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Car Culture

Como eu lido com os caminhões nas estradas

Quantas variáveis influenciam o trânsito e o ambiente viário urbano e interurbano? Na formação de condutores se fala em pessoas, vias e veículos como elementos fundamentais do trânsito, então pense em tudo o que pode influenciar estes três elementos. Depois, pense que existe a relação entre as influências de cada elemento e que elas formam novas variáveis. É um sistema complexo, com elementos que pretendem ser objetivos, porém dependentes de fatores subjetivos e, por isso, difícil de se gerenciar.

Direção defensiva, por exemplo, é um conceito objetivo: uma forma de condução que visa prevenir acidentes e situações de risco. Há elementos claros e bem-definidos que orientam esse conceito, como, por exemplo, “manter distância segura do carro à frente”. O que é uma distância segura? É uma distância que te permite perceber o risco e reagir de forma que o acidente não aconteça. Isso é objetivo. Mas… quanto é uma distância segura?

Aí o negócio fica subjetivo, porque ela varia, em primeiro lugar, de acordo com a percepção do motorista — seja a percepção sobre o ambiente viário, seja sobre a percepção de sua própria habilidade ou das capacidades do seu veículo. Depois, há a realidade sobre o ambiente viário, a habilidade do motorista e a capacidade do veículo.

Manter distância segura, no fim das contas, é ficar longe — um negócio subjetivo. Na dúvida, é melhor pecar pelo excesso do que morrer pela falta, não é mesmo? Só que o excesso também pode ser um problema, especialmente na faixa esquerda das rodovias duplicadas. Primeiro, porque o motorista que precisa de maior distância segura, nem sempre a encontrará na faixa da direita, onde normalmente se anda em comboio. Depois, porque a distância excessiva que ele mantém, pode criar uma situação de risco em ultrapassagens, especialmente se o veículo a ser ultrapassado for um caminhão.

Caminhões são perigosos. São pesados, potentes, altos e cheios de pontos cegos. Por isso, quando você precisa ultrapassar um caminhão, mesmo em pista dupla, a ultrapassagem deve ser realizada no menor tempo e espaço possível — ou seja: da forma mais rápida que você conseguir. A tal da distância segura excessiva atrapalha quando há uma fileira de carros para ultrapassar o caminhão e um dos motoristas da fila tenta manter aquela distância excessiva do carro à frente.

Nessa situação, não só ele pode ficar emparelhado ao caminhão por muito tempo, como ele também pode acabar mantendo emparelhado ao caminhão o motorista que o segue, mesmo após terminar a ultrapassagem.

O risco, caso não tenha percebido, é se manter em um dos possíveis pontos-cegos do caminhão. Em caso de emergência, o caminhão desvia mais rapidamente do que freia. E o único espaço que ele tem para desviar é exatamente o lugar onde o carro está durante a ultrapassagem demorada.

Aquelas variáveis todas do trânsito que mencionei mais acima é onde estão os riscos de acidentes. Essa distância segura também se aplica aos caminhões. Eles precisam de mais espaço para qualquer manobra, então eles naturalmente se mantêm mais distante dos veículos à frente.

E aqui entra outra sutileza da subjetividade: nem sempre o espaço à frente de um caminhão é uma brecha para enfiar o carro em uma ultrapassagem. Dependendo da situação, aquele é o espaço de frenagem do caminhão, que passou a ser ocupado por um carro. Por isso, é recomendado que se entre à frente de um caminhão somente em situações de velocidade contínua, sem acelerações ou frenagens.

Infelizmente não é parte da direção defensiva formal, aquela que é ensinada durante a formação dos condutores, mas muito da segurança do trânsito está na compreensão da dinâmica dos outros veículos. Sabe aqueles vídeos em que carros são arrastados por caminhões? Quase sempre o motorista do carro, desconhecendo a dinâmica do caminhão, se meteu em um ponto cego. Esta situação, aliás, me lembra outra situação sobre a lida com os caminhões nas rodovias.

Se você estiver dirigindo na faixa da esquerda e estiver seguido por um caminhão muito próximo da traseira do seu carro, considere a possibilidade de estar lento demais para a faixa da esquerda. Não estou dizendo que motoristas de caminhão não cometem excessos de velocidade, mas como o consumo de combustível é fator determinante no lucro do motorista, é mais provável que ele esteja tentando conservar a velocidade para não precisar retomar de 50 a 100 km/h uma carreta de 50 toneladas do que simplesmente aterrorizando motoristas de fim-de-semana.

Por falar nisso, uma última dica para lidar com os caminhões nas rodovias: eu sei que, no trânsito, “o maior cuida do menor”. Mas considere também que um caminhão tem reações lentas, tanto em desvios, quanto frenagens e retomadas/aceleração. Um caminhão que perde o embalo, será um caminhão que puxa fila até retomar a velocidade. Um caminhão que precisa desviar de um carro lento demais, é um caminhão que fará uma ultrapassagem lenta e demorada.

Se você vem pela esquerda e avista um caminhão muito próximo de um outro veículo na faixa da direita, tenha em mente que há uma grande chance de ele fazer uma daquelas “saídas surpresa” para a sua faixa, “cortando” a sua frente. Não é por maldade, mas para não perder velocidade. Se você pretende ultrapassar um caminhão nesta situação, ligue a seta para a esquerda e dê um lampejo longo da luz alta. O motorista irá entender que você pretende ultrapassá-lo.

Se pretende ceder a passagem, mantenha a seta desligada, dê dois lampejos breves da luz alta (o clássico sinal de ceder a vez) e aguarde ele fazer a manobra — o que é mais recomendável do que correr o risco de se ver ao lado de um caminhão que desviou subitamente. Seu carro, no fim das contas, é mais leve e mais ágil, e já estará na mesma velocidade de antes em menos de 20 segundos.

Para encerrar: é claro que os motoristas de caminhão têm suas responsabilidades e precisam “cuidar do menor”, como prevê o código de trânsito. A realidade, contudo, não é exata como parece e o trânsito em si não pode ser levado tão à risca como foi escrito no papel dentro de uma sala, longe da estrada. O que importa, no fim das contas, não é estar 100% certo, mas fazer uma viagem mais tranquila e segura.