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Car Culture

Como foi assistir o Idlers Games em Tsukuba e pegar uma carona com Akira Nakai da RWB

Tudo certo, Flatouters? Venho mais uma vez compartilhar com vocês uma experiência nas pistas (como espectador) japonesas. Se você leu o post anterior sobre a RWB e o endurance de 12 horas em Motegi, já sabe que Akira Nakai havia me falado que essa etapa de Tsukuba aconteceria no final de setembro (se ainda não leu, veja neste link). Então semana passada fui até a RWB para saber se ele iria mesmo a Tsukuba e também ver se tinha alguma novidade entre seus Porsches cadeirudos por lá. Nakai confirmou a ida e perguntou se eu iria com eles. Preciso mesmo dizer a resposta?

Combinei com Nakai que chegaria no sábado à noite na RWB e por volta das 5:00 de domingo sairíamos rumo a Tsukuba. Cheguei lá quase meia-noite, e dessa vez tinha pouca gente. Nakai estava terminando alguns detalhes no “Rotana” e havia mais três pessoas que iriam junto além de mim. Ficamos ali conversando um pouco — sobre carros, para variar —, e por volta das 2:30 cada um procurou um canto pra tirar um cochilo. Às 4:30 acordamos para começar a viagem.

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Saímos pontualmente às 5:00, já com o dia clareando, e fizemos uma parada rápida no começo da estrada para encontrar mais alguns amigos de Nakai e outros Porsche, e também comprar algo pra comer. Tsukuba é perto de Chiba, cidade onde fica a RWB, em apenas uma hora chegamos no circuito já com sol forte e sem previsão de chuva.

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Dessa vez a RWB levou só três carros mas apenas dois correram, um com Nakai e outro com o gerente da RWB, que também pilota. Assim que entramos na parte de trás dos boxes já havia muitos carros por lá, e muitos outros ainda chegaram mais tarde. Essa etapa foi bem diferente de Motegi, onde todos correram as 12 horas juntos independente da categoria. Desta vez a parte da manhã teria apenas treinos, e a tarde reservada para as corridas. Os carros foram separados por categorias tanto nos treinos quanto nas corridas.

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Teve uma categoria só para carros mais antigos, uma só de importados, fórmula e alguns Caterham, Nissan 350 e 370Z, drift e a maioria de Porsche, que estava subdividida assim: 930Cup, RS Cup, 9 Cup e Super Cup (tirei essa informação do site da Idlers). Nessa de carros antigos havia vários Mini, kei cars e clássicos como o Fairlady 240Z, Honda S800 e Skyline “hakosuka”.

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Como em Motegi, quase nada precisou ser feito nos carros da RWB antes de correr. Ele foram rodando até Tsukuba e ao chegar só foi preciso conferir a calibragem dos pneus e aperto dos parafusos de roda no torquímetro. No “Rotana” foi tirado o para-choque traseiro pois, segundo Nakai, o turbo esquenta bastante e sem o para-choque o resfriamento é melhor. Além disso aquela turbina gigante com o abafador cromado dava um visual bem interessante e um contraste legal com a pintura fosca do carro.

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Carros eram dos mais variados como Impreza, RX-7, Lotus Evora e Elise, Focus RS, 500 e Punto Abarth, Hachi-Roku de vários modelos, Caterhams, Fórmulas, Fusca, Camaro, um raro Sierra RS, um Lotus Cortina e Porsches de várias gerações.

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Uma coisa que me chamou a atenção foi a galera do drift chegando muitos deles junto com a família dividindo espaço com rodas e pneus dentro do carro e também no porta-malas, que vinha de tampa aberta para poder caber o macaco e mais pneus. Isso sem contar as “adequações técnicas” que eles fazem nos carros pra prender farol, parachoque e outras peças que podem se soltar em qualquer esbarrão na pista, o pessoal é bem criativo. Toyota Mark, Cresta, Chaser, Supra, vários AE 86, NIssan Silvia, Mazda Miata e mais alguns faziam parte desse grupo.

Infelizmente dessa vez não tinha nenhum VTEC  gritando pela pista, apesar de ter dois S2000 correndo eles estavam bem comportados. Outro que apareceu por lá e que muitos aqui já devem ter ouvido falar, foi o Blackbird, aquele mesmo de Wangan Midnight e enquanto não chegava a hora de entrar na pista, Nakai aguardava a sua vez “concentrando-se” para a prova:

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Os treinos tinham duração de uns 15 minutos mais ou menos, dentro desse tempo cada um andava o quanto quisesse. Os carros da RWB correram em categorias e horários diferentes. Por volta das 10:00 Nakai colocou o “Rotana” na pista e foi acelerar. Eu não imaginava que aquele carro fosse tão rápido assim, tem em torno de 600 cv e aquela asa traseira deve ser capaz de gerar down force até parado. Quatro voltas foram suficientes para fazer o melhor tempo e após isso ele voltou para os boxes.

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A área que fica em cima dos boxes tinha uma boa visão de Tsukuba e seus pouco mais de dois quilômetros, especialmente da reta principal e de boa parte do outro lado do circuito. Quando o pessoal do drift entrou na pista para os treinos também, a cobertura dos boxes ficou bem cheia. Os carros de lado nas curvas levantavam muita fumaça ,e de vez em quando alguém exagerava e acabava na área de escape ou encontrava o muro, que tinha blocos de espuma em toda sua extensão.  De repente bandeira vermelha e o treino estava interrompido, um acidente com um AE 86 danificou bastante a sua frente e voltou rebocado para a área onde estavam os carros de drift.

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Lembra quando eu disse que os caras são bem criativos? O carro apesar de bastante danificado não atingiu radiador e nenhuma peça da suspensão, logo começaram a desmontar o que estava pendurado ou quase solto e depois de alguns minutos ele estava pronto pra entrar na pista de novo. Sem para-choque dianteiro e com apenas um farol, capô amassado e algumas abraçadeiras de nylon para prender o que estava pendurado o carro estava pronto para voltar à pista. O dono do carro dava risada o tempo todo.

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Depois disso tivemos a segunda etapa dos treinos. Nakai foi de novo para a pista e acabou ficando com o segundo melhor tempo. Um Subaru Impreza com uma preparação pesada ficou com a pole, os caras estavam usando até cobertor elétrico pra aquecer os pneus do carro. A corrida prometia.

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Na etapa de Motegi, Nakai disse para os pilotos que não precisavam levar a corrida tão a sério e que eles estavam ali para se divertir, mas dessa vez foi ele que levou a corrida bem a sério. Na largada o Impreza saiu forte e chegou primeiro no fim da reta, que era bem curta, mas depois de quatro voltas Nakai assumiu a liderança e assim foi até a 12º e última volta da corrida. O Impreza ficou andando bem próximo o tempo todo, o carro era bem rápido e os dois terminaram a corrida com um bom tempo de distância dos outros carros na classificação geral. O Blackbird correu na mesma bateria e garantiu o terceiro lugar na categoria que estava disputando.

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O Subaru assim que voltou para os boxes parecia estar de cabeça quente, o pessoal da equipe ficou um bom tempo jogando água por fora do radiador e ar comprimido, que vinha da mangueira usada para calibrar pneus. Acho que não teve nenhum dano, depois ligaram o carro de novo e parecia estar tudo bem.

Antes de Nakai entrar na pista na hora da corrida, ele esqueceu que estava com o maço de cigarros no bolso do macacão e jogou pela janela do carro pedindo pra eu guardar pra ele. Assim que a corrida terminou e ele desceu do carro, a primeira coisa que ele fez foi pedir o maço de cigarro de volta, será que foi por isso que ele correu tão rápido?

Depois foi a vez do drift, que na minha opinião foi demais. Alguns carros danificados nos treinos estavam de volta na pista e durante a corrida não foi diferente. Mais alguns se acidentaram mas nenhum grave, ainda bem, alguns voltaram pra corrida e outros chegaram rebocados para fora da pista. Um carro que me chamou a atenção foi um Toyota Supra, não vi o que tinha no motor pois o tempo que o carro ficou parado estava sempre fechado, mas na pista era o motor que mais fazia barulho e parecia ser bem forte. Foi bem divertido assistir a corrida.

Logo depois veio o pódio, e na hora de entregar a garrafa de champanhe aos primeiros colocados de cada categoria. Só para variar Nakai estava fumando, mas ele chegou rápido pois a área de fumantes era bem próxima. Depois disso ficamos mais um tempo lá esperando a hora de ir embora e aí descobri outra coisa que Nakai gosta além de Porsches e cigarro: Doritos. Assim que tirei da mochila ele já falou, “I love Doritos“. Ficamos por ali mesmo todo mundo aguardando a hora de ir embora sentados no chão em meio aos carros jogando conversa fora e detonando o pacote de salgadinho.

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Antes de sair da cidade de Tsukuba e pegar a estrada de volta, fizemos uma parada rápida em um restaurante pra jantar e logo pegamos a estrada de volta para Chiba. Desta vez voltei com ele de carona no “Rotana” e vi que aquele carro era bem mais rápido do que eu imaginei. Na cidade ou mesmo na estrada em baixa velocidade é bem civilizado e até confortável. Dentro do carro só o necessário, painel, um par de bancos concha, equipamentos de segurança e nenhum revestimentos para aliviar o peso.

A turbina começa a encher em 4.000 rpm, mas enche rápido e o carro ganha velocidade com vontade. Nakai estava a uns 60 km/h em quarta, reduziu duas marchas e pisou fundo. Sabe aqueles cenas em que acionam o nitro em “Velozes e Furiosos”e o que se vê fora do carro é uma imagem borrada? Não foi exatamente o que aconteceu mas foi a imagem que veio na minha cabeça assim que a turbina encheu e o carro disparou na estrada tracionando com vontade. O carro estava com pneus slick medida 335 na traseira, tem um grip e tanto mesmo em curvas.

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As 20:00 chegamos na RWB e tinha mais gente esperando pra conhecer Nakai e sua oficina, um americano que trabalha para a Nissan e estava aqui ni Japão a serviço. Como o gerente da RWB foi embora mais cedo, ele avisou que estávamos a caminho e o americano ficou lá esperando. Saí de lá rumo a estação de trem e fui para casa e eles ficaram conversando.

Uma pergunta que me foi feita e não consegui responder a tempo da outra vez, foi se Nakai venderia um de seus Porsches. Ele disse que já recebeu diversas propostas em seus carros mas ele não vende, disse que até pode fazer um igual se o cliente quiser mas os originais ficam com ele e não vende de jeito nenhum. E tudo é feito apenas com idéias e prática do erro e acerto, ele não usa computador para nada e o resultado é positivo, os carros tem um bom desempenho em pista e são totalmente usáveis no dia a dia dentro da cidade.

Outra coisa que ele me disse e achei curioso, Nakai não gosta muito de velocidades altas. Ele até comparou o circuito de Fuji e Tsukuba dizendo que, Fuji tem uma reta muito longa onde a velocidade no final dela é bem alta, e Tsukuba é uma pista bem curta onde a média de velocidade é bem mais baixa e ele se diverte bem mais. Esse é um dos motivos que faz ele gostar de drift, hoje em dia ele não pratica mais por falta de tempo mas quando era mais novo passava as noites fazendo curva de lado no monte Tsukuba com seu Hachi Roku.

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No dia seguinte ele viajou para o Canadá, tinha um carro para montar ou talvez dois. No caminho de volta ainda faria uma parada em Hong Kong a serviço também — o cara não para. E para quem quiser ir até lá e ver isso tudo de perto, pode ir que vai ser bem recebido. Inclusive o pessoal do FlatOut ele já falou que são bem vindos. Só sugiro que mande um e-mail antes pra ver se ele está por aqui, Nakai tem viajado bastante.

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A próxima etapa parece que é dia 2 de Novembro em Motegi mais uma vez. Nakai disse que vai estar viajando mas volta apenas para a corrida e no dia seguinte viaja de volta ao EUA, onde também tem outro Porsche pra montar.

Bom esse foi o resumo de mais um dia acompanhando de perto um pouco da cultura automotiva desse lugar que me faz ficar cada vez mais um auto entusiasta, carros de todos os tipos e todos os gostos ao som de motores e pneus queimando borracha. Quer trilha sonora melhor que essa?