Ter um project car, no sentido literal da frase, é um exercício de vários aspectos. Em 2010, quando comprei a grandona no estado, nunca imaginei que chegaria a sentir saudades de um carro. Até por que minha grande e holística visão de que “só falta uns detalhes” me fazia acreditar que em poucos meses ela estaria de volta à ativa. Foi ali que começou o exercício de paciência.
Já vamos para o quinto aniversário da criança e ela ainda está no estaleiro. Também tem o exercício financeiro, pois por mais projeções, análises, planilhas e tabelas, nem com uma bola de cristal você realmente consegue gastar somente o que imaginou. Não só por que acontecem imprevistos, mas também porque você não sossega. É num projeto é que começam as frases iniciadas com “Já que tá mexendo…”, e isso vem com uma etiqueta de preço colada junto.
Fato é que em dezembro desse ano minha menininha completará cinco anos comigo. Cinco anos de muitas mudanças, ansiedades, estudos e mão na massa. Normalmente quando explico a história da grandona sempre vem a mesma pergunta: “Cara, você nunca pensou em desistir? Larga e pega outro carro”. E por mais que nem tudo tenha sido flores, posso dizer que isso nunca passou pela minha cabeça. Sim, faria tudo novamente (quem sabe pulando umas etapas), mas faria.
Ver ela ganhando vida novamente, sua montagem, ficar pensando nos detalhes e planos pra quando ela estiver comigo, nada disso tem preço. É ter meu sonho pronto, é poder ter o prazer de bater a partida, ouvir aquele barulho grave e saber que naquele ronco estará um “muito obrigado” vindo dela.
Ainda não chegou esse dia, por mais que a ansiedade me dê um frio na barriga só de pensar nisso. Mas está a caminho. Ultimamente tenho sido mais “presente” na reforma, mesmo a 500 km de distância, acompanhando a evolução semana a semana. E ver de onde saímos até onde ela está hoje já me dá uma felicidade tremenda.
Com as últimas evoluções, estamos quase lá. Ainda nos faltam a elétrica e setup da injeção. Também o escape, que apesar de ser um cano reto com dois abafadores dimensionados atrás, não é lá aquela simplicidade. Na próxima quarta o escape vai evoluir, faltando apenas a famigerada elétrica — e como quase tudo na Série 8, ela também tem um nível de dificuldade master plus turbo 200.
A FT500 foi a melhor solução que encontramos na época, e é a que sera usada. Primeiro por ser nacional, e com isso ter maior facilidade futuramente (ajuste, fine tuning ou até reposição), segundo que seria possível ficar parecido com a injeção original, coisa que antigamente só com injeções estrangeiras era possível. Com ela instalada, a grandona volta à vida. Porém ainda temos o pente fino em todo o restante do carro, eletricamente falando. Faróis, sensores, ar-condicionado, vidros, enfim, tem uma porrada de coisa, simples, mas que tomam tempo.
Estimativa de tempo? Por mim, 24 horas. Sendo otimista, termino a próxima etapa em julho. Mas em definitivo, quero ela comigo antes de setembro. Quero me presentear de aniversário com ela pronta. Quero dizer… “funcionando” seria a melhor palavra. Isso porque ainda tem umas coisinhas a serem feitas, que não me incomodam em nada, mas não tenho dúvida que na primeira semana na garagem, vão começar a incomodar.
Obviamente nesse processo de reforma, ela está mega suja, além do que os anos dela parada não foram bacanas com a pintura, borrachas e acabamentos pequenos em geral. Então, infelizmente, não será só um banho que resolva. Assim que ela retornar a casa, minha ideia é pintar ela inteira (sem tirar o motor, afinal, depois de quatro anos sem motor seria uma sacanagem tirar mais uma vez). Gostaria muito de pintar ela de Schwarz II, mas vou manter o Diamantschwarz original dela.
Além disso a interna precisa de uns TLC. As intrusões de fios e relógios do turbo (projeto do dono anterior) deixaram algumas marcas, coisas quase imperceptíveis, mas não pra mim. Boa parte das peças já está orçada, e esperando ela chegar em casa. Não quero deixar parado essas peças, até para não corer risco de desgate e ter que trocar novamente.
Ainda existe o desafio de colocar o telefone no console, porque obviamente, como tudo no projeto, o console do fone não é lá plug n play com o meu console. O “upgrade” do telefone envolve também uma pequena “adaptação técnica” no console central, na parte de trás. Nada absurdo, mas vou ter que quebrar a cabeção quado ela chegar.
Algumas borrachas e acabamentos do cofre do motor e parte dianteira também precisam ser trocados, mas esse pente fino precisa ser refeito, preferencialmente após o fim da reforma, para garantir que nada foi esquecido.
As rodas ainda não foram reformadas, mas serão logo antes dela voltar, para assim que chegar já serem instaladas. Faróis e lanternas passarão por uma pequena reforma para retomar o brilho (e as cores originais — as lanternas traseiras estão avermelhadas onde deveria ser uma mescla de vermelho e laranja).
Mas antes de tudo, assim que ela descer da plataforma, o que quero fazer é, eu mesmo, lavar ela minuciosamente. Sim, abrir cada porta, forro, tapete e com todo cuidado, deixar ela impecável, olhar cada canto, ver todos os espaços, acabamentos, cada pedaço que eu puder. Será como tirar dela os cinco anos de não-funcionamento e deixá-la pronta pra sua “reestreia” como carro. Algo que em 1990 foi planejado quando ela saiu da linha de produção em Dingolfing. Em 17/07 ela irá completar seus 25 anos de vida, e espero que marque também o início de seu primeiro ano efetivamente comigo. No próximo post vocês saberão como tudo correu.
Até mais!
Por Marco Centa, Project Cars #09