, um dos cinco Pagani Zonda C12 originais que foram construídos em 1998. Enquanto o primeiro foi destruído em um teste de impacto e outros três foram entregues a clientes, este aqui ficou com a Pagani e foi usado como plataforma de desenvolvimento desde então.
Como todos os outros Zonda C12 originais, o Prototipo 2 era movido por um V12 de seis litros fornecido pela Mercedes-Benz. Naturalmente aspirado, o motor, entregava 394 cv a 5.200 rpm e 51,8 mkgf de torque a 3.800 rpm acoplado a uma caixa manual de cinco marchas. O conjunto era capaz de levar o Zonda C12 até os 100 km/h em 4,2 segundos e aos 160 km/h em 9,2 segundos.
Acontece que esta foi só a primeira configuração mecânica deste carro. Como sabemos, o Zonda foi um carro longevo, vendido de 1999 a 2011 — sendo que, com a quantia certa, certamente você conseguiria convencer a Pagani a construir mais um exemplar só para você. Foram inúmeras atualizações e modificações mecânicas ao longo destes treze anos, e o Prototipo 2 foi crucial para que todas elas fossem realizadas.
Isto porque cada novo conjunto mecânico desenvolvido por Pagani para o supercarro era, primeiro, instalado neste carro e testado. Isto significa que o Prototipo 2 teve todos os motores já utilizados pelo Zonda em sua carreira — da primeira atualização, quando o Zonda passou a utilizar um V12 de sete litros e 550 cv preparado pela AMG, à versão de 7,3 litros e 760 cv que foi usada no Zonda 760S (que, devemos lembrar, não usa qualquer tipo de indução forçada).
Sim, é exatamente o mesmo carro
Como você deve imaginar, é preciso rodar bastante para testar tantos motores e transmissões diferentes. E este carro rodou bastante, mesmo: seu hodômetro marca, atualmente, 621.371 milhas — exatamente 999.999,691 km. Ou seja, faltam pouco mais de 300 metros para que ele cumpra um milhão de quilômetros rodados. Você não vai brigar com a gente só porque arredondamos para cima, vai?
Também é o mesmo carro!
O fato é que, sendo o mais antigo Zonda em existência e o carro que possibilitou toda a evolução do supercarro italiano, o Prototipo 2 é carinhosamente chamado pelos funcionários de La Nonna, ou “a Vovó” em italiano. Na verdade, o carinho é tanto que, para comemorar o 60º aniversário de Horacio Pagani — que foi no último dia 10 de novembro —, a própria Pagani decidiu restaurar o experiente supercarro e colocá-lo em exposição na entrada da sede da companhia, que fica nos arredores de Modena, na Italia (que você pode conhecer aqui, em uma visita virtual).
Além de recuperar o carro e parte do aspecto original, com a carroceria prata e o interior forrado com couro vermelho, os funcionários da Pagani realizaram algumas atualizações: o carro agora tem fibra de carbono exposta e faixas nas cores da bandeira da Itália, como no Zonda Tricolore; a asa traseira veio do Pagani Zonda Cinque. O motor também não é o original: agora, atrás dos bancos dianteiros fica uma versão de sete litros e 550 cv do V12 — o mesmo visto no Zonda S, capaz de acelerar até os 100 km/h em 3,7 segundos; aos 160 km/h em 7,5 segundos e cumprir o quarto-de-milha (402 metros) em 11,3 segundos.
Por enquanto, o carro ficará na sede da Pagani. No entanto, seu destino já é certo: aposentado, o carro fará parte de um futuro museu dedicado à história de Horacio Pagani e a suas criações. Um destino justo para um superesportivo histórico.
[ Fotos: PrototipoZero.net ]