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Car Culture

As melhores músicas inspiradas por carros – Parte II

No começo da semana falamos sobre as melhores músicas inspiradas em carros e pela vida sobre rodas em geral em uma seleção com pouco mais de dez músicas. Agora, é a vez de falarmos sobre as músicas escolhidas por vocês. Vamos nessa?

 

Metallica – Fuel

Na segunda metade dos anos 1990, o Metallica entrou em um breve hiato logo após a turnê de quase três anos de seu “Black Album” e retornou com cabelos curtos e um som menos “metálico”. É dessa fase, tida como comercial pelos fãs que batiam cabeça em “For Whom The Bell Tolls” ou “Blackened”, que vem “Fuel”, o terceiro single do álbum Reload.

Com uma introdução incompreensível para os brasileiros — gimme fuel, gimme fá, gimme dabadadizá —, um riff acelerado como um fugitivo a bordo de um muscle car e uma levada de bateria quebrada como uma marcha lenta embaralhada, a música fala não apenas sobre velocidade e curtição, mas também sobre viver a vida alucinadamente.

 

Trio Parada Dura – Fuscão Preto

Fuscão Preto é um clássico do brega nacional: composta por Atílio Versuti no começo dos anos 1980, ela fez sucesso com o Trio Parada Dura em 1981 e logo depois com Almir Rogério no ano seguinte. A letra é inspirada em um caso clássico de traição: alguém fofoca pro cara que sua amada estava andando mucho loca pela noite em um Fuscão preto — que não tinha nada a ver com a infidelidade da moça, mas foi retratado como o culpado por fazer em pedaços o peito do sr. Cornélio. E ainda teve seu ronco considerado “maldito”. Baita sacanagem com o besourão. Como uma sacanagem só já é bastante, fique com a versão rocker de Beto Lee, o filho de Rita e Roberto.

 

Rush – Red Barchetta

Barchetta é, literalmente, “barquinho” em italiano. Mas Neil Peart — o baterista e principal compositor do power trio canadense Rush, não se referia a uma lancha Riva pintada de vermelho nesse clássico da banda. As barchette também são a versão italiana dos roadsters, e foi exatamente nisso que o baterista petrolhead pensou ao escrever a letra.

A história completa nós contamos neste post. Em resumo, ele leu um conto chamado “A Nice Morning Drive”, de Richard Foster, que foi publicado na revista Road & Track de novembro de 1973. O conto fala de uma sociedade distópica em que os carros são projetados para resistir a acidentes a até 80 km/h sem deformar. Com isso, os motoristas dos MSV, como são chamados esses “super” carros, passam a bater nos carros mais fracos apenas por diversão — e também por que as autoridades fazem vista grossa para a prática, pois ela ajuda a eliminar os inseguros carros antigos.

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No conto, o motorista de um roadster MG sai para um passeio matinal quando dois MSV passam a persegui-lo e a fazer de tudo para acabar com ele. Inspirado por essa fuga distópica Peart compôs Red Barchetta, que fala exatamente sobre um passeio de carro daqueles que todo petrolhead faz para “fugir” da rotina.

 

Legião Urbana – Dezesseis

Renato Russo não era exatamente chegado em carros, mas compôs uma das músicas mais lembradas pelos nossos leitores: “Dezesseis”, um dos singles do último álbum do Legião Urbana, “A Tempestade”. A letra de dezesseis fala sobre João Roberto, mais conhecido como Johnny, que tinha um Opala azul, era bom de braço, de papo, e manjava tudo de rock. Um dia Johnny marcou um racha em Sobradinho/DF, na “Curva do Diabo”, onde se perdeu, bateu seu Opala e morreu, aos 16 anos.

Como o Legião Urbana precisava ser o Legião Urbana, o motivo do acidente não foi um erro de Johnny na perigosa curva, nem um caminhão que apareceu no caminho, e sim uma desilusão amorosa. Sim: o menino se matou e destruiu um Opala por causa de uma menina.

 

George Harrison – Faster

Apesar da aura zen e do desapego material aprendido com o hinduísmo, George Harrison também era o Beatle petrolhead (bem, Ringo também tem bom gosto para carros…). Nas gravações do documentário “Anthology”, sobre a história do Fab Four, é possível ver um quadro de Senna em seu McLaren na casa de Harrison durante uma conversa entre ele, Paul e Ringo. Ainda nos anos 1960 ele ficou amigo de Jackie Stewart e da turma da F1, que descolou até mesmo um test drive em um monoposto da Lotus.

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Piquet, George, Ringo e Jackie

Nos anos 1970 Emerson Fittipaldi entrou em cena e também se tornou um grande amigo do tímido Beatle. Emerson trouxe George ao Brasil, tomou umas caipirinhas e ganhou um amigo para sempre. Harrison até chegou a fazer uma versão de “Here Comes The Sun” para o amigo brasileiro após o gravíssimo acidente na Indy nos anos 1990.

Mas foi em 1979 que George compôs seu maior tributo ao automobilismo: “Faster”. Em 1977 Harrison assistiu várias corridas da temporada e, depois de conversar com Niki Lauda em Watkins Glen (o GP dos EUA na época) decidiu compor uma musica que “Niki, Jody, Emmo e todos os seus amigos da F1 fossem gostar”. O título vem do livro de Jackie Stewart, os efeitos sonoros do GP da Inglaterra de 1978 e dedicou a música “a todo o circo da F1” e à memória de Ronnie Peterson, que morreu no mesmo ano da gravação.

 

Queen – I’m in Love With My Car

Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon compuseram muitas músicas sobre amores e relacionamentos e I’m in Love With My Car é mais uma delas. Mas diferentemente de Love of My Life, a música que aparece no lado B do álbum “A Night At Opera” trata de um relacionamento apaixonado de um homem com seu carro.

Como a letra e os vocais são do baterista Roger Taylor e o carro que se ouve na música é o Alfa Romeo Spider que Taylor tinha na época, muita gente a acredita que o carro apaixonante é o Alfa do batera, mas na verdade o cara apaixonado por seu carro é o roadie da banda Johnatan Harris, que dirigia um Triumph TR4 e foi descrito como um “boy racer to the end” nos créditos do álbum.

 

Raimundos – Eu Quero Ver o Oco

Bem, a letra desse rock escrachado tipicamente adolescente dos anos 1990 não é exatamente sobre carros, mas sim sobre um acidente sofrido por um moleque que se dá mal com eles desde cedo, quando trancou os dedos na porta do Opalão. A letra foi inspirada por um acidente real, mas em vez de um carro do ano, modelo italiano, o carro era um Fusca e o moleque era o próprio Rodolfo Abrantes (o ex-vocalista da banda) aprendendo a dirigir no Fusca do baixista Canisso.

 

Gary Numan – Cars

Sabe aquela sensação de estar envolvido e protegido dentro de um carro com as portas trancadas? É exatamente isso que Gary Numan fala em sua “Cars”, de 1979. O britânico conta que se inspirou em um episódio de road rage para compor a letra de seu hit — que também fez sucesso em uma versão mais recente do Fear Factory.

Numan estava no trânsito caótico de Londres e “teve um problema” com o carro da frente. Os caras tentaram arrancar Numan do carro, mas ele simplesmente trancou as portas, subiu na calçada e foi embora. “Explica como você se sente seguro em um carro no mundo moderno… lá dentro sua mentalidade é diferente. É como um pequeno império pessoal sobre quatro rodas”. 

 

Beach Boys – Fun Fun Fun

Os Beach Boys talvez sejam os artistas que mais dedicaram músicas aos carros, ao menos em sua época. Além de “409” e “Little Deuce Coupe”, eles também contam como a vida é divertida a bordo de um Thunderbird em “Fun Fun Fun”. A letra fala sobre uma garota que descolou o T-Bird de seu pai dizendo que precisava ir à biblioteca estudar, mas na verdade colocou a galera no conversível e foi para o drive-in e ficou dirigindo pela cidade… até que seu pai descobriu a mentira e tirou as chaves dela.

Mais uma letra pura e ingênua dos anos 1960, não? Não! Na época Murry Wilson, pai de Brian, Dennis e Carl e tio de Mike Love (quatro dos cinco Beach Boys) tentou convencê-los a não gravar a música pois ela era “imoral” — afinal, imagine quantas meninas poderiam mentir para seus pais e sair dirigindo “as fast as she can”?

 

Camisa de Vênus – Simca Chambord

Nos anos 1980, enquanto o rock brasileiro enveredava para uma pegada mais pop-new wave, Marcelo Nova e seus parceiros do Camisa de Vênus mantinham-se fieis ao velho rock and roll tradicional — algo também seguido pelos Cascavelletes e TNT, para citar uns poucos exemplos. E um dos grandes hits do Camisa de Vênus (uma gíria para preservativos dos anos 1980) foi “Simca Chambord”. Na letra o jovem Marcelo Nova cantava a felicidade de um garoto e de seu pai por ter comprado um Simca Chambord — modelo que era um símbolo de status entre as famílias brasileiras da primeira metade dos anos 1960.

Apesar do sucesso, Marcelo contou em entrevista recente ao G1 que nunca andou em um Simca Chambord, e só escolheu o carro por ser uma referência aos anos 1960 e trata-se de uma metáfora à vida na época: “Quis falar dos anos 60 com uma certa ingenuidade que se vivia naquela época, a crença de que o país iria se desenvolver de uma maneira positiva. E o Simca Chambord simbolizava tudo isso. A letra fala: “Eu vi um futuro melhor, no painel do meu Simca Chambord”. Em seguida, destaca as mudanças vividas na sociedade com a chegada do regime militar. “Ninguém saía de casa e as ruas ficaram desertas. Eu me senti tão só dentro do Simca Chambord”.