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Car Culture

Câmeras, armas, motocicletas e… macarrão: as criações da Italdesign que não são carros

Com o lançamento do supercarro da Italdesign, o ousado Zerouno, é difícil resistir à tentação de falar sobre os outros carros que a companhia projetou sob encomenda de outras fabricantes – algo que já fizemos há algum tempo, na verdade. Por isso, vamos partir para uma abordagem um pouquinho diferente.

A Italdesign foi fundada em 1968 pelo lendário designer Giorgetto Giugiaro (que, como dissemos hoje mesmo, não faz mais parte da companhia) e Antonio Mantovani. Sob a direção de Giugiaro o estúdio projetou dezenas de modelos para fabricantes de automóveis de todas as partes do planeta — muitos deles se tornaram verdadeiros ícones, tanto os clássicos quanto os mais recentes. BMW M1, Alfa Romeo Brera, DeLorean DMC-12, Fiat Uno, Lancia Delta, Lotus Esprit… todos estes saíram da mente, das pranchetas da Italdesign.

Só que a Italdesign e Giugiaro não criaram apenas carros. E é este nosso tema de hoje: vamos dar uma olhada nas criações da Italdesign que não são carros.

 

Câmeras fotográficas

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A japonesa Nikon, anteriormente conhecida como Nippon Kongaku K.K., já era uma das grandes fabricantes de câmeras fotográficas do mercado em 1979, ao lado de Canon, Minolta, Pentax e Olympus. Naquela época, a concorrência entre estas marcas era muito forte – foi quando as câmeras profissionais começaram a deixar de ser caixas de metal grandes e pesadas, totalmente mecânicas, e ficavam cada vez mais compactas, leves e fáceis de operar graças à adoção de circuitos eletrônicos integrados.

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E foi nesta época que a a Nikon apresentou a linha EM de câmeras compactas SLR. A sigla significa Single Lens Reflex, e na prática quer dizer que a câmera usa uma lente, um prisma e um espelho, permitindo que o fotógrafo veja exatamente o que a lente está capturando. Câmeras compactas (pense na Nikon Coolpix ou na Sony Cybershot) normalmente usam um visor à parte, o que normalmente faz com que a imagem vista pelo fotógrafo seja sensivelmente diferente daquela que a lente captura.

É por isso que os fotógrafos profissionais costumam usar câmeras do tipo SLR (hoje em dia, digitais, são chamadas de DSLR), pois elas permitem um controle muito maior da imagem capturada. E foi graças à Nikon EM que as SLR começaram a se popularizar. Ela foi a primeira câmera da Nikon voltada para o nicho das SLR de baixo custo, e trazia como destaques a facilidade de uso, o tamanho relativamente compacto, a compatibilidade com todas as lentes da Nikon; o preço baixo (possibilitado pelo processo de fabricação mais simples) e o visual, assinado por Giugiaro.

Suas características faziam da Nikon EM uma câmera voltada para mulheres e iniciantes, de acordo com a própria Nikon. E, de fato, era uma câmera bastante competente e bonita pelo preço que custava. No entanto, o mercado da fotografia ainda não estava pronto para este nicho, e por isso a EM foi um fracasso nas vendas.

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Dito isto, a Italdesign de Giugiaro seguiu desenhando câmeras para a Nikon. O modelo seguinte, a Nikon F3, de 1980, tinha construção mais refinada e um preço mais elevado, e foi um sucesso entre os clientes mais tradicionais da companhia. A última câmera projetada pela Italdesign para a Nikon foi a D800, DSLR lançada em 2012.

 

Armas

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Em inglês, shoot pode significar tanto “tirar uma foto” quanto “atirar com uma arma”. E, veja só: além de câmeras fotográficas, a Italdesign também desenhou armas. A primeira delas foi a Beretta U22 Neos, pistola semiautomática lançada em 2002.

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A Beretta foi fundada em 1526 em Brescia, na Itália, mas a U22 Neos foi projetada pela divisão americana da companhia. Talvez eles quisessem dar à pistola um estilo mais italiano… e por isso contrataram a Italdesign, e não a EUA design (que nem existe).

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A Italdesign ainda projetou outras duas armas para a Beretta: o rifle semiautomático Cx4 Storm, indicado para tiro esportivo, defesa pessoal e para forças armadas; e a bela espingarda UGB25 Xcel Trap 12 GA, 30″.

 

Motocicletas

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Na década de 1970, enquanto a trabalhava nos primeiros modelos arrefecidos a água da Volkswagen, a Italdesign arranjou tempo para projetar algumas motos.

Uma delas foi a Ducati 860 GT, lançada em 1974 como modelo 1975. Ela trazia um motor V2 de 860 cm³ com ângulo de 90°, que era um componente estrutural. Os 57 cv eram suficientes para levar a moto até os 170 km/h.

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O desenho criado por Giorgetto Giugiaro abusava das linhas retas e dispensava as formas sinuosas da época, dividindo opiniões entre os fãs de motos. Isto levou a Ducati a mudar o estilo da moto, que recebeu um tanque de combustível mais tradicional e perdeu o “rabo de pato” na traseira, passando a se chamar 860 GTS. A motocicleta deixou de ser produzida em 1979.

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A Suzuki RE5 foi outra moto projetada pela Italdesign, e também foi lançada em 1974 como modelo 1975. Ela era uma roadster convencional em todos os aspectos, exceto por um detalhe crucial: o motor. Ele não tinha pistões, nem em linha nem em V… era um Wankel.

O ronco de um Wankel é sempre inconfundível

Com um único rotor e deslocamento de 497 cm³, o motor entregava saudáveis 62 cv. Aliás, por sua eficiência energética (muita potência para pouco deslocamento) e suavidade de funcionamento, o motor Wankel já chegou a ser considerado o futuro das motocicletas.

A ideia, contudo, não vingou: o alto consumo dos motores Wankel já era considerado um problema, mesmo em veículos mais leves como uma motor, e por isso a Suzuki RE5 deixou de ser fabricada já em 1976.

 

Macarrão

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Macarrão? É, macarrão! Esta é uma história que já contamos aqui. Em 1980, uma fabricante de massas tradicionalíssima na Itália, a Voiello, decidiu que seu novo formato de macarrão seria desenhado por um cara tão apaixonado e preciso quanto eles. Este cara era Giorgetto Giugiaro, da Italdesign.

Em uma entrevista concedida em 1991, Giugiaro contou o que a Voiello esperava do macarrão projetado por ele:

Apresentamos doze designs, eles escolheram quatro e os passaram para a engenharia de produção. Fomos convidados para Nápoles, para jantar em um restaurante chique: o macarrão foi testado com molhos de vários tipos.

Os requisitos eram os seguintes: o macarrão não deveria absorver muito molho; deveria aumentar de volume na água, de modo que um prato de marille deveria pesar a metade de um prato de spaghetti; no auge da nouvelle cuisine, deveria ser decorativo, “arquitetural”. Deveria, como todo macarrão, reter o molho e deixar a água ir embora. E deveria ser “palatável”, um termo técnico que indica a reação positiva da boca ao sabor.

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O formato escolhido era “bi-tubular” e curvilíneo, e a Voiello realizou um evento muito chique para seu lançamento, em 1983, em Milão. Mas apesar de toda a pompa, o Marille foi um fracasso de vendas: mesmo com todas as qualidades encontradas, seu formato irregular tornava o macarrão difícil de cozinhar e, por causa disso, sua distribuição durou poucos meses.