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Sessão da manhã

Bugatti EB110 SS: o quase esquecido (e totalmente incrível) antecessor do Veyron

Não é difícil acreditar que o Bugatti Veyron, o superlativo supercarro com motor de oito litros, 16 cilindros, quatro turbos e mais de 1.000 cv capaz de chegar aos 400 km/h, foi o carro que marcou a volta da Bugatti à fabricação de automóveis. Destacar-se pela força era o caminho lógico a seguir depois de, no início do século, ser a fabricante dos carros mais luxuosos do mundo, vencendo as 24 Horas de Le Mans de 1937 e 1939 no processo.

Acontece que houve outro antes do Veyron, ainda que ele definitivamente não tenha a mesma fama: o EB110 — que já tinha a mesma pretensão de ser o supercarro mais rápido do planeta quando foi lançado, em 1991.

A Bugatti renascera em 1987, quando foi comprada pelo empresário italiano Romano Artioli e uma nova fábrica, ao norte de Modena, foi construída. Era o fim de um hiato de 38 anos que começou logo por causa da morte de Ettore Bugatti, fundador da empresa, em 1949.

Os primeiros protótipos com monocoque de alumínio já traziam as linhas ousadas da carroceria, com proporções imponentes, formato de cunha e qualidade de construção extremamente cuidadosa para um supercarro. Depois, os carros começaram a ser feitos com monocoques de fibra de carbono (que era fabricado pela francesa Aérospatiale, especializada em aviões), e acredita-se que existam apenas algo entre 31 e 38 exemplares da versão mais rara e potente, a SS, lançada em 1992.

Apesar de ter quatro cilindros a menos que o Veyron, o V12 de 3,5 litros e 60 válvulas do EB110 já era sobrealimentado por quatro turbocompressores e tinha velocidade máxima impressionante. Na primeira versão, EB110 GT, o motor entregava 560 cv a 8.000 rpm, suficientes para chegar aos 100 km/h em 4,2 segundos com máxima de 336 km/h — o que fez dele o carro mais rápido do mundo em 1991. Foram fabricadas por volta de 95 unidades do EB110 GT. Na SS, a mais rara, o motor entregava 612 cv a 8.250 rpm, sendo capaz de levar o esportivo aos 100 km/h em 3,2 segundos com máxima de 348 km/h — 1 km/h a menos que o Jaguar XJ220, que tirou o recorde do Bugatti EB110 GT pouco antes do lançamento do SS.

eb110gt

EB110 GT

Os caras do clube Supercar Driver — uma associação britânica de proprietários de superesportivos e carros exóticos que promove passeios, provas de arrancada e track days com supercarros e depois coloca tudo no YouTube — têm, naturalmente, acesso a algumas preciosidades do mundo automotivo. Por isso, decidiram inaugurar uma websérie sobre os supercarros mais marcantes dos anos 90. O primeiro episódio de 90’s Supercar Legends foi dedicado ao EB110, e o carro poderia ser qualquer um dos trinta-e-poucos exemplares do modelo SuperSport que existem. Eles encontraram o primeiro.

De acordo com o vídeo, o primeiro Bugatti EB110 SS de todos foi encomendado pelo Sultão do Brunei (sempre ele!) e agora pertence ao colecionador Brian Davis, que “refere-se carinhosamente à sua coleção como um belo estábulo de garanhões italianos”. Em estado verdadeiramente impecável, explorar o carro de Davis é uma bela maneira de conhecer todos os detalhes do antecessor do Veyron.

O interior é um dos mais bem acabados entre os supercarros da década de 1990. Diferentemente de rivais como a Ferrari F50 e o McLaren F1, por exemplo, seu apelo é bem menos racer e mais próximo dos carros de luxo, com couro costurado à mão por todos os lados, apliques de fibra de carbono de verdade no painel e o letreiro “BUGATTI” em alumínio escovado nas soleiras das portas. Os bancos concha são de fibra de carbono revestida com couro, e o interior do carro de Davis parece o de um carro zero-quilômetro.

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Não há muitas barreiras entre o cofre e a cabine, o que torna a experiência de andar em um EB110 sempre deliciosamente barulhenta. Ah, e o console central exibe, orgulhoso, a alavanca da transmissão manual de seis marchas. A tração integral distribuía 27% do torque para as rodas dianteiras e 73% para as rodas traseiras, enquanto os freios eram a disco da Brembo.

A carroceria, projetada por Marcello Gandini (o mesmo designer do Lancia Stratos e do Lamborghini Countach) e Giampaolo Benedini, traz o clássico formato de cunha com uma grade dianteira que remete aos Bugatti do início do século (e também está presente no Veyron), portas tesoura e asa traseira ajustável de fibra de carbono. O motor é coberto por uma tampa de vidro, o que dá a oportunidade de ver todo o trabalho do sistema de injeção quando o acelerador é pressionado.

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No início de 1994, Michael Schumacher ajudou colocar o EB110 em evidência ao comprar um exemplar amarelo do modelo SS. Com a publicidade positiva, Artioli animou-se demais e decidiu comprar outra fabricante de automóveis, a Lotus. Foi um erro — a má administração do dinheiro levou a Bugatti a dificuldades financeira e, depois, à falência.

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Sem dúvida o EB110 é um carro fantástico e, ao contrário do Veyron, até foi transformado em carro de competição — como um bom Bugatti. Foi nas 24 Horas de Le Mans de 1994, quando, quando um único EB110 (com potência reduzida para 600 cv para adequar-se às regras) foi inscrito na prova por uma equipe independente. O carro largou em em 17º lugar na classificação geral e 5º na categoria GT1, mas não terminou a corrida por problemas nos turbocompressores.

Depois disso, o EB110 participou do circuito americano de endurance, disputando provas como as 24 Horas de Daytona em 1995 e 1996, sem muito sucesso. Com a sequência de recordes de velocidade máxima do Jaguar XJ220 em 1992 e do McLaren F1 em 1993 e a chegada de outros supercarros como o Diablo e a F50, o Bugatti EB110 teve sua curta trajetória ofuscada. Sorte a nossa que existem fãs dedicados a preservar sua memória.