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Backfire! Quando os esportivos cospem fogo em alta velocidade

Uma das coisas mais fascinantes que um carro pode fazer é cuspir fogo pelas saídas de escape — o famoso backfire. O termo em inglês também pode ser usado para se referir às consequências não intencionais de uma determinada ação — algo como o nosso “tiro que saiu pela culatra”. E, de fato, o backfire dos carros, na maioria das vezes, não é intencional. Mas como é bonito de ver!

Os caras do Goodwood Members Meeting acabaram de divulgar esta singela coletânea de backfires feita na última edição do evento, que aconteceu no fim de semana passado. Não são muitos carros, mas as imagens valem a pena:

Um dos primeiros posts do FlatOut foi justamente a respeito do backfire, explicando a origem do fenômeno. Vamos ser camaradas e relembrar por aqui mesmo.

Em uma definição simples, o backfire é uma explosão no motor. Claro, quando o motor está funcionando, acontecem explosões o tempo todo: é o princípio de todo motor de combustão interna. No entanto, em vez de acontecer dentro da câmera de combustão, a explosão do backfire acontece nos coletores de admissão ou escape, e é mais comum em carros preparados e de corrida.

Ou supercarros old school, como esta Ferrari F40

Ele normalmente ocorre quando o piloto tira repentinamente o pé do acelerador, como em uma troca de marcha ascendente ou em reduções. Como o corpo de borboleta se fecha, cortando a admissão de ar, mas ainda há combustível sendo vaporizado, pode haver um breve momento de desequilíbrio na mistura ar-combustível, que fica rica (ou seja, mais combustível do que o ideal entra na câmara de combustão).

O resultado disso é a queima incompleta: o coletor de escapamento acaba tragando não apenas os gases, mas também um pouco de combustível não queimado. Como a temperatura dos coletores de escape é muito alta, esta mistura acaba queimando ali mesmo, e é expelida junto com os gases. O resultado é um som de explosão abafada e as chamas cuspidas pelas saídas de escape. Claro, explicando assim podemos até imaginar tudo acontecendo em sequência, mas na prática tudo leva uma fração de segundo.

Além de bonito, o backfire também é, de certa forma, benéfico para o motor: a combustão rica resfria a cabeça dos pistões, lubrificando-os e reduzindo as chances de quebra. É algo absolutamente normal em carros de corrida e preparados e, na verdade, é até desejado.

Aliás, o backfire também pode ser usado como sistema anti-lag. Como você já deve saber, turbo são muito legais, mas têm um defeito: até que atinjam a rotação ideal, o motor não rende como deveria por causa da pressão insuficiente. Este atraso é denominado lag.

E como o backfire ajuda nisso? É simples, na verdade: em sistemas modernos, quando o piloto tira o pé do acelerador, o corpo de borboleta continua ligeiramente aberto para permitir que a câmara de combustão continue recebendo a mistura — que fica bastante rica. Além disso, o ponto de ignição é ligeiramente atrasado, fazendo com que uma boa parte da mistura ar-combustível chegue intacta ao sistema de escape.

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Você já sabe o que acontece: com a altíssima temperatura na região, a mistura explode. Como o turbocompressor está ali, a explosão o mantém girando à velocidade ideal e, assim, não há perda de rendimento do motor. E há o som produzido quando o sistema entra em ação, demonstrado por Jeremy Clarkson no vídeo abaixo, por volta dos 1:10:

As primeiras versões deste sistema foram utilizadas na década de 1980, especialmente na Fórmula 1 e no WRC — que, na época, usavam e abusavam dos motores sobrealimentados. Como a tecnologia ainda não era tão avançada como hoje, porém, havia outras técnicas que os pilotos usavam para combater o turbo-lag. Uma delas era pisar no freio com o pé esquerdo, mantendo o pé direito no acelerador de modo a evitar que o turbo perca velocidade. O onipresente Walter Röhrl fazia isto o tempo todo, dizem.

Há quem diga que o uso indiscriminado do backfire como método anti-lag, no entanto, pode cobrar seu preço: quando o sistema é ativado, a temperatura na região do turbo se eleva rapidamente, podendo passar de 800°C para 1.100°C quase instantaneamente. O stress sobre os coletores de escape e a turbina pode reduzir sua vida útil e aumentar as chances de trincas.

Por outro lado, a cuspida de fogo ocasional não é motivo para preocupação. E ainda proporciona um belo espetáculo!