Já se perguntou por que a rodovia que margeia o litoral brasileiro se chama BR-101, mas não existe uma BR-102, nem BR-103 ou BR-110? E que a rodovia que corre paralela a ela se chama BR-116? E se a gente corre na BR-3, onde é que ela está? Quem inventou esse sistema de nomes e qual o sentido deles?
A construção de estradas no Brasil começou ainda no período imperial, quando a coroa construiu caminho como a Calçada do Lorena, por exemplo, um caminho estreito e pavimentado por onde os viajantes cavalgavam entre o litoral de São Paulo e a capital paulista. Foi por ela que o Príncipe da Beira, Pedro, passou antes de chegar à região do riacho do Ipiranga no dia 7 de setembro de 1822.
Contudo, não houve um programa oficial de construção de estradas antes dos anos 1920, quando o presidente Washington Luís publicou o decreto nº 5.141, de 5 de janeiro de 1927, criando o Fundo Especial para Construção e Conservação de Estradas de Rodagens Federais, para financiar o desenvolvimento rodoviário do Brasil. O plano do presidente Washington Luís foi sucedido pelo Plano Geral de Viação Nacional, pelo Plano Nacional de Estradas de Rodagem e pelos Planos Rodoviários.
Foram estes os planos que instituíram o primeiro sistema nacional de numeração das rodovias, como já acontecia nos EUA. A partir do final dos anos 1940, as rodovias brasileiras federais começaram a ser numeradas, porém usavam um sistema diferente do atual. Elas eram divididas em quatro categorias, e usavam numeração sequencial, distribuídas da seguinte forma:
Radiais — rodovias que partiam da capital federal (Rio de Janeiro) eram numeradas de BR-1 até BR-6
Longitudinais — rodovias no sentido norte-sul (e que não passavam pelo RJ) eram numeradas de BR-7 a BR-21
Transversais — rodovias no sentido leste-oeste (e que não passavam pelo RJ) eram numeradas de BR-22 até BR-54
Diversas — rodovias sem direcionamento definido (e que não passavam pelo RJ) eram numeradas de BR-55 até BR-105
Não é preciso pensar muito para perceber que se tratava de um sistema limitado, que não considerava o crescimento da malha viária brasileira em longo prazo e enumerava apenas as rodovias existentes.
Assim, em 1964, quando os militares começaram seus planos faraônicos de desenvolvimento nacional, eles lançaram o II Plano de Viação Nacional, no qual idealizavam um sistema nacional unificado para coordenar os sistemas rodoviários do governo federal e das unidades da federação. Foi este plano (seguido pelo III Plano de Viação Nacional, de 1973) que foi instituído o atual sistema de nomenclatura, um sistema mais racional e preparado para atender a futura expansão da malha viária do país.
O padrão de nomenclatura é formado por duas letras seguidas de três algarismos. O significado das letras é fácil: se a rodovia é federal, as letras são BR. Se for estadual, as letras são a sigla do nome do estado. Quanto aos números, cada unidade da federação usa um critério próprio. Como é inviável explicarmos os 27 sistemas estaduais/distrital do Brasil, vamos nos concentrar somente nas rodovias federais.
O primeiro algarismo indica a categoria da rodovia, enquanto o segundo e o terceiro indicam sua posição e localização. Elas se dividem em cinco categorias: radiais, longitudinais, transversais, diagonais e de ligação.
Radiais
As radiais são as rodovias que partem de Brasília em direção aos extremos do país. Seus códigos começam sempre com o algarismo 0 e as posições variam de 10 a 90 no sentido horário. Como partem de Brasília, a contagem de distância das rodovias radiais aumenta à medida em que a rodovia se distancia da capital.
Foram planejadas originalmente nove rodovias federais radiais, porém a última delas nunca foi construída. São as seguintes:
– BR-010: segue para o norte e tem como extremidade a cidade de Belém/PA
– BR-020: segue para o nordeste e tem como extremidade Fortaleza/CE
– BR-030: segue para o leste e tem como extremidade Maraú/BA
– BR-040: segue para o sudeste e tem como extremidade o Rio de Janeiro/RJ
– BR-050: segue para o sul e tem como extremidade Santos/SP
– BR-060: segue para o sudoeste e tem como extremidade Bela Vista/MS
– BR-070: segue para o oeste e tem como extremidade Cáceres/MT
– BR-080: segue para o noroeste e tem como extremidade Uruaçu/GO
– BR-090: não construída. Planejada para ligar Brasília ao extremo norte do país
Longitudinais
Depois temos as rodovias longitudinais, isto é, que cruzam o país no sentido norte-sul, sem necessariamente passar pela capital Brasília. Seus códigos começam sempre com o número 1 e as posições variam de 01 a 50 do extremo leste do Brasil até Brasília, e de 50 a 99 de Brasília ao extremo oeste do Brasil.
Atualmente existem apenas 15 rodovias federais longitudinais, que começam no litoral com a BR-101 e vão até a BR-174, que foi planejada para ligar Roraima ao Mato Grosso do Sul. A contagem de distância é sempre do norte para o sul, exceto na BR-156, BR-163 e BR-174.
A mais longa das rodovias longitudinais é a BR-101, que inicia em Touros/RN e se estende por 4.772,4 km até São José do Norte/RS, porém tem uma interrupção no estado do Paraná, onde o trecho planejado não foi construído. Sem interrupções, a BR-116 é a segunda maior, sendo praticamente paralela à BR-101 ao longo de 4.513,2 km
Transversais
As rodovias transversais cortam o território brasileiro no sentido leste-oeste (o mesmo sentido da rotação da Terra), também sem necessariamente passar por Brasília. Seus códigos começam sempre com o número 2 e as posições variam de 01 a 50 do extremo norte até Brasília, e de 50 a 99 de Brasília até o extremo sul.
Atualmente existem 21 rodovias federais longitudinais. Elas começam no extremo norte com a BR-210 e vão até a BR-293, no Rio Grande do Sul, e a contagem de distância é feita sempre do leste para o oeste.
A mais longa delas é BR-230, mais conhecida como Transamazônica, que começa na rua Duque de Caxias em Cabedelo/PB, e se estende por 4.223 km até a rua Dr. João Fábio em Lábrea/AM.
Diagonais
As rodovias diagonais cortam o território brasileiro nos sentidos noroeste-sudeste ou nordeste-sudoeste, também sem necessariamente passar por Brasília. Seus códigos começam sempre com o número 3 e as posições são identificadas de um jeito um pouco diferente das demais. As rodovias noroeste-sudeste usam sempre o último número par, variando de 02 a 50 do extremo noroeste até Brasília, e de 52 a 98 de Brasília até o extremo sudeste. As rodovias nordeste-sudoeste usam sempre números ímpares no final, variando de 01 a 49 do extremo nordeste até Brasília, e de 51 a 99 de Brasília ao extremo sudoeste.
Atualmente existem 30 rodovias diagonais no Brasil. Elas começam no noroeste com a BR-304 entre o Ceará e o Rio Grande do Norte e vão até a BR-393 entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro. A contagem de distância é sempre iniciada no ponto mais setentrional (ao norte) da rodovia.
A mais longa delas é a BR-364, que começa na fronteira do Brasil com o Peru, no Acre, e se estende por 4.324,6 km até a rodovia SP-330 em Limeira/SP.
De ligação
As rodovias de ligação, apesar do nome óbvio (afinal, toda rodovia liga um lugar a outro), são rodovias que não se enquadram nas classificações acima, como rodovias locais usadas para ligar duas rodovias federais, ou uma rodovia federal a uma localidade ou fronteiras. Seus códigos começam sempre com o número 4, e as posições são identificadas pelos números de 01 a 50 ao norte de Brasília e de 51 a 99 ao sul de Brasília.
Existem apenas duas exceções à regra: as rodovias BR-610 e BR-600, que não têm ligação com outras rodovias federais, sendo criadas/administradas para acesso a instalações federais. A BR-610 usa o traçado de pouco mais de 5 km da SP-19 e liga a SP-270 ao Aeroporto de Guarulhos, enquanto a BR-600 liga a cidade de Foz do Iguaçu à usina de Itaipu com 6 km de extensão, sendo mais conhecida como Avenida Tancredo Neves.
A contagem de distância também inicia no ponto mais setentrional ou, se for uma ligação entre duas rodovias federais, a contagem começa na rodovia de maior extensão. Atualmente existem 91 rodovias federais de ligação, e a menor delas é a BR-488, que liga a BR-116/Dutra ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, com apenas 5,9 km.
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