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Clássicos em miniatura: a história das miniaturas Matchbox

Da mesma forma como os carros de verdade eram fabricados de um jeito bem diferente cinco décadas atrás, as miniaturas de brinquedo também mudaram bastante desde então. Bem, ao menos as produzidas em massa, pois sempre há quem prefira fazer as coisas da maneira artesanal — o que, veja só, também vale para os carros de verdade, como a gente já mostrou aqui algumas vezes.

Estamos dizendo isto por causa de dois vídeos com os quais topamos por aí, mostrando o processo de fabricação dos carrinhos Matchbox nos anos 60.

Quer dizer, na verdade, os vídeos vieram diretamente do acervo da British Pathé. Para quem não sabe, a Pathé News era uma produtora de vídeos institucionais e documentários que foi fundada em 1908 pelo francês Charles Pathé. No fim do século 19, ele e seus irmãos foram fundamentais no desenvolvimento e no aperfeiçoamento das primeiras “imagens em movimento”, que era como se chamavam as filmagens na época.

A especialidade da Pathé News, cuja sede ficava em Londres, eram os chamados newsreels, ou “rolos de notícias”. Eram pequenos filmes que podiam ter animações, notícias e reportagens sobre eventos da época, que eram exibidos antes dos filmes no cinema e ficavam armazenados em rolos iguais aos dos filmes — daí seu nome, que significa literalmente “rolo de notícias”.

Os newsreels eram a principal fonte de informação e entretenimento visual no mundo todo até meados da década de 1950, quando a TV surgiu para cumprir este papel. Hoje em dia, são muito valorizados do ponto de vista histórico por, em muitos casos, serem os únicos registros visuais de acontecimentos daquela época. E isto inclui, claro, o universo automotivo. Muitas das filmagens de corridas de antigamente, como os primeiros anos do automobilismo, só existem em newsreelsa gente até já usou alguns aqui no FlatOut.

A Pathé News continuou produzindo documentários e curtas-metragens até 1970, quando a concorrência com a televisão ficou dura demais. Em 2002, com a ajuda financeira das loterias do Reino Unido, todo o arquivo de filmes e fotos foi digitalizado e vem sendo disponibilizado na Internet como British Pathé desde então. Hoje, são mais de 3.500 horas de filmagens distribuídas em mais de 90.000 vídeos, além de cerca de 12 milhões de imagens estáticas.

E é graças a este pessoal que podemos ver, em 2015, como eram feitos os Matchbox na década de 1960. É bacana ver o processo todo, e como ele se assemelhava à linha de produção dos automóveis de verdade. O processo de criação começava na prancheta de desenho, onde os blueprints com todas as linhas e proporções exatas definiam as dimensões e características do carrinho pronto. Os detalhes, mesmo que acabassem difíceis de ver no carrinho pronto, eram levados a sério.

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Os desenhos serviam de referência para um molde de madeira que costumava ser cinco vezes maior do que o produto final, a fim de ajudar a corrigir imperfeições de última hora e permitir que se visualizasse melhor os detalhes. A redução da escala para 1:64 era feita com um pantógrafo para metais.

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Um pantógrafo é um aparelho feito para ampliar ou reduzir desenhos e objetos — em um papel, uma das pontas faz as linhas de referência (que podem ser desenhadas na hora ou contornadas), e o traçado é reproduzido, em menor ou maior escala, pela outra ponta.

Um pantógrafo para metais trabalha de forma parecida: de um lado, o artista (dá para chamá-lo assim, sem dúvida) percorre toda a superfície do molde, e o mesmo é reproduzido em um tarugo de metal, que pode ser alumínio ou estanho. A exatidão na recriação em menor escala é impressionante.

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O processo que se segue, então, é ainda mais parecido com o de um carro de verdade: depois que a carroceria e o chassi saem do molde, eles vão para uma esteira onde é feita a triagem, e os restos de metal são reutilizados para novos moldes e carrinhos. Então, em uma linha de montagem, as carrocerias são unidas aos chassis e vão para a pintura. É como uma fábrica de carros para gnomos ou algo assim.

Historicamente, os carrinhos da Matchbox são os mais populares do mundo, ao lado das miniaturas da Hot Wheels — e, na verdade, eles vieram primeiro, em 1953. É uma história bem interessante: naquele ano, uma fabricante de brinquedos chamada Lesney Products lançou uma miniatura da carruagem de coroação da Rainha Elizabeth II, que aconteceu em 1952. A miniatura, que tinha cerca de 40 cm de comprimento, vendeu muito bem, mas uma versão menor fez ainda mais sucesso.

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Este foi o primeiro passo para a criação dos Matchbox. No entanto, o conceito só veio quando um dos clientes da Lesney, chamado Jack Odell, encomendou uma miniatura bem pequena para sua filha Ann, que estudava em uma escola que só permitia que fossem levados brinquedos que coubessem em uma caixa de fósforo. O brinquedo, um pequeno rolo compressor, fez muito sucesso entre os amiguinhos da garota. Uma coisa levou a outra e, no fim de 1953, a Lesney já havia patenteado o nome Matchbox (“caixa de fósforos” em inglês), que batizou sua nova linha de miniaturas em escala 1:75.

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Os Matchbox demoraram um pouco para ficarem populares, visto que os vendedores de brinquedos preferiam lucrar mais com brinquedos maiores e mais caros. No entanto, os Matchbox eram tão baratos que as crianças conseguiam comprá-los com apenas alguns trocados que juntavam por alguns dias — e foram elas que, com sua sede por colecionar cada vez mais Matchboxes, transformaram os carrinhos em um sucesso: em 1960, as fábricas da Lesney já produziam cerca de quatro milhões de carrinhos por mês, o que dava quase 50 milhões por ano.

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Ver os carrinhos sendo fabricados como se fossem automóveis de verdade também ajuda a ilustrar um ponto interessante: hoje, os Matchbox são vistos como uma alternativa mais madura aos Hot Wheels, sendo que ambas as marcas pertencem à gigante Mattel. Seus carros são mais fiéis aos de verdade e até a identidade da marca é algo mais sofisticada. No entanto, a Matchbox só foi comprada pela Mattel em 1997 — até então, a Hot Wheels era nada menos que sua maior rival, surgida em 1968.