em 21 de julho de 1987 no centro civico de maranello o ambiente tinha menos de celebraçao e mais de despedida antecipada enzo ferrari com 89 anos e cada vez mais fragil fez sua ultima apariçao publica para apresentar o carro que marcava os 40 anos da marca estava rigido protegido pelos oculos escuros que o acompanhavam desde sempre sustentado pelo cansaço acumulado e apesar de breve a frase que disse carregava um tipo de lucidez que so aparece no fim esta e a ferrari como deveria ser como sempre deveria ter sido vinda de qualquer outra pessoa a declaraçao soaria pose na boca de enzo virou constataçao dolorosa para quem passou decadas definindo o que significava um carro da marca o homem que criou campeoes moldou estilos e consolidou a identidade da ferrari admitia no fim da vida que so naquele projeto havia encontrado o ponto que perseguira por tanto tempo era uma especie de acerto de contas com a propria trajetoria — testarossa transformadas em simbolos de ostentaçao gt civilizados demais concessoes inevitaveis a gosto estilo e burocracia a f40 nao aparentava ser um presente; parecia uma confissao publica de que por anos a marca caminhou entre ideal e compromisso o desconforto nao estava na figura envelhecida diante do publico e sim no significado de suas palavras enzo refletia sobre quatro decadas marcadas por escolhas condicionadas por mercado acionistas e circunstancias a f40 surgia como ruptura nao homenageava o passado recente; devolvia ao fundador a chance de fixar por fim a definiçao do que era uma ferrari em essencia um objeto regido mais por proposito do que por elegancia ou comodidade seria o ultimo carro aprovado pessoalmente por enzo ferrari treze meses depois ele deixaria a cena a f40 permaneceu como prova de que quando nada mais esta em jogo alguem pode enfim realizar aquilo que sempre quis essa decisao carregava uma melancolia particular cercado de corporaçoes de planilhas e da chegada inevitavel da era eletronica enzo escolheu criar um carro puramente analogico no momento em que o mundo migrava para outra logica era o gesto final de um fundador tentando suspender o futuro com fibra de carbono e dois turbos e esse cenario de fim de ciclo que transforma a f40 em algo maior que um supercarro o projeto nao nasceu para disputar estatisticas embora fosse capaz disso surgiu para representar um tipo de transparencia mecanica que ja se tornava rara era o derradeiro espaço onde o criador pode fazer prevalecer sua visao antes que o tempo o alcançasse a fragilidade fisica de enzo na apresentaçao contrastava com a presença agressiva do carro exposto ao seu lado por perto leonardo fioravanti e nicola materazzi observavam em silencio atras deles repousava a f40 ainda sem nome definitivo e sem qualquer aura mitica — apenas um prototipo vermelho que parecia ter vindo direto de um teste apressado em fiorano tao apressado quanto seu projeto iniciado e concluido em apenas 11 meses a origem da f40 nao esta em estudos de mercado nem em um briefing elegante surge de algo mais incomodo o legado tecnico deixado pela 288 gto evoluzione um prototipo criado para o grupo b e que nunca pode cumprir seu destino em 1982 a fisa o orgao desportivo da fia reestruturou as categorias de carros produzidos em serie do apendice j de seu regulamento desportivo naquele ano o antigo grupo 1 e o grupo 2 foram substituidos respectivamente pelo grupo n carros de turismo nao modificados e pelo grupo a carros de turismo modificados esses carros precisavam ter quatro lugares ao menos 2+2 e produçao minima de 5 000 exemplares em 12 meses entre 1982 e 1992 alem dos grupos a e n tambem entrou em cena um novo grupo que reunia os antigos grupo 3 grupo 4 e grupo 5 que abrangiam os carros gt esse novo grupo foi batizado grupo b e permitia carros com ao menos dois lugares e derivaçoes especiais de carros de serie ate entao o mundial de rali wrc permitia os carros do grupo 3 e do grupo 4 enquanto o grupo 5 era voltado as categorias de circuitos como o mundial de endurance/carros esporte wsc foi assim que o grupo b acabou se tornando a principal categoria do mundial de rally mas esse e so o começo da historia a atratividade do grupo b estava em seu regulamento alem de exigir apenas 200 unidades produzidas em serie para homologaçao os carros precisavam ter apenas dois lugares os equipamentos de segurança e um peso minimo baseado no deslocamento do motor e nada alem disso a preparaçao do motor era liberada o deslocamento idem traçao transmissao sobrealimentaçao materiais de carroceria e chassi tudo era liberado como no grupo a mas como nao era preciso vender 5 000 carros em 12 meses o limite era a imaginaçao e o orçamento o que era atrativo de verdade na homologaçao era a forma com a qual a produçao de 200 carros era exigida pela fia as fabricantes podiam deixar 10% da produçao total para o ano seguinte a homologaçao ou seja para participar do grupo b bastava fazer 180 carros em um ano e 20 no outro no grupo a era preciso fazer 4 500 carros em um ano e 500 no outro com isso alem de permitir que todos os fabricantes do mundial de rali copiassem o revolucionario audi quattro grupo b acabou servindo de abrigo para os carros que nao se encaixavam mais no grupo n ou no grupo a por nao ter quatro lugares ou por nao ter produçao suficiente para a homologaçao — o que na pratica permitia a homologaçao de esportivos com produçao limitadissima como a ferrari fazia nos anos 1960 foi dai que surgiu a 288 gto que usava como ponto de partida a 308 gtb e seu motor v8 dino mas em uma configuraçao de 2 9 litros que com dois turbocompressores ihi e injeçao weber marelli entregava 405 cv e 50 6 kgfm era o bastante para chegar aos 100 km/h em cinco segundos e a maxima de 306 km/h a 288 gto foi o primeiro carro produzido em serie a ultrapassar os 300 km/h e tambem a primeira ferrari produzida em serie a usar turbos no motor o deslocamento exato era de 2 855 cm³ e havia uma boa razao multiplicado por 1 4 como era exigido pelo regulamento da fia o numero subia para 3 997 cm³ e enquadraria a 288 gto na categoria ate quatro litros com o carro homologado em 1º de junho de 1985 a ferrari começou a trabalhar na versao de pista da 288 gto — a 288 gto evoluzione feita de fibra de carbono e kevlar pesando apenas 960 kg e com uma evoluçao do v8 2 8 biturbo que chegou aos 650 cv ela foi desenvolvida em parceria com a scuderia michelotto equipe italiana sediada em padua que começou como uma concessionaria da ferrari em 1969 e nos anos 1970 conseguiu relativo sucesso nos ralis sempre que a ferrari queria desenvolver algo longe dos olhos da fiat os engenheiros e pilotos iam para a sede da michelotto a 288 gto evo tinha tudo de mais avançado que a ferrari poderia colocar em um carro homologado — todas as tecnologias trazidas da formula 1 estavam la — o uso de compositos no monocoque os motores turbo as evoluçoes aerodinamicas era um laboratorio sobre rodas que tinha potencial para se tornar um dos grandes competidores dos anos 1980 se nao fosse um destino tragico em 1986 enquanto a ferrari desenvolvia a 288 evo a fia decidiu encerrar o grupo b apos uma sequencia de tragedias que culminou naquele ano com dois acidentes terriveis — em março em portugal quando joaquim santos perdeu o controle de seu ford rs200 e deixou 33 mortos; e em maio na frança quando o lancia delta s4 de henri toivonen e sergio cresto saiu da pista e pegou fogo matando ambos da noite para o dia a ferrari ficou com um projeto caro avançado e de repente sem utilidade para materazzi e sua equipe era como ter construido uma obra sem palco o prototipo estava tecnicamente vivo mas nao servia para nada marco toni piloto de testes que levou a evoluzione ao limite em fiorano converson com enzo ferrari e disse que o prototipo nao merecia ser abandonado ele precisava se tornar um carro de serie por que era melhor carro que a ferrari havia criado as palavras de um piloto no universo de enzo tinha mais peso que relatorios corporativos inteiros enzo percebeu ali a oportunidade de fazer algo como nos velhos tempos a evoluzione nao seria descartada se tornaria a base de um carro de rua feito em tempo quase irreal sem as suavizaçoes tipicas dos gt da epoca o carro que ele considerava ideal uma verdadeira ferrari de rua como ela deveria ser o desenvolvimento da f40 começou como uma mera continuidade da 288 gto evoluzione nao foi um carro desenhado nos estudios climatizados da pininfarina nem nas salas de maranello ele começou numa oficina quente e barulhenta em padua — o qg da michelotto um começo propicio para um carro com seus objetivos — e com um prazo apertadissimo a meta era transformar a evoluzione em um carro de rua em onze meses ele precisava começar ja na pratica materazzi com experiencia na lancia e intimo da logica dos turbos sabia que parte da batalha era politica enzo ferrari venerava motores v12 aspirados e desconfiava de turbocompressores para avançar materazzi evitou insistir no termo turbo e adotou descriçoes mais neutras focadas no resultado ele proprio diria depois que jamais se sentiu tao exausto mas que teve enfim a liberdade para construir um carro que o proprio enzo nao teria pedido diretamente o outro obstaculo estava no lado corporativo a convivencia com a fiat era tensa buscava padronizaçao controle e previsibilidade a f40 ia no sentido contrario boa parte do projeto foi realizada longe dos processos formais da engenharia de maranello era uma forma de preservar a autonomia tecnica das interferencias dos burocratas na michelotto materazzi e sua equipe lidaram com materiais que na epoca eram quase exclusivos da formula 1 a combinaçao de kevlar e fibra de carbono nos paineis colados ao chassi tubular exigia aprendizado diario ajustes manuais e processos de cura termica pouco convencionais as pequenas variaçoes entre os carros hoje vistas como charme eram fruto dessa produçao intensa e acelerada o v8 de 2 936 cm³ foi ajustado para entregar 478 cv a 7 000 rpm e 58 5 kgfm para reduzir o turbo lag materazzi escolheu dois ihi de baixo atrito ainda assim decidiu manter uma resposta deliberadamente abrupta abaixo de 3 500 rpm o carro parecia contido; acima disso liberava potencia de forma explosiva sem eletronica intermediando essa caracteristica definia a personalidade do carro as decisoes mais radicais da f40 vieram das ausencias materazzi estabeleceu que o carro seria um instrumento direto sem intermediarios nao haveria direçao assistida cada irregularidade do asfalto seria transmitida ao volante com fidelidade total em baixa velocidade exigia força; em alta recompensava com precisao tambem nao entrariam freios assistidos o que deixava ao motorista a responsabilidade integral pela dosagem da frenagem a escolha mais emblematica foi excluir o abs a ferrari dominava sistemas eletronicos avançados na formula 1 mas nunca competira com abs e materazzi manteve esse principio o sistema segundo ele filtrava informaçoes essenciais da aderencia e desobrigava o piloto a entender o limite dos pneus a ausencia do abs fazia parte da logica do carro que exigia dominio atençao e sensibilidade o compromisso com a leveza estava no centro do projeto cada quilo contava e sistemas de assistencia eram vistos como peso morto o chassi combinava estrutura tubular de aço com paineis de kevlar e carbono colados formando uma celula resistente e muito leve tratava se de uma construçao hibrida sofisticada trabalhosa e cara para padroes de produçao mas essencial para atingir o peso seco de 1 100 kg a f40 foi o primeiro carro de produçao da ferrari a usar de forma intensiva fibra de carbono e kevlar nos paineis da carroceria o chassi era tubular em aço mas reforçado com paineis colados de kevlar e carbono formando algo semelhante a uma gaiola de segurança leve esta tecnica de construçao hibrida era complexa e cara os testes conduzidos por marco toni e dario benuzzi foram decisivos benuzzi descreveu os primeiros prototipos como animais que voce precisa acalmar antes de ganhar confiança a falta de assistencia expunha cada erro mas ao mesmo tempo fazia o piloto sentir exatamente o que o carro pedia a cada instante o processo de prototipagem envolveu riscos reais em um teste noturno uma vibraçao intensa durante a frenagem fez uma das portas abrir sozinha a soluçao veio de forma manual reforçando a dobradiça a f40 era construida com base no que a pista revelava nao apenas no que a prancheta sugeria quando pronta enzo resumiu o resultado com uma frase curta que sintetizava o espirito do projeto nao e bonito mas e honesto o design assinado pela pininfarina sob liderança de leonardo fioravanti destoava da tradiçao da casa a f40 tinha aparencia angular e agressiva abandonando a elegancia fluida que caracterizava tantos modelos anteriores o foco do desenho estava completamente submetido as exigencias aerodinamicas e ao controle de temperatura criando uma identidade visual que parecia mais instrumento do que escultura a tensao dentro da pininfarina era evidente a empresa era reconhecida por desenhar carros elegantes fluidos de proporçoes equilibradas — testarossa 308 365 a f40 caminhava noutra direçao formas retas superficies recortadas entradas de ar profundas e um conjunto que afastava qualquer intençao de suavidade o processo de desenvolvimento no tunel de vento ditou praticamente tudo a estetica acompanhou a funçao e nao o contrario cada parte da carroceria foi concebida para manipular o ar e proteger o conjunto mecanico o capo baixo o balanço dianteiro curto e os recortes agressivos no para choque existiam para reduzir arrasto e melhorar a estabilidade mas era a seçao traseira que definia o carater visual da f40 direta funcional sem concessoes a asa traseira fixa era integrada a carroceria — um sinal claro de que ela nasceu ali e que o carro nao pode existir sem ela pudera sua funçao era gerar downforce suficiente para manter o carro estavel acima dos 320 km/h os dutos de ventilaçao tambem contavam uma historia as entradas laterais em formato naca uma geometria derivada da aviaçao dos anos 1940 conduziam ar diretamente aos intercoolers vitais para o funcionamento do v8 biturbo o recurso reforçava a ligaçao do carro com a tecnologia de competiçao deixando claro que nada ali era ornamentaçao a tampa traseira era um dos elementos mais distintivos do carro feita de plexiglass ocupava uma area extensa e exibia o motor abertamente como nos prototipos de le mans as vinte aberturas e fendas tinham funçao central liberar o calor produzido pelo v8 e pelos turbos evitando sobrecarga termica a transparencia do painel era consequencia direta da necessidade tecnica — nao uma vitrine estetica ainda que tenha se tornado uma a mesma filosofia da funcionalidade se refletia no interior do carro nada ali buscava conforto ou acolhimento o cockpit parecia projetado para lembrar o motorista de que o foco era conduzir nao viajar o peso reduzido levou ao interior mais espartano ja visto em uma ferrari de rua sem carpete com paineis e assoalho em fibra de carbono exposta o espaço interno deixava a mostra a textura crua do material composito sem isolamento acustico cada pedra levantada pelos pneus era audivel dentro da cabine nao havia porta luvas radio ou revestimentos tradicionais as maçanetas internas foram substituidas por um cabo metalico revestido soluçao simples e leve os bancos moldados em fibra de carbono e revestidos com nomex a unica concessao ali era o ar condicionado — uma necessidade em um carro com janelas fixas e sem isolamento termico a ausencia de filtros transformava a conduçao em experiencia fisica intensa o ronco do v8 biturbo ecoava a poucos centimetros da nuca do motorista o assobio dos turbos se misturava ao som metalico do cambio engatando marcha por marcha nada ali mascarava vibraçoes ou ruidos; todos chegavam sem atenuaçao sem direçao assistida a leitura do asfalto era direta cada irregularidade variaçao de traçao ou transferencia de peso aparecia no volante com clareza total a f40 pedia envolvimento permanente sua proposta partia da ideia de que dirigir rapido exige participaçao ativa — nao apoio de sistemas intermediarios a f40 transmitia tudo vibraçao ruido temperatura cheiro o motorista sentia no corpo o funcionamento da mecanica porque nada ali havia sido desenhado para esconder o que acontecia o carro parecia exigir que o condutor estivesse sempre atento sempre em sintonia com o que o conjunto mecanico comunicava a proposta seguia o entendimento de que a velocidade so faz sentido quando o ser humano esta presente no processo nao protegido por camadas eletronicas os onze meses foram cumpridos com trabalho exaustivo na michelotto e o carro ficou pronto no prazo impossivel que lhe havia sido imposto em julho de 1987 ele era apresentado ao mundo lançada em 1987 a f40 entrou em um mundo tomado pela especulaçao financeira acabou se tornando alvo de valorizaçao rapida contrariando o espirito com que havia sido concebida nas principais economias a riqueza circulava de forma acelerada e o carro — inicialmente vendido por 374 milhoes de liras cerca de 250 mil dolares — passou a ser visto como investimento por colecionadores e investidores em busca de valorizaçao rapida a morte de enzo ferrari em 14 de agosto de 1988 intensificou a especulaçao treze meses apos a apresentaçao em maranello a f40 deixou de ser apenas o novo supercarro da marca e passou a ser tratada como o ultimo objeto diretamente ligado ao fundador tornou se imediatamente peça de culto o valor simbolico superou o valor tecnico com a produçao anunciada inicialmente em 400 unidades a demanda explodiu no mercado paralelo carros eram revendidos por valores entre 1 5 e 2 bilhoes de liras em alguns casos atingiam ate quatro vezes o preço de tabela antes mesmo de sair da linha de produçao o carro pensado para ser conduzido com intensidade virou objeto financeiro a consequencia direta foi o confinamento de muitas unidades em coleçoes privadas onde permaneceram sem uso protegidas em ambientes controlados a experiencia de dirigir — que era a razao de existir do carro — ficou em segundo plano para boa parte dos compradores a f40 concebida para revelar cada detalhe do comportamento mecanico passou a ser tratada como ativo especulativo o caso mais comentado envolveu nigel mansell o piloto entao na scuderia ferrari vendeu sua f40 de cortesia por 1 milhao de libras o movimento foi criticado por colecionadores tradicionais que viram ali a confirmaçao de que o carro havia sido transformado em instrumento de lucro a operaçao consolidou a imagem da f40 como objeto de desejo financeiro com pouco espaço para sua natureza dinamica a ferrari tentou reagir primeiro ampliou a produçao para 1 000 unidades depois com a homologaçao para o mercado norte americano levou o total a 1 311 exemplares ate 1992 a intençao era reduzir artificialmente a escassez e desinflar a bolha permitindo que entusiastas reais tivessem acesso ao carro o mercado porem so mudou quando a economia mundial entrou em crise o colapso da bolha japonesa no inicio dos anos 1990 e a crise imobiliaria nos eua fizeram a liquidez evaporar a valorizaçao artificial da f40 desabou e muitos proprietarios foram obrigados a vender seus carros a preços muito inferiores aos que haviam pago esse movimento inesperado serviu como especie de ajuste natural as unidades que estavam paradas em coleçoes passaram a circular novamente muitos carros migraram para maos de proprietarios que queriam de fato conduzir o modelo e nao apenas esperar valorizaçao o carro recuperou sua funçao original com isso a f40 finalmente pode ser compreendida como materazzi e enzo haviam imaginado so quando deixou de ser item financeiro e voltou a estrada e que seus atributos mais importantes se tornaram evidentes a ausencia de abs a resposta dos turbos o comportamento do chassi e a exigencia fisica da direçao eram caracteristicas que revelavam seu carater de instrumento tecnico nao de objeto de coleçao a f40 marcou o fim de um periodo em que supercarros de rua ainda podiam adotar soluçoes radicais e diretas depois dela a industria passou a exigir que o carro mais rapido tambem fosse o mais controlado e seguro nos anos 1990 vieram tambem as exigencias legais de equipamentos de segurança que colocaram airbags e abs em todos os carros a f40 felizmente foi feita antes disso e conseguiu estabelecer um padrao que orientou suas sucessoras a ferrari entrou nos anos 1990 ciente de que seria impossivel repetir algo como a f40 mas tambem sabia que nao poderia deixar para tras o que ela simbolizou ela foi um ponto de inflexao o momento em que a ferrari começou a conciliar o desempenho com as novas tecnologias sem abrir mao do envolvimento da conduçao a f50 lançada em 1995 mostrou o primeiro reflexo desse dilema era um carro de concepçao ambiciosa com motor v12 derivado da formula 1 componente estrutural com monocoque de fibra de carbono buscava pureza tecnica mas ja surgia em um ambiente onde a ferrari precisava oferecer certo equilibrio entre desempenho extremo e controle com teto removivel e suspensao ajustavel era superior em engenharia porem menos visceral a percepçao geral colocava a f50 na sombra do antecessor embora avançada transmitia a impressao de que havia sido moldada dentro de limites mais claros — tanto comerciais quanto praticos a f40 com sua recusa em suavizar comportamento ou filtrar sensaçoes continuava como referencia de franqueza mecanica esse contraste mostrou a ferrari que qualquer sucessora deveria responder aquele parametro emocional criado no fim dos anos 1980 a ferrari enzo lançada em 2002 representou a primeira tentativa de equilibrar a agressividade inspirada na f40 com o mundo dominado pela eletronica incorporava telemetria manettino e controle de traçao vindo da formula 1 era mais rapida e eficiente mas sua aceitaçao dependia de um argumento decisivo a tecnologia a bordo existia para ampliar as capacidades do motorista nao para substituir sua participaçao foi assim que a ferrari comunicou o carro e essa logica tinha raizes diretas no impacto deixado pela f40 a marca entendeu que a eletronica so poderia entrar como ferramenta — nunca como filtro a enzo foi a primeira a expressar isso com clareza o carro era um exercicio de convergencia entre brutalidade mecanica e suporte eletronico com softwares calibrados para trabalhar junto ao piloto nao no lugar dele o principio vinha da experiencia com a f40 que obrigava o condutor a lidar pessoalmente com cada nuance da dinamica a laferrari apresentada em 2013 levou essa filosofia ao estagio mais explicito desde a f40 combinaram um v12 aspirado ao sistema eletrico hy kers derivado da formula 1 o carro alcançava niveis de potencia que sem assistencia eletronica altamente refinada seriam impossiveis de controlar a calibraçao do sistema fazia a eletronica atuar como extensao natural das capacidades humanas sem desconectar o motorista da experiencia fisica a ideia central era simples mas profunda um carro extremo precisa envolver o motorista esse principio se manteve inalterado em maranello depois da f40 nao significava reproduzir a dureza do carro de 1987 e sim garantir que qualquer tecnologia adotada nao colocasse o condutor em segundo plano — algo que foi seguido nao so pela ferrari mas tambem por toda fabricante de esportivos nos ultimos 30 anos assim o verdadeiro legado da f40 repousa nesse equilibrio entre intensidade e clareza nao defendia que carros de alto desempenho fossem desconfortaveis ou perigosos e sim que permanecessem honestos no dialogo com o motorista a ferrari entendeu que nao basta entregar velocidade e preciso permitir que o piloto sinta o processo de alcança la algo que a f40 expressou com rara precisao veja aqui os capitulos anteriores
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