Como assim? Esse Project não tinha terminado? Ou melhor, não eram dois Projects separados? Não, definitivamente não! Quem tem o carro para a vida toda, sabe que é um projeto que nunca está concluído. Depois dos quatro posts realizados no Mk5, encerrei a história no meio do ano passado contando sobre a chegada do meu filho e que os upgrades nos Escorts iriam dar uma diminuída, e foi o que realmente aconteceu, porém algumas oportunidades apareceram e isso tinha que ser partilhado.
Diante da diminuição dos posts tão legais aqui do Projects, entrei em contato com o pessoal do FlatOut e ofereci um pouquinho mais de conteúdo. Agradeço muito a oportunidade que me foi dada para seguir adiante com o projeto aqui para vocês.
Vamos relembrar um pouco: Eu sou Régis, de Porto Alegre, Engenheiro e Arquiteto, fanático por Escort e carros legais da década de 80 e 90. Sou dono do Project #177, o Escort XR3 Mk4 Conversível 1990 e do Project #321, o Escort XR3 Mk5 Conversível 1995. Chega uma hora que os dois projetos, fotos, vivências e experiências se misturam, e vocês verão aqui as histórias se cruzando.
Antes de mais nada, estou ¨trabalhando intensamente¨ pra que meu guri. No meio dos brinquedos dele, rola um album com as fotos dos Escorts. Volta e meia o Mickey é deixado de lado e a gasolina começa a correr nas pequenas veias desse futuro Gearhead, orgulho do Papai. Volta e meia fica apontando para o volante e sinaliza que quer ¨dirigir¨. Aí ele vai correndo e tenta abrir a porta do motorista, eu coloco ele sentado no volante e ele fica lá curtindo o momento enquanto eu curto a cena, viajando nos pensamentos de quanto ainda iremos aprontar juntos com as carangas!
Começando pelo Mk5 Azul Europa 1995…
Capota
Em um dos primeiros posts do Mk5, falei que havia mandado trocar a capota ainda em São Caetano do Sul, antes de despachar o carro na transportadora. Me rasguei de elogios ao capoteiro mas hoje me arrependo bastante disso. Apesar do capoteiro usar equipamentos originais adquiridos da Karmann-Ghia e realmente a capota ter uma construção muito próxima da original, infelizmente ela não durou nem perto do que deveria durar.
Em ambos os lados ela deu uma encolhida e, do lado direito, a costura eletrônica se soltou por completo, trazendo parte de uma aba pra fora, expondo o cabo e deixando a capota horrorosa.
Mil e duzentos quilômetros separavam qualquer possibilidade de pedido de garantia ou conserto, ou seja, retiro quase todos os elogios feitos. Havia rumores de que a capotaria estava para fechar e há alguns dias, recebemos a notícia do falecimento do profissional. Com isso, encerra-se uma fonte de muita história e experiência em capotas.
Como sou dono de Escort e não desisto nunca, decidi fazer uma pequena loucura, usando uma logística furiosa e contando com a parceria de amigos. Namorei algumas capotas feitas na Europa, com material de extrema qualidade, corte incrível e acabamento primoroso, bem diferente das capotas feitas aqui no Brasil.
Depois de muito pesquisar, cheguei na Cabrio Web Shop, também conhecida como Hamé Cabrio. É uma pequena fábrica e representante de capotas situada em Rotterdam na Holanda. Após breve contato com o Harold, chutei mais um pouco do purismo pra longe e acabei adquirindo uma capota de vinil levemente azulada. O grande detalhe é que esta capota é Ford OEM. Achei um charme a cor e acreditei que ia cair muito bem no meu carro Azul Europa. Aqui vocês podem ver essa capota instalada em um Mk7.
Mandei a capota para um primeiro amigo em Londres. Outro amigo em comum foi de férias pra terra da rainha e trouxe a capota de 3,5kg na mala. Bingo! Cá estou eu com uma capota simplesmente incrível e isto me custou apenas 800 reais. O acabamento é primoroso, o material sensacional e são especialmente incríveis os detalhes como as borrachas em ambas as pontas, as cintas para fixar na estrutura de aço e ela subir e descer mantendo seu alinhamento correto. Entretanto, o problema é achar alguém com competência para colocá-la.
Faço parte do Escort Clube, um grande reduto de gente maluca por Escort assim como eu. Não é apenas um grupo de facebook ou de Whatsapp. É um trabalho incrível realizado há mais de 10 anos na internet baseado na plataforma de um fórum e, atualmente, com alguns braços no Facebook como página e grupos paralelos. Em 2010, nos unimos aqui em Porto Alegre e trouxemos um colocador de São Paulo. Ele veio em fez a capota do meu vermelho e mais nove capotas na região. De lá pra cá, minha capota segue perfeita na parte da lona, e volta e meia ele vem para a região fazer mais algumas trocas. Há dois meses nos unimos em um grupo de interessados e, depois de algumas batalhas, conseguimos trazer o cidadão para fazer o serviço. Estou escrevendo este post no dia 15/12 e ontem ele trocou a capota do azul, ou seja, notícia quentinha saindo do forno. Aproveitando, ele também trocou os cabos de aço da lateral do Mk4 onde um deles havia se rompido após quase 8 anos.
O mais engraçado é que após quase esses 8 anos, a capota de lona segue perfeita e quem ¨deu os doce¨ foi o cabo de aço do lado esquerdo que se rompeu bem no meio, deixando ela frouxa. Sugeri que tirássemos os cabos que estavam no Mk5 e colocássemos no Mk4, pois eram de muito boa qualidade. Para o Mk5, vieram cabos novinhos da Holanda.
E assim foi feito. Em pouco mais de uma hora, parte da capota do mk4 foi desmontada, retirou-se os cabos do azul e instalou-se no vermelho, realinhando novamente a capota. Que dure mais uns dez anos de felicidade.
O coração do conversível é, sem dúvidas, a capota. A gente vê aí na rua diversos carros bonitos mas quando se repara na capota, se vê a utilização de materiais inadequados, costuras realizadas de maneira errada, recortes tortos, capotas frouxas ou mesmo completamente diferentes do perfil original. Estou muito encantado com o resultado dessa capota da Holanda e partilho estas fotos tiradas hoje de manhã com o celular mesmo:
Rodas e Pneus
Todos sabemos que a crise enfrentada em nosso país também tem reflexo nas finanças das prefeituras. Aqui em Porto Alegre a coisa não é diferente e nossas ruas estão abandonadas. É buraco por todo lado, alguns com dimensões de piscina olímpica. Eu sou um cara que gosto de usar meus carros, as vezes vou trabalhar com eles, ando fim de semana e tenho sofrido além da conta por causa das rodas aro 16 do Mk5.
Não vou dizer que não sofro no mk4 também com as 14, mas o aro maior é muito mais delicado. Esses dias não tive como evitar e um dos pneus criou uma bolha. Além disso, estava tendo problemas por vazamento de pressão de ar pelo talão do pneu. Percorri por algumas lojas e o diagnóstico sempre muito parecido, só que usando outras palavras. Em resumo, pessoal diz que esses pneus de segunda linha são de baixa qualidade e se tem dificuldade de aderência à roda. Além disso, o ar que colocamos nas rodas é úmido e isso tem causado zinabre pelo lado de dentro da roda, o que diminui o contato da roda com o pneu. Parece conversa de louco mas é bem isso que tem acontecido.
Também pude notar que os pneus Achilles estão ressecados e já possuem 7 anos. O roda do estepe não pega pressão nem por decreto, tanto que arranjei um pneu 14 e peguei uma das rodas originais 14 do jogo guardado e coloquei como sobressalente.
Aí eu deixo um questionamento pra vocês: Estou naquela dúvida se troco pois tenho o pensamento que pneus tem validade de 5 anos mas o bolso chora ao pensar em trocar 5 pneus aro 16 na medida 205/45 R16. E aí, pessoal? Qual a experiência de vocês com durabilidade de pneu por tempo de vida? Está bem difícil de achar pneu de marca boa e um desenho legal, por preços honestos.
… e agora o Mk4 Vermelho Radiante 1990
Pequenos incômodos
O Mk4 é um carro quase pronto, afinal um carro desses jamais chega ao status de efetivamente pronto. Existem algumas coisas que precisam ser melhoradas nele como o sistema de alimentação. A retirada do Carburador resultou na instalação de uma Fueltech FT250 e uma bomba de combustível externa Bosch posicionada entre o eixo traseiro e o tanque. No uso, o que temos é um negócio barulhento, que mescla um barulho de apertar de uma bisnaga e um peido molhado. Sim, este mesmo. Barulho chato e que incomoda.
Também acarreta em alguns cuidados no uso como evitar andar com menos de meio tanque para não dar falta de combustível, já que não tem ¨catch tank¨ e o pescador puxa gasolina prioritariamente de uma parte do tanque. Em movimento, ou em subida, as vezes ele pode não acabar puxando gasolina do local certo e apresentar falta, o que é temeroso para o motor. O ideal é realizar a adaptação de uma bomba interna ou fazer um catch tank. Adaptar uma bomba interna não é fácil pois teríamos que abrir um buraco no assoalho, abaixo do banco traseiro para se ter acesso direto ao topo do tanque de combustível.
A grande prova de resistência!
Nos meus dois Projects aqui no FlatOut, eu sempre defendi o uso dos carros. Carro antigo não é pra ficar parado, ainda mais esses da década de 80 e 90 que são tão deliciosos de dirigir. Eu sempre busco andar com eles no mínimo uma vez a cada 15 dias, ou seja, alternando o vermelho e o azul por semana. As vezes rodo no fim de semana, as vezes vou trabalhar. Não minto que eu uso mais o Mk5 Azul do que Mk4 Vermelho pois eu trato o 90 com mais cuidado, já que ele é um carro com alguma preparação, um pouco arisco e, com esse trânsito cheio de doentes barbeiros aqui de Porto Alegre, tem horas que é um risco sair com os ¨antiguinhos¨ e esbarrar com um desses malucos na hora do rush.
Bom, mas aí chegou o grande desafio! O Encontro de 10 anos do Escort Clube em Timbó, ao lado de Blumenau. Meus carros rodam e são feitos para serem confiáveis porém será que encaram quase 1600km de viagem em um feriado prolongado?
Abrindo parênteses, no último feriado do Dia do Trabalho em 2017, nosso clube completou 10 anos e claro que devíamos comemorar! Como comemorar o aniversário de um clube automotivo? Colocando os carros na estrada para encontrar amigos de diversas regiões! Tenho muito orgulho de participar desse clube e, por alguns anos, ter sido administrador dele. Como falei, não é um grupo de Facebook perdido numa timeline, é uma reunião de amigos e apreciadores da marca, que tem objetivos claros, sempre com muita seriedade no que se faz.
Só que eu sou um, apenas um motorista, com dois Escorts na garagem. Qual levar no encontro? E agora? Quem poderá me ajudar? Eis que tenho um grande amigo chamado Fernando Sperotto, parceria pra todas as horas, que estava a fim de ir na viagem e seu Escort Mk5 estava na reforma. Não pensei duas vezes e fiz a seguinte proposta: Eu vou com meu Mk5 na ida e ele leva o Mk4. Na volta, invertemos e eu trago o Mk4. Vocês acham que ele topou a empreitada?
Foram 1.350km de pura diversão! Os carros rodaram lisos, sem qualquer problema. Foram e voltaram sem qualquer ocorrência. Ainda deu para brincar um pouco tirando essa irônica foto inspirada no pessoal de um grupo de Opala que cerca um GTi. Um dos nossos amigos estava com o Escort na oficina e acabou indo ao evento com seu GTi 2.0 16v bolinha, um carro que também admiramos pra caramba. Claro que a zueira não podia faltar. Na pista os Escorts tomariam um laço violento do 2.0 16v mas que a foto da encarada ficou legal, ah isso ficou!
Falando um pouquinho sobre o desempenho de cada um, vale frisar que o Mk4 tem um motor 2.0 gasolina levemente preparado com coletor de gti, corpo de borboleta duplo, bicos de astra flex, coletor 4×1, FT 250 e 156cv no dinamômetro, além do câmbio original do XR3 (curto) com a engrenagem da 5a. Longa do Verona, o que resulta em 3000 giros e 120km/h. Tem outras coisinhas mas isso é segredo da receita do Mecânico e eu não tenho ¨autorização¨ para falar (risos)… O carro é simplesmente uma delícia de dirigir pois tu despeja potência na 2a., 3a. e 4a. marcha. Quando joga a quinta, fica aquele rodar silencioso e confortável.
Já o Mk5 está com a mecânica original 2.0 gasolina e seus nominais 120cv. O câmbio original tem a 5a. curta e realmente isso resulta em uma viagem mais cansativa já que 100km/h estão com 3150 giros, pelo que estou lembrado. Entretanto, o carro é muito confortável, estável, ótima posição de dirigir. Foi uma delícia andar com ele na ida e também um incentivo para economizar uma grana, revisar a caixa longa CAL e montar de uma vez por todas no carro. 2018 vai!
Em relação ao consumo, eles se equivalem pois o Mk4 mexido tem câmbio longo e o Mk5 original tem câmbio curto, o que resulta em aproximadamente 12 a 12,5km/l com gasolina aditivada na estrada.
Próximos Passos
Bom, novamente tenho que agradecer ao FlatOut pelo espaço cedido para que eu possa promover essa interação com vocês, trocar ideias e partilharmos experiências.
Espero que eu brevemente consiga realizar novos posts pois os planos para 2018 são intensos:
— Restauração do Mk5 – Lataria e Pintura
— Troca da caixa de câmbio do Mk5
— Ajustes finos no Mk4
— Instalação do som de época no Mk4 (Pioneer Deh-P823 e Equalizador Deq-9200).
Muita gente me procurou pedindo dicas sobre Escort, capotas, compra, venda etc. Coloco-me novamente à disposição para auxiliar no que precisar, sem compromisso algum, pelas redes sociais ou pelo email [email protected]. Qualquer ajuda que precisem, informações e dicas de como fugir da ¨picaretagem gourmet¨ que assola o mercado por aí, só entrar em contato. O objetivo é preservar as carangas, fazer amizades e sempre ter boas histórias para contar. Um feliz Natal a todos amigos e um maravilhoso 2018, com grandes realizações e muito suco de dinossauro para queimar nas ruas por aí!
Por Régis Vasconcellos, Project Cars #177 e #321