Não é decepcionante quando uma fabricante de automóveis resolve colocar saídas de escape “decorativas” em uma versão apimentada de algum de seus modelos, deixando as saídas de verdade escondidas?
No caso do Civic Type R (que, convenhamos, é bem mais que uma mera “versão apimentada” do Honda Civic hatch), isto não acontece. Ele tem mesmo três saídas de escape no centro do para-choque traseiro, e todas elas são funcionais. Mas há um motivo além do visual bacanudo para que a Honda tenha instalado três saídas de escape em um carro com motor de quatro cilindros. Comentamos brevemente a respeito em dois posts – a apresentação do hot hatch e a meta-avaliação –, mas agora o pessoal da Road and Track foi conversar direto com a Honda para descobrir mais detalhes a respeito.
Pois bem: como havíamos mencionado trata-se de um sistema pensado para modificar o ronco que sai pelo escape de acordo com a situação. Em momentos de direção agressiva, como em um track day, o carro tem um berro alto e estalado. Em velocidade de cruzeiro, na rodovia, ele é bem mais silencioso. E tudo tem a ver com aquela saída de menor diâmetro ali no meio.
As duas saídas maiores são as convencionais, com catalisador, silenciadores e tudo mais. Já a saída central atua como uma pequena câmara de ressonância, responsável por criar aquela nota mais áspera e intensa. Mas… como funciona?
É tudo uma questão de pressão. Não há qualquer elemento móvel, como uma válvula, atuando de forma mecânica ou elétrica como nos supercarros (algo que imaginávamos inicialmente) nem qualquer tipo de sistema de supressão de áudio ou simulação pelos alto-falantes como em outros esportivos como o Mini JCW, o BMW M3/M4 e o Mustang EcoBoost.
O que acontece é que, sob aceleração total, parte do fluxo de escape passa pela câmara de ressonância central. Ela amplifica o ronco do motor e gera um som mais alto e agressivo que, de acordo com o que Rob Keough, o diretor de planejamento de produtos da Honda, contou à Road & Track, pode ser ouvido do lado de dentro e do lado de fora do carro. Quando o acelerador é aliviado, mantendo-se parcialmente aberto, a câmara de ressonância fica cheia de ar e, com isto, a pressão em seu interior impede que o ar flua por lá. Os gases do sistema de escape, então, são expelidos apenas pelas saídas maiores, reduzindo o ruído dentro do carro.
A ideia é mesmo proporcionar uma experiência mais silenciosa quando o Civic Type R estiver sendo utilizado na cidade, para ir ao trabalho, ou em longas viagens. Para a Honda, um carro tem de ser barulhento na pista, e não no dia-a-dia.
Os caras da Road & Track ainda perguntaram a Keough se ele vai ficar chateado quando o entusiastas começarem a modificar o sistema de escape original para ser barulhento o tempo todo. Ele disse que, bem, não:
A gente meio que está esperando isso. Queremos entregar uma experiência de alta qualidade, esportiva porém refinada, para o público, mas sabemos que a molecada vai querer mais barulho. Não vamos ficar ofendidos.
A solução das três saídas de escape foi escolhida por utilizar unicamente a pressão do ar para manipular o ronco do motor de acordo com a faixa de rotações – sem equipamentos adicionais e, consequentemente, sem custos que pudessem ser repassados ao consumidor no preço final do carro. E, de fato, por US$ 34.000, o Civic Type R parece um belo negócio, considerando que a versão básica do hatch parte de US$ 21.000 nos EUA.