A BMW finalmente acordou para o mercado e decidiu lançar uma versão perua do M3. Antes tarde do que nunca. E põe tarde nisso: a Audi fez uma perua compacta esportiva pela primeira vez em 1995 (sim a RS2 Avant) e a Mercedes não esperou muito tempo para fazer a sua com um motor V8 de até 5,5 litros na segunda geração da Classe C, logo em 1998. A BMW esperou só 27 anos para entrar na brincadeira. Quase nada.
E pior: a BMW poderia ter respondido às rivais à altura com a M3 Touring já em 2000, somente cinco anos depois da estreia da Audi RS2 Avant — ou seja: a imagem das peruas esportivas da Audi seria arranhada ainda na infância. Hoje elas são monstros crescidos com uma vantagem reputacional enorme sobre a BMW.
E quando falo que a BMW poderia ter acabado com a brincadeira em 2000 — há distantes 22 anos —, não estou imaginando um universo paralelo tirado da minha cabeça abastecida por psicotrópicos em dose dupla. Estou falando isso porque a BMW realmente FEZ um M3 Touring no ano 2000. E depois de FAZER UM BMW M3 TOURING HÁ 22 ANOS, ela simplesmente decidiu que não iria lançar o carro e o guardou para sempre nas profundezas hadeanas para onde vão os modelos condenados à vida eterna no esquecimento: a garagem secreta da BMW Motorsport.
A história é quase bizarra: porque a BMW fez um protótipo da perua M3 E46 para verificar a viabilidade de integrar uma perua M3 à linha de produção das versões regulares da perua — e eles descobriram que a perua poderia ser feita sem grandes dificuldades, porque a adaptação das portas e para-lamas na perua poderia ser feita sem a necessidade de ferramental novo. E isso quem diz não sou eu, mas a própria BMW, 20 anos depois deste protótipo. .
O modelo precisaria apenas de “um trabalho manual mínimo para instalar os componentes específicos do M3 e detalhes do interior”. Apesar da viabilidade, a BMW optou por não fabricar o M3 Touring, deixando o segmento livre para seus rivais da Mercedes e da Audi. Só agora, depois de 22 anos. Agora que o BMW M3 nem se chama mais M3, e que a reputação deles — ao menos no ocidente — está abalada pelas atrocidades estilísticas cometidas em nome da conquista do oriente. Só agora.
Por outro lado, como disse no início dessa história, antes tarde do que nunca. É melhor ter um BMW M3 Touring 2023 aos montes nas ruas de todo o mundo do que tê-lo apenas na imaginação. Além disso, esta não foi a primeira vez que a BMW descartou um carro que poderia mudar o jogo de seu segmento.
Eles também fizeram um…
BMW M3 Compact (E36)
Pouco antes do M3 Touring E46, por volta de 1996, a BMW desenvolveu uma versão hatchback do M3, baseada no Série 3 Compact. O modelo tinha o mesmo motor seis-em-linha de 3,2 litros e 321 cv das demais versões do M3 combinado ao câmbio manual de seis marchas. A ideia da marca era oferecer ao público mais jovem uma versão mais acessível para a linha de esportivos da BMW M.
Por dentro, ele tinha bancos de tecido, mas os dianteiros eram da Recaro e tinham cintos vermelhos. O volante, a coifa do câmbio e a coifa da alavanca do freio de estacionamento eram de Alcantara. As rodas eram as mesmas Styling 24M usadas no M3 Cabriolet, e os para-choques e saias laterais eram os mesmos do M3 coupé.
O ponto forte do M3 Compact era a redução de peso: a traseira mais curta e os bancos mais leves faziam dele um carro 150 kg mais leve que o M3 Coupé. Com uma relação peso/potência melhor, ele foi testado pela revista alemã Auto Motor und Sport, que o achou “mais ágil, mais firme e muito mais preciso” que o Coupé.
Há quem diga, contudo, que caso a BMW o produzisse, ele acabaria recebendo um interior mais convencional e o seis-em-linha teria menos potência que nos irmãos — afinal, ele seria uma versão de entrada do esportivo. Talvez por isso tenha permanecido com um protótipo. Ou talvez ele tenha sido sacrificado em nome do M Coupé, o lendário Clownshoe, que chegou dois anos depois com a mesma proposta, porém em uma embalagem muito mais interessante. Nesse caso você está perdoada, BMW.
Mas… não vamos esquecer que o M3 poderia ter chegado mais próximo do AMG C63 W204 em termos de brutalidade — o que, no fim das contas, foi o que levantou a bola da AMG para a década de 2010. Porque a BMW chegou a desenvolver nada menos que um…
M3 GTS Sedan E90
Sim, em 2011 a BMW encontrou desenvolveu um GTS Sedan e o apresentou a uns poucos convidados selecionados. O modelo foi apresentado em um evento fechado e nunca teve suas especificações reveladas.
O que se sabe é que o V8 não tinha os mesmos 450 cv do GTS Coupê, mas tinha pouco mais que os 420 cv do M3 regular, ainda que nunca tenha sido especificado se ele usa o 4.0 ou o 4.4. O que está claro é que ele usa componentes do GTS, como as rodas de 19 polegadas, freios, spoiler traseiro e grade preto cromo.
O splitter frontal, embora parecido com o do GTS, é menor, mas o sistema de escape é o mesmo. Na época acreditava-se que ele chegaria à linha de produção, o que acabou não acontecendo.
Agora, se você quer lamentar de verdade pelos carros que a BMW não fez, aqui vai o mais radical de todos: o…
M3 GTR E46
Sim, M3 GTR. Gran Turismo Racing. Era uma série de homologação para a American Le Mans Series (ALMS) que deveria ter dez exemplares, mas acabou com apenas três — e nenhum deles foi oferecido ao público.
A história começou em 2000, quando a BMW decidiu participar da ALMS e percebeu que precisaria de um motor V8 para ser competitiva. Eles então desenvolveram um novo motor V8 especialmente para o carro, com cárter seco e ângulo de 90 graus. O problema é que a ALMS exigia que os carros de pista deveriam ter uma versão de rua oferecida ao público em ao menos dois continentes e por um período mínimo de 12 meses.
Foi assim que nasceu o M3 GTR “Strassenversion”. Para reduzir os custos, a BMW usou como base o próprio M3 GTR da ALMS, com os mesmíssimos reforços estrutrais, bitolas mais largas, molas e amortecedores mais firmes, e os mesmos componentes de fibra de carbono — dianteira, capô com respiros, teto e para-lamas, além da asa traseira e do difusor. Os para-choques eram uma variação dos componentes de pista, modificados para uso em rua. Por dentro, o banco traseiro era removido e os bancos dianteiros substituídos por bancos Recaro, mas mantinha os vidros elétricos e o sistema de ar-condicionado.
Os discos de freio de 325 mm, as rodas de 19 polegadas, o câmbio Getrag manual de seis marchas e o diferencial M com bloqueio mecânico eram os mesmos do BMW M3 de rua. Eles eram adequados à proposta porque o V8 tinha sua potência reduzida de cerca de 450 cv para 385 cv — um aumento de 42 cv e uma redução de 146 kg em relação ao M3 comum.
Como dito mais acima, a BMW colocou à venda uma série de 10 unidades, porém todas por encomenda. No fim, devido ao preço altíssimo nenhum foi vendido e a BMW guardou os três únicos exemplares produzidos. Em 2002 a ALMS mudou o regulamento novamente e exigiu ao menos 100 carros e 1.000 motores produzidos em série e a BMW decidiu encerrar sua participação na categoria.