Lançado em setembro de 2011 para substituir no Brasil a segunda geração do Vectra, o Chevrolet Cruze tornou-se uma escolha popular entre os sedãs médios. Para os entusiastas ele não era um carro tão interessante, visto que substituía um projeto da alemã Opel por um carro desenvolvido por uma equipe global, liderada por engenheiros da divisão sul-coreana da GM, a Daewoo, com participação de engenheiros da Opel e da Chevrolet.
Embora não tenha conquistado os entusiastas brasileiros, saudosos pelo Vectra, de fato o Chevroler Cruze era um carro mais espaçoso, melhor acabado e mais moderno no geral. Ele também foi bem recebido em outros mercados, como os EUA (onde se enquadra como um modelo compacto) e a Austrália. E é justamente a respeito do Cruze australiano, vendido como Holden Cruze, que vamos falar hoje.
Por aqui estamos acostumados a ver o Cruze com o motor o quatro-cilindros Ecotec de 1,8 litro e 144 cv – única opção disponível para a primeira geração, vendida até meados de 2016. Mas um Cruze de arrancada com motor V8 supercharged e tração traseira, você já viu? Pois foi exatamente isto que os australianos de uma oficina chamada Hellrazor Motorsports fizeram. O vídeo abaixo dá um gostinho do que é o projeto:
Na Austrália o Cruze de primeira geração também foi vendido com o motor 1.8 Ecotec de 144 cv, além de um quatro-cilindros turbodiesel de dois litros e 161 cv. Como no Brasil, o Cruze de primeira geração foi um carro bem sucedido na Austrália, mas não exatamente popular entre os entusiastas mais old school. Tanto que os comentários dos próprios australianos na página da Hellrazor Motorsports no Facebook dizem coisas como “agora sim o Cruze ficou bacana”, “queria fazer isto no meu carro”, e outras frases nessa linha.
Mas é a empolgação falando, porque o Hellrazor Cruze, como o carro foi apelidado, é um carro de arrancada, e não um projeto de dia-a-dia. O que não o desabona de forma alguma, especialmente porque, em vez de criar um dragster com estrutura tubular, eles aproveitaram o monobloco original do Cruze, adaptando o cofre e a estrutura para receber o novo (e bem mais radical) conjunto mecânico.
O que você está vendo aí em cima é um V8 SBC (small-block Chevy) feito pela Brodix, com deslocamento de 408 pol³ (6,7 litros) e um supercharger com blower brotando para fora do capô. Naturalmente foi preciso realizar algumas modificações estruturais no sedã, em especial a fabricação de uma nova parede corta-fogo e de um túnel de transmissão feito sob medida. A transmissão escolhida foi a GM Power Glide, caixa automática de duas marchas que foi fabricada originalmente entre 1950 e 1973 e, por sua robustez e simplicidade, ainda é uma das favoritas para uso em projetos de arrancada como este.
Os australianos optaram por manter boa parte do interior – painel de instrumentos, console central, revestimentos de porta e até um pouco de isolamento acústico e térmico – no lugar. Dito isto, o banco traseiro foi removido e o quadro de instrumentos agora é digital. Também foi instalada uma célula de combustível no porta-malas.
Ao que indicam as fotos e vídeos postados na página da Hellrazor Motorsports no Facebook, o projeto é recente e ainda está em fase final de acertos. Assim, detalhes técnicos como números de potência e torque, ou mesmo tempos na drag strip, ainda não foram divulgados. Por outro lado, o vídeo abaixo mostra do que o Cruze dos caras é capaz:
Agora, não foi a primeira vez que o pessoal na Oceania chamou a atenção do mundo com um Cruze de corrida com motor V8 e tração traseira. Olha só este Cruze hatchback de track day:
Este outro projeto pertence à equipe Mitchel Racing Extreme (MRX), da Nova Zelândia. O carro foi feito para eventos de pista regionais e não é atrelado a nenhum tipo de regulamento. Sendo assim, foi feito de forma bastante radical, usando uma estrutura tubular feita sob medida e uma carroceria de Cruze hatch convertida para duas portas – o Cruze jamais foi oferecido assim. Agora, uma curiosidade: foi a Holden australiana a responsável por desenhar e desenvolver o Cruze hatch, incluindo a versão fabricada no Brasil.
O carro recebeu um V8 small block de 430 pol³ (sete litros) de competição, todo de alumínio, com carburador e pelo menos 650 cv. A transmissão é uma Holinger sequencial de seis marchas ligada às rodas traseiras por um diferencial de 9” fabricado pela própria MRX, enquanto a suspensão recebeu um sistema independente do tipo McPherson na dianteira, braços sobrepostos na traseira e amortecedores Penske ajustáveis em três níveis.
O interior é o de um carro de competição, com gaiola integrada à estrutura tubular, painel de fibra de carbono, cluster de instrumentos digital com data logger e bancos de competição. Você pode vê-lo em ação no onboard abaixo, publicado em janeiro 2016.
Chama a atenção o capricho na execução do projeto, especialmente na conversão da carroceria, que é toda de metal e teve as portas dianteiras aumentadas em 20 cm para ajustar melhor as proporções gerais. Embora, tecnicamente, este carro não seja mais um Cruze e sim uma estrutura tubular com uma bolha, é de se dar crédito aos responsáveis pela conversão da carroceria. Olhando por fora fica difícil sacar que o carro não utiliza o monobloco original.
Embora nenhum dos dois projetos tenha sido destrinchado tecnicamente por seus autores, ambos são uma amostra de que todo carro tem potencial quando se coloca dedicação e criatividade suficientes. Talvez agora você até comece a olhar o Chevrolet Cruze com outros olhos.