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Carga pesada no FlatOut: os caminhões de Águas de Lindóia

Quem se aproximava da praça Adhemar de Barros para apreciar os carros antigos expostos ali durante o Encontro Brasileiro de Automóveis Antigos em Águas de Lindóia/SP era recebido não por uma fileira de automóveis clássicos, mas por um pequeno grupo de caminhões de todas as eras — alguns deles verdadeiros ícones das estradas brasileiras. A disposição é até poética, e você pode interpretar como a ordem natural das coisas: antes dos carros, havia os caminhões que transportaram esses carros das fábricas para as lojas, de onde eles ganhariam as ruas brasileiras.

Talvez você não saiba, mas antes de 1956, quando os primeiros automóveis brasileiros foram fabricados, a Fábrica Nacional de Motores, ou FNM, já produzia os caminhões D-7.300, que eram derivados da série D-80 da Isotta Fraschini, de quem a empresa licenciou o projeto. Infelizmente, não havia nenhum FNM em estado original no encontro — o único exemplar da marca estava muito descaracterizado e já não estava mais presente no momento das fotos.

Mas além dele havia uma série de clássicos contemporâneos, como os Mercedes da série L-300 — na verdade, um par de Mercedes-Benz L-312 de 1957. Esta série foi iniciada em 1949 com o L-311 e teve sua primeira evolução logo em 1953 com o L-312.

Os L-312 eram caminhões de dois eixos, equipados com o motor OM312 — na época a Mercedes costumava combinar o código de chassi com o código dos motores —, um diesel de seis cilindros com admissão atmosférica, de 4,5 litros e 89 cv a 100 cv, dependendo do ano de produção.

Como é possível notar nas fotos, eles tinham variações no entre-eixos — três opções eram oferecidas, uma de 3800 mm, outra de 4200 mm e outra de 4830 mm. Um fato interessante é que, apesar de ser um caminhão dos anos 1950, ele já tinha transmissão de cinco marchas, todas sincronizadas com exceção da marcha à ré.

Outro “bicudo” querido do público brasileiro e que estava presente no evento era o Scania L-Series, o famoso “Jacaré”. Os dois exemplares expostos — um L76 e um L111 — eram dos anos 1970, mas a série foi a segunda criada pela Scania Vabis, nos anos 1950. E a produção brasileira, iniciada em 1957, foi a primeira linha da Scania fora da Suécia.

O primeiro modelo feito no Brasil foi o L-75, que ainda tinha motor importado e apenas 30% de nacionalização e era produzido em parceria com a Vemag. O motor só começou a ser feito no Brasil em 1959 e, em 1960, a parceria foi encerrada e a Scania assumiu toda a operação local, trazendo o L-76 em 1961.

Como o Mercedes, o Scania tinha motores de seis cilindros em linha, porém com 11 litros de deslocamento e duas opções: aspirado ou turbo. O primeiro tinha 190 cv e o segundo, que era chamado L76 Super, tinha 260 cv.

Em 1976 foi lançado o L111, também com versões LS e LT, também com o motor de onze litros. Todos os modelos são conhecidos no Brasil como Scania Jacaré, embora a alcunha seja mais associada ao L111 – que era o modelo mais potente, com 203 cv na versão aspirada e 293 cv na versão turbo, e teve cerca de 9.700 unidades vendidas entre 1976 e 1981.

Embora fosse um projeto europeu, o Jacaré passou por diversas modificações para adaptar-se melhor às condições de rodagem no Brasil, o que incluiu reforços no chassi e na suspensão. São caminhões extremamente duráveis – tanto que existem diversos exemplares em ótimo estado de conservação rodando ainda hoje, seja a trabalho ou por lazer. Ele continuou em produção até 1981, quando foi substituído pela série 112, que são os famosos modelos “quadrados” da Scania.

Já que chegamos aos anos 1970, é hora de falar de outro ícone das estradas: o Mercedes-Benz 1111, o primeiro modelo da série AGL, de cabine semi-avançada e capô curto, que dividiu as estradas brasileiras com o Scania “Jacaré” nos anos 1970 e 1980.

O 1111 foi o precursor desta série, e era equipado com o motor OM-321, usado também nos anteriores LP-321 “Cara-Chata” e nos famosos ônibus monobloco da marca. O 321 era um seis-em-linha de cinco litros e aspiração natural, com 110 cv.

Como o L-312, o 1111 era oferecido com três distâncias entre-eixos — 3600 mm, 4200 mm e 4823 mm. Mais tarde, a Mercedes-Benz começou a credenciar a instalação de um terceiro eixo para que ele pudesse atingir o PBT de 18,5 toneladas.

O modelo, assim como o Scania L-Series, durou décadas no Mercado, saindo de linha em 1989, quando abriu espaço para a série HPN, que são aqueles Mercedes bicudos com a cabine “quadrada”. No evento ainda havia um exemplar daquele último ano de produção, modernizado com os populares adesivos laterais da época e até calotas integrais!

A turma da carga pesada em Lindóia era completada pelos caminhões importados: um Peterbilt 359 de 1986 — o clássico caminhão “bicudo” americano, e uma evolução do caminhão maligno de “Encurralado”:

Também estava lá um International Loadstar dos anos 1960:

Um International 9400 de 1995….

… e, encerrando nossa cobertura de Águas de Lindóia, este simpático Studebaker E-Series de 1954, talvez a mais icônica série da Studebaker, produzida entre 1949 e 1960 e que foi muito popular até mesmo no Brasil.