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As cinco Ferrari mais importantes da era Montezemolo

Nesta semana, com a saída de Luca di Montezemolo da Ferrari após 23 anos no comando, relembramos sua importância para a marca de Maranello — ele simplesmente revolucionou o o modo como a marca enxergava a produção de automóveis e até mesmo a competitividade na Fórmula 1. Sendo assim, nada mais natural que o FlatOut selecione alguns dos carros mais importantes que a Ferrari fez enquanto Montezemolo esteve à sua frente.

Cinco deles, na verdade. Carros que tiveram papel importantíssimo na reviravolta da Ferrari, que passou de uma fabricante garagista, que construía carros de forma artesanal por pura paixão ao automobilismo (os lucros financiavam a equipe de corridas) a uma gigante da indústria automotiva que produz apenas sete mil carros por ano, porém carros que estão entre os mais caros, avançados, rápidos e desejados do mundo.

 

Ferrari F1-2000 (2000)

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Como já dissemos, a Ferrari estava em uma situação delicada quando Luca di Montezemolo assumiu a companhia em 1991 — os carros de rua que financiavam a equipe de corridas já não eram modernos e competitivos como antes, e a equipe de corridas passava por uma baixa, havia quase uma década sem conseguir um título no campeonato de pilotos e construtores.

Também já dissemos que Montezemolo foi o articulador das contratações de Ross Brawn, Jean Todt, Rory Byrne e, claro, daquele que se tornaria seu maior campeão e um dos melhores pilotos da história com o macacão vermelho: Michael Schumacher.

Em 1998, o talento de Schumi já estava mais do que provado por seus dois títulos com a Benetton, em 1994 e 1995. Contudo, na Ferrari ele ainda não havia se sagrado vencedor do campeonato de pilotos — e já era seu terceiro ano pilotando pela Scuderia e, apesar de ter conquistado o título de construtores naquele ano, era do título de Mika Häkkinen pela McLaren que todos se lembrariam.

O F1-2000 foi o carro com o qual, em 2000, Michael Schumacher finalmente ergueria o troféu de campeão no fim da última corrida do ano. Ele era uma evolução do carro anterior, a F399 que, por sua vez, era uma evolução do F300. O F300 era o segundo carro desde que a Ferrari passou abandonou o sonoro, porém defasado V12 e adotou um V10 — solução mais leve e eficiente, adotada por também por Mercedes e Renault.

Mesmo com os novos motores, a Ferrari ainda não conseguiu ser vencedora absoluta de uma temporada — os carros eram mais rápidos, mas ainda pecavam em um departamento importante: a dinâmica, inferior à dos McLaren.

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Projetado por Rory Byrne, o F1-2000 veio para corrigir alguns defeitos de seus antecessores. Como eles, era movido por um V10 de três litros, mas este agora tinha um ângulo de 90° entre as bancadas de cilindros — 10° a mais que no ano anterior —, mantendo o mesmo deslocamento (2.996 cm³) e com 15 cv a mais — 805 ante aos 790 do F399. Contudo, o ângulo mais aberto entre as bancadas proporcionava um centro de gravidade mais baixo e, consequentemente, um comportamento dinâmico superior. Além disso, o carro tinha um bico mais baixo, uma nova asa dianteira, também mais baixa, e finalmente tinha aerodinâmica comparável ao MP4/15 de sua rival britânica, que até então era a força dominante da categoria.

O resultado? Dez vitórias, dez pole positions e 170 pontos em uma temporada de 17 corridas. Schumacher conquistou seu tricampeonato, e o ano 2000 marcou o início de uma alçada que duraria cinco anos.

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Mas tudo isso demandou um investimento alto por parte da escuderia — investimento que só foi possível porque a Ferrari passou a produzir carros melhores  que vendiam muito mais. O que nos leva a nosso próximo carro.

 

Ferrari F355 (1994)

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Montezemolo acreditava que a Ferrari “não vendia carros, vendia sonhos” e por isso aquele espírito garagista e romântico, porém nada eficiente nem inovador, deveria desaparecer. Com poucos recursos financeiros e pouco tempo nas mãos, decidiu que lançaria um novo carro partindo do modelo de entrada da marca, a Ferrari 348, que foi vendida entre 1989 e 1995. Apesar de ter passado a maior parte da vida na década de 90, a 348 tinha a cara da década anterior.

A F355, embora mantivesse a silhueta de sua antecessora, tinha detalhes mais modernos que faziam a diferença — como entradas de ar laterais arredondadas e lanternas traseiras circulares — que a afastavam da 348 (que era pesadamente influenciada pela antiquada Testarossa) em termos de estilo.

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Além disso, o motor V8 teve o deslocamento aumentado de 3,4 para 3,5 litros (com diâmetro dos cilindros aumentado de 83mm para 85mm) e adotou cabeçotes de cinco válvulas por cilindro em vez de quatro. Com quarenta válvulas, o motor “respirava” melhor (três das cinco válvulas eram de admissão) — e ganhou bastante potência, com um salto de 300 para 380 cv. Outras modificações incluíam componentes internos mais leves — como bielas de liga de titânio — e taxa de compressão mais alta (de 10,8:1 para 11:1). O sistema de injeção Bosch Motronic e o sistema de lubrificação por cárter seco foram mantidos, enquanto o câmbio manual de cinco marchas deu lugar a duas opções: manual ou manual eletro-hidráulico (o famoso “câmbio de F1”), ambos de seis marchas.

Com 380 cv a 8.250 rpm e 37 mkgf a 6.000 rpm, a F355 chegava aos 100 km/h em 4,6 segundos e tinha velocidade máxima de 295 km/h — o suficiente para que vendesse mais de 11.000 unidades de 1994 a 1999 (ante aos quase 8.900 exemplares da 348, também em um período de seis anos) e tirasse a Ferrari do sufoco.

 

Ferrari 575M Maranello (2002)

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A Ferrari 550 frequentemente é citada como uma das maiores Ferrari de todos os tempos — afinal, ela substituiu um ícone com o peso da Testarossa e o fez com êxito, mesmo sendo radicalmente diferente — para começar, o motor V12 ficava na frente, e não em posição central-traseira. Lançada em 1996, também foi o primeiro grand tourer da Ferrari em 23 anos — o último tinha sido a 365 GTB/4 “Daytona”, descontinuada em 1973.

Contudo, nós decidimos que a sua sucessora, a 575M Maranello, é a que merece figurar nesta lista. A razão é simples — ela é uma 550 Maranello melhorada. Sério: o “M” no nome da 575M significa Modificatta. E as modificações começaram pequenas, do lado de fora, com uma leve atualização feita pelo estúdio Pininfarina, e o interior seguiu a mesma receita. O que mudou de verdade foi a parte que mais importa: a mecânica. E não estamos falando só de motor e câmbio, não: a 575M tinha freios maiores, aerodinâmica retrabalhada, melhor distribuição de peso e suspensão retrabalhada.

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De qualquer forma, o motor agora era maior — o deslocamento do V12 de 65° passou de 5,5 para 5,7 litros, com um acréscimo de potência de 23 cv — de 492 cv para 515 cv a 7.250 rpm, com torque subindo de 57,9 para 59,5 mkgf a 5.250 rpm. A Ferrari também ofereceu, pela primeira vez, seu câmbio “F1” em um modelo V12, em adição à tradicional caixa manual de seis velocidades.

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Câmbio manual com grelha, oh yeah!

O resultado — 0 a 100 km/h em 4,2 segundos, máxima de 325 km/h e elogios rasgados por Chris Harris, que tinha uma 575M até 2011. Ele a vendeu e depois comprou uma 599 — que, por tudo menos coincidência, é a próxima da lista. Na verdade, a 575M foi o carro que pavimentou o caminho para ela.

 

Ferrari 599 GTB Fiorano (2006)

Sim, seu nome completo é este: 599 pelos 5.999 cm³ de deslocamento do motor, GTB para Gran Turismo Berlinetta e Fiorano em homenagem à pista de testes particular da Ferrari. O motor é totalmente novo — em vez do V12 da família Dino da 575M, a 599 tinha o motor desenvolvido para a Enzo — porém com 1 cm³ de deslocamento a mais (o motor da Enzo tinha 5.998 cm³) e 20 cv a menos, que também apareciam 200 rpm mais cedo (7.600 em vez de 7.800) — afinal, a 599 era um GT.

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Como a Enzo foi descontinuada em 2004, a 599, lançada dois anos depois, foi a Ferrari mais potente de seu tempo — e seu motor era um dos poucos no mundo a exceder os 100 cv/l de potência específica sem nenhum tipo de indução forçada. O torque era de 62 mkgf  a 5.600 rpm — e se tornaria um recorde entre os grand tourers do cavalinho rampante. Com estes números, o V12 era capaz de levar a 599 de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos.

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Contudo, a Ferrari 599 mais extrema tinha um sobrenome clássico: GTO. E merecido, pois ela era, em essência, uma 599XX — versão exclusiva de pista, lançada em 2009 — para as ruas. Se o motor da 599XX tinha 730 cv, o da 599 GTO era menos potente, com 670 cv — dez a mais que a Enzo, e o suficiente para ser quase um segundo mais rápida do que ela em Fiorano, virando exatos 1:24,00. A Enzo fez 1:24,90.

 

LaFerrari (2013)

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A Ferrari de rua mais potente da história, a mais rápida em Fiorano, e um dos três hipercarros mais importantes da década, competindo com Porsche 918 e McLaren P1. Seu sistema híbrido é mais roots do que o da concorrência — o motor elétrico não funciona sob demanda, sendo recarregado enquanto não está sendo usado. Na LaFerrari, ele está na ativa o tempo todo e dando conta de elevar a potência de já impressionantes 800 cv (vindos de um V12 naturalmente aspirado de 6,3 litros), a assombrosos 963 cv — tudo isso enquanto as baterias são recarregadas o tempo todo com a energia que, do contrário, seria desperdiçada por vários elementos do carro — freios, ABS, controle de tração e até o diferencial eletrônico.

Revolucionário também é seu sistema de aerodinâmica ativa, que consiste em uma asa controlada automaticamente através de sensores integrados aos controles e parâmetros dinâmicos do carro. Dessa forma, sua posição favorece o máximo aproveitamento do downforce e mantém o coeficiente de arrasto aerodinâmico o menor possível a qualquer velocidade, em qualquer situação.

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Ela também tem peso relativamente baixo (1.345 kg), suspensão com braços sobrepostos do tipo “duplo-A” na dianteira e multibraço na traseira e é capaz de chegar aos 100 km/h em “menos de três segundos”, segundo a Ferrari, com máxima de “mais de 350 km/h” e foi o carro de rua mais rápido na pista de testes da marca, com 1:20,00 cravados com Fernando Alonso ao volante.

Foram feitas só 499 unidades, e todas elas já foram vendidas mesmo com os critérios rigorosos que a Ferrari usou para selecionar os compradores: todos eles precisavam ter comprado pelo menos duas Ferrari novas nos últimos anos, e terem sido donos de pelo menos seis Ferrari nos últimos dez anos.

Se você não for uma destas 499 pessoas, este vídeo é provavelmente o mais perto que você vai chegar de pilotar uma LaFerrari de verdade

A LaFerrari não foi apenas a última grande Ferrari da era Montezemolo — ela também é um dos maiores carros de todos os tempos, em todos os sentidos, e representa o auge de toda a revolução iniciada pelo executivo italiano há 23 anos.