Em harmonia com o atual momento da indústria automobilística no mundo – que, aparentemente, está aos poucos colocando os carros em segundo plano e concentrando-se cada vez mais nos utilitários – um dos lançamentos mais aguardados nos últimos tempos é a picape do Jeep Wrangler. Prevista para chegar no ano que vem, já como modelo 2020, a nova caminhonete deverá se chamar Jeep Gladiator.
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Como já dissemos por aqui, dada a eletrificação, hibridização e automação dos carros, não vamos estranhar se, nos próximos anos, os utilitários old school como o genial Suzuki Jimny e o próprio Wrangler se tornem o último reduto daqueles que curtem os veículos como eles (ainda) são hoje em dia – movidos a combustão interna e ligação passional com os clássicos de 30, 40 ou 50 anos atrás. Por isto, é fácil entender o apelo que uma picape feita com base no Wrangler, utilizando o mesmo chassi, o mesmo powertrain atualizado da nova geração, e com a mesma identidade visual clássica.
Acontece que, como você talvez já saiba, o futuro Gladiator não será a primeira picape feita pela Jeep. E este é o momento perfeito para recapitularmos quais foram as outras, você não acha?
Jeep Truck
O Jeep 4×4 Truck foi lançado em 1947, dois anos depois do Jeep civil original – o CJ-2A, também conhecido como Jeep Universal. Com uma arquitetura bastante semelhante à do Jeep Station Wagon (nossa Rural), O Jeep Truck tinha entre-eixos mais longo que o jipe – 2.997 mm contra 2.032 mm – e utilizava o mesmo conjunto mecânico, ou seja, era movido pelo quatro-cilindros Go Devil de 2,2 litros e 63 cv. Em 1954 este motor foi substituído pelo Hurricane, que tinha os mesmos 2,2 litros porém utilizava um novo cabeçote, e entregava 72 cv. Em 1954 foi introduzida a opção pelo motor Super Hurricane, seis-cilindros de 3,7 litros e 105 cv – que em 1962 foi substituído pelo motor Tornado, que também tinha seis cilindros, porém deslocava oito litros e, com comando de válvulas no cabeçote, chegava aos 140 cv.
O Jeep Truck sequer tinha um nome, mas isto estava longe de atrapalhar suas vendas: entre 1947 e 1965 foram fabricados 200.000 exemplares – sem contar os que foram montados e vendidos no Brasil. A picape era conhecida como “Bicudinha” por aqui graças ao ângulo da grade dianteira nos exemplares produzidos até 1960. A partir daquele ano, a picape estreou visual abrasileirado, com a dianteira mais larga e marcante.
Jeep FC (Forward Control)
Forward control, em inglês, quer dizer “controles à frente” em uma tradução livre. Na prática, significa que o Jeep Forward Control tinha a cabine deslocada para a frente, com o motorista sentado sobre o eixo dianteiro – configuração popularizada em 1950 pela VW Kombi e adotada pela Jeep como forma aproveitar melhor o espaço entre os eixos, aumentando a capacidade de carga.
O Jeep Forward Control foi lançado em 1956 e era baseado no CJ-5, utilizando inicialmente o mesmo motor Hurricane de 2,2 litros. Havia duas versões: FC-150, com entre-eixos de apenas 2.100 mm – porém, graças ao layout da cabine, uma caçamba de dois metros de comprimento; e FC-170, apresentado em 1957, com entre-eixos de 1.030 mm e uma caçamba de 2,7 metros de comprimento. O motor, nesse caso, era o Super Hurricane, de seis cilindros e 3,7 litros.
Embora a Willys tenha apostado alto na produção do Forward Control, e sua recepção pelo público tenha sido boa no primeiro ano, foi questão de tempo até que o desenho do Jeep FC se mostrasse experimental demais. Com isto, em nove anos de produção foram vendidos apenas 30.000 exemplares, a maioria deles a frotistas.
Dito isto, com o passar das décadas foi se formando um culto em torno do Jeep FC – geralmente é o que acontece com um carro inovador, porém fracassado em seu próprio tempo. Tanto que, em 2012, a Jeep apresentou uma versão renovada do conceito, chamada Mighty FC, durante o Jeep Easter Safari. E foi um sucesso – ainda que não existissem planos para torná-lo realidade.
Jeep Gladiator – a original
Em 1962 a Jeep apresentou aquele que pode ser considerado o sucessor da Rural – e o precursor de todos os Jeep modernos: o Wagoneer, que utilizava uma evolução da plataforma original, porém adotava uma carroceria mais parecida com a de qualquer outra perua de passeio. Aliás, o termo sport utility vehicle, que deu origem à sigla SUV, foi utilizado primeiro pela Jeep para referir-se ao Wagoneer do ano-modelo de 1974.
Para o ano-modelo seguinte foi introduzida uma picape feita com base no Wagoneer, com entre-eixos curto (3.048 mm) ou longo (3.353 mm). Havia versões com tração traseira ou integral. Naquela época os Jeep eram fabricados pela American Motors Corporation (AMC), que também fornecia um motor V8 opcional de 5,4 litros e 250 cv a partir de 1965. De série, o Gladiator utilizava um seis-em-linha de 3,8 litros com comando no cabeçote e 140 cv.
O Jeep Gladiator foi uma das primeiras picapes norte-americanas a oferecer itens como freios assistidos, direção hidráulica e câmbio automático. A partir de 1971, o nome Gladiator foi eliminado e a picape passou a se chamar simplesmente Jeep Truck, novamente. Ela foi fabricada até 1988.
Jeepster Commando
Por alguma razão, em 1948 a Jeep achou que era uma boa ideia colocar no mercado um carro com o mesmo visual do Jeep, porém com carroceria mais baixa, rodagem mais macia e interior mais refinado e confortável que no Jeep CJ. Na época, a fabricante chegou a afirmar que o chamado Jeepster seria “o carro esportivo ideal para um veterano da Segunda Guerra” – como se tudo o que um homem que lutou na guerra quisesse na vida fosse comprar um carro que o lembrasse do campo de batalha. Sem surpresa, o Jeepster foi um fracasso – mesmo oferecendo de série itens que, em outros carros, eram opcionais, como acabamentos cromados, para-sol, pneus faixa-branca e estepe na traseira. Mas ele custava o mesmo que um Ford V8 Super DeLuxe, que era mais potente e realmente confortável e, por isso, foi um fracasso.
Ainda assim, em 1966 a Jeep decidiu reviver o nome Jeepster, desta vez com tração nas quatro rodas (em 1948 a tração era apenas traseira) e o motor Hurricane de 75 cv. Custando menos e oferecendo diferentes opções de carroceria, incluindo conversível e station wagon. O que importa para nós, contudo, é que primeira vez, era vendido como picape, com teto de metal e a mesma dianteira do Jeep CJ. O Jeepster Commando teve mais de 57.000 exemplares vendidos entre 1966 e 1971.
Começando em 1971, o veículo passou por uma reestilização na dianteira, que ficou mais larga e convencional. Agora batizado apenas Jeep Commando, o utilitário vendeu mais 20.000 unidades até 1973, quando saiu de linha.
Jeep CJ-8 Scrambler
O Jeep CJ-7, fabricado entre 1976 e 1986, ganhou uma versão picape chamada CJ-8 Scrambler em 1981. Diferentemente dos outros nomes desta lista, porém, o Scrambler tinha a caçamba integrada ao restante da carroceria – era uma adaptação mais crua, mas o entre-eixos 30 cm mais longo do que no Jeep comum era suficiente para garantir a usabilidade.
O Scrambler era movido de série por um quatro-cilindros General Motors de 2,5 litros e 82 cv – que não era muito diferente do motor utilizado pelo Chevrolet Opala, no Brasil. Havia também a opção por um seis-em-linha AMC de 4,2 litros e 110 cv. Ambos os motores tinham carburadores de corpo duplo e ignição eletrônica. O câmbio standard era manual de quatro marchas e havia dois opcionais: um manual de cinco marchas ou um automático de três marchas como opcional. A tração 4×4 tinha um seletor manual.
O Jeep CJ-8 Scrambler foi anunciado pela fabricante como “a primeira picape compacta verdadeiramente norte-americana” mas, como produto de nicho, teve vida curta: foi vendido por apenas seis anos, entre 1981 e 1986, mas a quantidade de exemplares fabricados até foi generosa: mais de 27.000. Com isto, o Scrambler foi relativamente bem sucedido, e seu nome foi cotado para batizar a nova picape da Jeep – faz poucos dias que vazou a informação de que ela se chamara, muito provavelmente, Jeep Gladiator.
Jeep Comanche
Como contamos neste post, o Jeep Comanche não era baseado no CJ ou no Wrangler, mas sim no Jeep Cherokee. Lançado em 1985, ele trazia o melhor de dois mundos: o visual e o conforto da estrutura monobloco do Cherokee na dianteira, com a robustez de um chassi do tipo escada e do eixo rígido na parte posterior, onde ficava a caçamba.
Picape off-road legítima, o Jeep Comanche tinha suspensão dianteira Quadralink, que consistia em um eixo-rígido com barra Panhard, molas helicoidais e braços de controle superiores e inferiores; e na traseira aplicava feixes de molas semi-elípticas mais longas que as usadas no SUV, resultando em maior curso de suspensão e boa capacidade de carga sem prejuízo ao conforto. Além disso, havia dois tamanhos de caçamba intercambiáveis: uma de 2,1 metros, disponível desde o lançamento, e uma de 1,8 metro, introduzida em 1987. Com a caçamba maior e o pacote Metric Ton, que incluía molas mais firmes e diferencial traseiro reforçado, a capacidade de carga da Comanche podia chegar a 1.000 kg (daí o nome “tonelada métrica”).
Os motores eram um quatro-cilindros turbodiesel de origem Renault, com deslocamento de 2,1 litros e 88 cv; um quatro-cilindros AMC a gasolina de 2,5 litros e 117 cv; e um V6 de 2,8 litros General Motors – o mesmo usado pela Chevrolet S10 –com 110 cv.
Embora tenha feito sucesso nos primeiros anos, o Jeep Comanche teve vida curta: apenas sete anos, saindo de linha em 1992. Ele foi a última picape produzida pela Jeep, pois a partir de 1993 a Chrysler decidiu que a única marca do grupo a vender picapes seria a Dodge. O Comanche foi sucedido pela Dodge Dakota no posto de picape média da Chrysler.