Primeiro, a resposta óbvia: é claro que o Nissan GT-R é mais rápido que seu antecessor, o Skyline GT-R R34. Sua mecânica é superior (ele tem quase o dobro da potência), a tecnologia está ao seu lado (o chamam de “computador sobre rodas”, o que não é tão exagerado assim) e ele foi lançado oito anos depois (o R34 é de 1999 e o R35, de 2007). A pergunta mais certa é: o quão mais rápido ele é? O Carthrottle foi descobrir, e o resultado é, no mínimo, inesperado.
Não é muito fácil encontrar um Skyline GT-R R34 original e bem conservado. Existem, ao todo, pouco mais de 12 mil unidades, que foram fabricadas entre 1999 e 2002. Destas, a maioria esmagadora ficou no Japão, com uns poucos exportados para a Austrália e para a Europa de forma oficial, e menos ainda para a América. Assim, o carro usado pelos caras do Carthrottle (que são ingleses) já é, por si só, uma preciosidade.
O GT-R, por outro lado, é quase arroz de festa. Sua fama de matador de gigantes é mundial: com um V6 biturbo de 3,8 litros de 552 cv e 64 mkgf de torque acoplado a uma caixa de seis marchas com dupla embreagem, ele é capaz de colocar terror em gente do calibre do Porsche 911 e até da Ferrari 458 Italia (ainda que, de vez em quando, ele leve uma rasteira).
De qualquer forma, mesmo que a resposta seja óbvia, a comparação do feita pelo Carthrottle é totalmente válida, pois acaba respondendo outra pergunta: o quanto o GT-R R35 é, de fato, melhor que o Skyline? Bom, chega de papo e vamos assistir:
Se o GT-R tem força bruta a seu favor, o Skyline GT-R R34 tem um conjunto mecânico clássico de eficiência mais do que comprovada. O motor é o icônico seis-em-linha RB26DETT, de 2,6 litros que, com dois turbocompressores, entrega “280 cv” – as aspas estão ali porque esta é a potência declarada para se adequar ao acordo que, na época, estava em vigor entre as fabricantes japonesas, pois a potência real passa dos 300 cv.
O câmbio é manual de seis marchas e, apesar de causar uma evidente desvantagem numérica (afinal, nenhuma pessoa consegue trocar marchas em milissegundos como uma caixa de dupla embreagem faz), permite muito mais envolvimento do motorista na pilotagem.
Talvez a única coisa que os dois têm em comum, além dos emblemas Nissan, seja a tração integral. E, mesmo assim, estes são sistemas bem diferentes: se o Skyline tem um arranjo tradicional, com a transmissão acoplada diretamente ao motor, o GT-R tem um transeixo (a transmissão é acoplada diretamente ao eixo traseiro). E, se o R34 já usava o chamado ATTESA E-TS, sistema que dividia o torque entre as rodas traseiras através do diferencial de deslizamento limitado e um computador de 16 bits, o Godzilla leva isto ainda mais longe graças ao avanço da tecnologia e consegue, por exemplo, enviar até 98% do torque para as rodas traseiras em uma largada parada.
Acontece que, na hora de acelerar os dois carros em uma estrada sinuosa, as diferenças técnicas dão a vantagem ao R34. O Skyline GT-R é um carro mais esguio (tem 12 cm a menos de entre-eixos que o R35) e leve (são 1.540 kg; 200 a menos que o R35), tem uma embreagem relativamente pesada e, apesar da tração integral controlada por um computador, é um carro bastante orgânico e barulhento. Em termos de aceleração, o desempenho ainda é perfeitamente aceitável se comparado aos padrões atuais, e vem acompanhado da bela trilha sonora entoada pelo RB26DETT. A interação homem-máquina é a protagonista aqui.
No caso do GT-R, a coisa é mais extrema. Como já dissemos algumas vezes, a melhor definição para este carro é “violento”: o câmbio acopla com raiva e a aceleração é absurda (em condições ideais, o 0-100 leva menos de três segundos), e você se sente, de fato, montado em um monstro do cinema kaiju (o gênero de filmes com monstros gigantes ao qual pertence Godzilla). Só que ele também usa muita eletrônica para ajudá-lo a extrair o máximo de seu desempenho caso você seja um piloto profissional, ou simplesmente para ajudá-lo a não se matar caso você seja só um entusiasta empolgado, porém sem experiência.
Todas as circunstâncias nos levam a crer que o Godzilla vai simplesmente estraçalhar o R34 na hora do “vamos ver”. Pois bem, não é exatamente este o caso.
Os caras do Carthrottle fizeram três testes com os dois carros: frenagem, slalom e arrancada (este último, no esquema melhor de três). Na frenagem, apesar dos freios muito mais potentes, ambos precisaram exatamente da mesma distância para ir de 130 a 0 km/h, e o peso do GT-R certamente foi o responsável pelo empate.
No slalom, o GT-R percorre o circuito com mais agilidade e desenvoltura graças a um conjunto de fatores: os pneus mais largos, o sistema de controle de estabilidade e, claro, à suspensão com amortecedores ativos.
Por fim, na arrancada, temos o resultado mais interessante: o GT-R leva a melhor nas duas primeiras vezes (afinal, como já dissemos, ele tem quase o dobro da potência e um câmbio mais rápido que qualquer piloto de carne e osso), mas o Skyline ganha na terceira.
A explicação dos caras tem a ver com o funcionamento do controle de largada: segundo o Carthrottle, o sistema ficou menos agressivo na terceira puxada para, veja só, poupar a mecânica, que estava quente demais. Isto vai contra a tendência autodestrutiva do GT-R, que já comentamos aqui.
De qualquer forma, a concordamos com a conclusão dos britânicos: o desempenho dos dois carros é bem mais próximo do que a ficha técnica nos leva a pensar. Isto não tira mérito algum do Godzilla – na verdade só mostra como o Skyline GT-R R34 é um clássico que merece todo o culto criado ao seu redor nos últimos 15 anos.