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Car Culture

Como foi que o Fusca chegou ao Brasil?

Não é à toa que hoje, dia 20 de janeiro, comemoramos o Dia Nacional do Fusca. O brasileiro — entusiasta ou não — é tão ligado ao Besouro que não se contentou apenas com o Dia Mundial do Fusca, que é comemorado no dia 22 de junho. Não é para menos: o Fusquinha roda por solo brasileiro há nada menos que 56 anos. E a gente decidiu que é hora de contar a história de como ele veio parar no Brasil.

Você já ouviu aquela conversa de que o primeiro Gol, de 1980, tem “motor de geladeira” ou “motor de batedeira”? Claro, é um desrespeito com o projeto do motor boxer refrigerado a ar (e, por extensão, até mesmo ao dos primeiros Porsche 356, se você for do tipo que toma dores com facilidade), mas você sabia que esta piada, por mais maldosa que seja, não é inteiramente infundada?

Isto porque, tecnicamente, o Fusca só veio para o Brasil por causa de uma empresa que, mais tarde, passaria a fabricar eletrodomésticos. Foi a Companhia Distribuidora Geral Brasmotor, ou só Brasmotor mesmo, que já fabricava veículos da Chrysler no Brasil, especialmente utilitários, desde meados dos anos 1940.

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Fundada pelo boliviano Hugo Miguel Etchenique, a Brasmotor começou suas atividades em 1945, em São Bernardo do Campo. Na época, a ideia era dedicar-se à “montagem de automóveis e caminhões”. E a Brasmotor era, de fato, uma montadora, e não uma fabricante. Os carros da Chrysler eram montados em regime CKD (Completely Knocked Down) — vinham em componentes separados, que apenas eram montados no galpão da rua Marechal Deodoro em São Bernardo do Campo/SP.

Não foi questão de acaso ou simples conveniência. No início da década de 1950 o projeto original do Fusca já se aproximava dos vinte anos de idade (leia mais aqui) e, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o então presidente da VW, Heinz Nordhoff, acreditava que a chave para reerguer a companhia depois do conflito era expandir sua atuação a outros países. E a América do Sul não estava de fora dos planos.

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A Volks enviou ao Brasil um cara chamado Friedrich Wilhelm Schultz-Wenk. Seu nome é longo mas, entre os entusiastas, é importantíssimo: foi Schultz-Wenk quem trouxe a Volkswagen (e o Fusca) para o Brasil. Isto porque foi ele que, em visita ao continente para avaliar possíveis mercados, decidiu que a Volks deveria começar a atuar aqui, e não na Argentina. Desculpem, hermanos

schultz-wenkPor que Schultz-Wenk escolheu o Brasil? Dizem que o alemão gostou da famosa “hospitalidade brasileira” — ele era um bon vivant, que gostava de festas, noitadas e de uma moça russa chamada Tatiana.

Antes disso, porém, era preciso que o Volkswagen Fusca fizesse sucesso no Brasil. Foi um processo bem, rápido: em 1949 a Brasmotor passou a ser a representante oficial da VW. Já em 1950, por insistência da Brasmotor, a Volks trouxe 30 unidades montadas do Fusca, equipadas com motor 1200, para o Porto de Santos. Todos eles foram vendidos quase imediatamente — segundo consta, pelo triplo do preço a que foram avaliados.

Com isto, já em 1951 a Brasmotor começou a montar os carros da Volks em regime CKD enquanto estabelecia a pequena rede brasileira de concessionárias da marca. Assim, em 1953, a Volkswagen chegava oficialmente ao Brasil — de início, instalada em um galpão alugado no Ipiranga, em São Paulo. Novamente, as peças chegavam importadas da Alemanha e eram montadas no Brasil. Cerca de 2.300 unidades do Fusca e quase 560 exemplares da Kombi foram fabricados desta forma.

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Esta fase não durou muito. Diante do sucesso do Fusca, logo a VW viu que precisava de uma fábrica de verdade para ele — e isso acabou acontecendo em 1956, quando a Fábrica Anchieta da Volkswagen começou a ser construída com incentivos dos governos Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

A inauguração da fábrica aconteceu em 18 de novembro de 1959, mas a Kombi já vinha sendo fabricada (totalmente nacionalizada) desde o fim de 1956. O Fusca, por outro lado, usava 24% de peças nacionais — isto até a inauguração, quando também passou a ser totalmente nacional.

Àquela altura, a Brasmotor já havia deixado de lidar com automóveis. Em meados da década de 1950, passou a importar e fabricar eletrodomésticos, criando uma nova marca de geladeiras chamada… Brastemp.